
Filho de uma família de retirantes nordestinos que migrou para o Sul em busca de uma vida melhor, Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o que pareceria impossível para alguém de sua origem. Tornou-se o presidente mais popular do país desde a abertura militar. Chega ao oitavo ano de mandato com um nível de aprovação girando em torno de 70% e ainda alcançou reconhecimento internacional. Fora do Brasil, Lula coleciona títulos. Na última semana, o britânico Financial Times o incluiu na lista das 50 personalidades que ajudaram a moldar a década, e o francês Le Monde o escolheu como o homem do ano.
A popularidade é tanta que há quem acredite que Lula voltará em 2014 para a Presidência, assim como Getúlio Vargas voltou em 1951, após 15 anos no poder e seis longe do comando do país. E da mesma forma como acontece com Getúlio, Lula já é considerado um mito político. Mas ainda é cedo para dizer que o presidente dividirá o espaço na história já ocupado por Getúlio e Juscelino Kubitschek. Mitos da política brasileira que ocuparam a Presidência e que, vez ou outra, são lembrados por Lula em seus discursos e com os quais ele gosta de se comparar.
"Ainda existem armadilhas. É preciso saber se a construção desse mito resistirá a uma possível derrota para a oposição e às críticas que virão à sua gestão", avalia o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Villa lembra que o mito Lula foi construído em vida e que ainda corre o risco de ser destruído.
Por enquanto, o certo mesmo é que Lula se tornou um ídolo. Na última pesquisa Datafolha, divulgada em 21 de dezembro, Lula alcançou um índice de aprovação de 72%. O maior já obtido por um presidente desde que o instituto iniciou as pesquisas de popularidade em 1990. "Acho um pouco arriscado dizer que ele é um mito. Mas é claro que Lula tem características muito particulares como presidente e já possui um lugar reservado na história do país", comenta o professor Afonso de Albuquerque, do curso de Estudos da Mídia, da Universidade Federal Fluminense.
A principal dessas características é também o ponto de partida para a popularidade de Lula e para a construção do mito. A origem social do presidente, distinta de todos os que o antecederam. "Há uma questão de identificação com o presidente. Com a forma como ele fala o português e até um jeito um pouco desastrado de se expressar. Suas virtudes e seus defeitos são também das classes mais populares e por isso é tão difícil criticá-lo", diz Albuquerque.
Sorte
Lula também conta com a sorte para se manter popular. Durante seu governo, foram seis anos de um cenário econômico internacional positivo e a crise que ameaçava quebrar o bom momento do Brasil foi menos tenebrosa do que ameaçava. "As reformas realizadas pelo governo anterior, a manutenção da política econômica e uma conjuntura favorável nos últimos seis anos ajudaram muito", afirma Marco Antonio Villa.
O historiador enxerga no fim do período militar como o momento do início da construção do mito Lula. "Ele aparaceu na estrutura sindical, no fim do período militar, como um elemento que poderia superar aquela velha ordem."



