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Divisão administrativa

Os dois lados da emancipação

Há casos de sucesso e de fracasso na criação de novas cidades no Paraná. Mato Rico está no segundo grupo, pois é totalmente dependente de recursos da União

Vista de rua de pedras em Mato Rico, na região central do Paraná: 65% dos recursos da cidade, instalada em 1993, são repassados pelo governo federal | Dirceu Portugal/ Gazeta do Povo
Vista de rua de pedras em Mato Rico, na região central do Paraná: 65% dos recursos da cidade, instalada em 1993, são repassados pelo governo federal (Foto: Dirceu Portugal/ Gazeta do Povo)

Mato Rico - O processo de emancipação ocorrido na primeira metade da década de 90 no Paraná tem casos de fracasso e de sucesso. A cidade de Mato Rico, na região central do estado, está no primeiro grupo. Já Itaipulândia, no Oeste, conseguiu se desenvolver por conta própria.

Há 18 anos, cerca de 800 moradores do distrito de Mato Rico decidiram ir às urnas com a intenção de mudar uma realidade de carência da localidade. Por 640 votos a favor e 160 contra, eles conseguiram se desmembrar de Pitanga.

A vitória, no entanto, tem um sabor amargo. Hoje, o município tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano do Paraná (IDH) e caminha a passos lentos. Os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) representaram, em 2007, cerca de 65% das receitas totais do município, segundo dados do IBGE.

A grande parte dos 4.156 moradores sobrevive de trabalhos esporádicos na pecuária e na agricultura. O comércio gera cerca de 40 postos de trabalho. A prefeitura municipal, oficialmente instalada em 1.º de janeiro de 1993, se tornou a maior empregadora do município. Tem 260 servidores e gasta grande parte do orçamento anual de R$ 8 milhões com folha de pagamento. Além de não ter indústrias, a cidade sequer possui dentista, advogado, contador ou consultório médico particular.

Mas houve alguns avanços. Antes da separação da cidade, os moradores enfrentavam dificuldades por causa da distância de 50 quilômetros entre o distrito e a sede. "Tudo era mais complicado. Segurança quase não existia, a saúde era precária e a educação capengava", lembra o comerciante Florindo Seguro Sobrinho, de 68 anos, que em 1991 era vereador por Pitanga e teve participação ativa no plebiscito.

"Votei pela emancipação pensando em uma realidade totalmente diferente, mas apenas houve a centralização dos serviços essenciais. O município cresceu em estrutura física, mas reduziu a população e não evoluiu", observa ele. Com­­­parando os dados do Censo de 2000 com a contagem da população feita pelo IBGE em 2007, Mato Rico perdeu 340 moradores. Para Sobrinho, a culpa é da falta de pavimentação da rodovia que liga Roncador a Mato Rico. "Sem asfalto, Mato Rico parou no tempo."

O comerciante Ezequiel Batista de França é mais otimista. Para ele, a emancipação trouxe autonomia. "Antes, se um morador precisasse de uma agulha tinha de viajar até Pitanga. Hoje conseguimos a mesma agulha aqui. Aos trancos e barrancos a cidade vai crescendo."

O secretário geral do município, Valdomiro Ortiz, concorda. "A emancipação foi boa para o município, pois além de centralizar os serviços, criou centenas de postos de trabalho", diz o secretário. Apesar disso, ele reconhece que o município não é independente financeiramente. "Se o governo federal reduzir drasticamente o FPM, Mato Rico acaba."

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