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Manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo: segundo Datafolha, pelo menos 450 mil pessoas passaram pelo local | Miguel Schincariol/AFP
Manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo: segundo Datafolha, pelo menos 450 mil pessoas passaram pelo local| Foto: Miguel Schincariol/AFP

Entrevistado ao vivo pela Gazeta do Povo, o cientista político André Ziegmann comentou o cenário político neste domingo de manifestações em todo o Brasil. De acordo com ele, apesar da radicalização do discurso político no país, as saídas mais prováveis para a crise fortalecem o chamado “centrão” do Congresso. Segundo ele, com as manifestações, o Congresso deve apostar na solução semipresidencialista, menos “traumática” que o impeachment.

Segundo Ziegmann, é difícil que a crise política é grave demais para que a presidente Dilma Rousseff (PT) continue governando o país com o mesmo pacto de poder hoje vigente. Entretanto, isso não significa que sua saída do cargo de presidente seja certa.

Uma solução, já aventada por setores do PMDB e do PSDB, seria a instituição de um semipresidencialismo. Neste modelo, parte do poder exercido pelo presidente seria repassado ao Congresso, na figura de um primeiro-ministro – isso existe em Portugal e na França, por exemplo.

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Hoje, já há uma comissão no Congresso estudando esta possibilidade. Para Ziegmann, seria uma saída viável para a crise – mesmo considerando que, de certa forma, se trata de um “golpe”, por mexer em regras já estabelecidas com o jogo político em andamento. Para ele, as manifestações devem acelerar o debate desta proposta no Congresso.

Ziegmann considera que o impeachment, outra opção considerada possível pelos congressistas, pode aprofundar a crise política. “Fazendo uma projeção da crise política no futuro, o impeachment pode levar à contestação do mandato de futuros presidentes eleitos”, diz.

Semipresidencialismo ou impeachment, porém, têm um efeito bastante similar para os próximos, na opinião de Ziegmann, que é o fortalecimento do “centrão” – grupo de deputados não identificados com a esquerda ou com a direita, com atuação forte no Congresso desde a redemocratização. A figura do “centrão” surgiu na Assembleia Constituinte, composto do PMDB, do PFL e de partidos menores, e existe, como bancada informal, até hoje, sendo uma das principais forças do parlamento.

No semipresidencialismo, o Congresso ganharia mais poder – e, por consequência, o “centrão”, que domina o parlamento, teria mais força política do que hoje. Já o impeachment abriria o caminho para um governo peemedebista. Além do próprio PMDB ser um dos partidos desse “centrão”, o vice-presidente Michel Temer sinaliza para um governo de coalizão – no qual os beneficiários seriam justamente esses parlamentares.

2018

Ziegmann comentou, também, sobre o possível impacto das manifestações nas eleições de 2018. Na sua opinião, o Brasil caminha para o que chama de “solução Nixon” – em referência à eleição de Richard Nixon para a presidência dos Estados Unidos em 1968. “A crise política favorece candidatos que trazem uma ideia de ordem e estabilidade, de centro-direita”, diz, identificando o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) como um possível beneficiário dessa tendência.

Com a radicalização do discurso, Ziegmann considera que candidatos radicais de direita, como Jair Bolsonaro, podem crescer bastante, passando da marca dos 10% dos votos e atraindo bancada significativa para o Congresso. Entretanto, para o cientista político, parece improvável que um candidato desse espectro político tenha força suficiente para ganhar as eleições.

Colaborou Beatriz Peccin.

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