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Reverter votos de senadores será missão árdua do grupo ligado a Dilma. | Beto Barata/Agência Senado
Reverter votos de senadores será missão árdua do grupo ligado a Dilma.| Foto: Beto Barata/Agência Senado

Ao contrário do resultado folgado do impeachment na Câmara dos Deputados, a aprovação do afastamento de Dilma Rousseff no Senado pode ter um resultado apertado na última votação. Enquanto na Câmara “sobraram” 25 votos a favor do impeachment, a votação final no Senado pode ter apenas um voto de “folga” contra a presidente Dilma, caso siga a tendência demonstrada nesta madrugada.

Para aprovar o seguimento do processo era necessária apenas a maioria simples dos votos no Senado na sessão que começou nesta quarta-feira (11), ou seja, 40 votos – descontando o presidente da Casa, que não necessariamente se posiciona. Já para a última votação, são necessários 54 votos para aprovar a cassação de Dilma. Na prática, isso significa que a presidente afastada tem chance de escapar do impeachment se conseguir reverter dois votos dos senadores - isso se mais ninguém mudar de ideia.

“É impossível [o governo reverter o resultado] porque não tem mais a máquina pública. Para de ter o Estado, para de ter moeda”

Mario Sergio Lepre cientista político

Pelo menos três senadores que votaram a favor do afastamento de Dilma na sessão dessa quarta-feira deixaram claro que o voto era apenas pela continuidade do processo. Um deles foi o senador Romário Faria (PSB-RJ), que disse que há indícios de crime de responsabilidade da presidente “que precisam ser apurados”. “Votarei pela admissão do processo do impeachment. O que votamos hoje é a possibilidade de conhecer melhor os fatos, o que faremos nos próximos meses”, disse o senador.

“Existe uma chance [de o Senado não aprovar o impeachment], mas essa chance depende muito do fracasso do Temer”

Vitor Sandes  cientista político

Edison Lobão (PMDB-MA) também fez questão de deixar claro que não estava antecipando sua decisão final ao votar favorável à continuidade do processo no Senado. “O voto que darei nesta manhã não é pelo impeachment da presidente da República, mas pelo processo de admissibilidade do processo de investigação proposto. Convém acentuar que a votação de hoje não encerra o processo, na prática autoriza o andamento dele”, disse o senador. “O voto que proferirei hoje não significará antecipação do meu julgamento na sessão final que acontecerá nos próximos meses”, concluiu Lobão.

O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) também não deixou claro que seu voto era pelo impeachment de Dilma. “Sem entrar no mérito da denúncia número 1/2016, voto pela admissibilidade do processo”, afirmou o senador, que foi o presidente da Comissão Especial do Senado que avaliou a denúncia aceita pela Câmara.

Missão difícil

Para o cientista político Mario Sergio Lepre, será difícil para o governo impedir a aprovação do impeachment. “Eu acho muito difícil por causa da governabilidade”, analisa. Além disso, o fato da presidente ter sido afastada pode atrapalhar a barganha pelos votos, segundo Lepre. “É impossível porque não tem mais a máquina pública. Eu paro de ter o Estado, eu paro de ter moeda”, explica.

Já o cientista político Vitor Sandes acredita que a votação final no Senado vai depender do desempenho de Temer. “O Senado vai decidir sobre a continuidade ou não do governo PMDB”, analisa. “Existe uma chance [de não aprovar o impeachment], mas essa chance depende muito do fracasso do Temer”, analisa.

Fator Renan Calheiros

Reverter dois votos é o primeiro passo para tentar impedir a cassação, mas existe outro fator que precisa ser levado em conta na hora do cálculo político da votação no Senado. Na sessão desta quarta-feira (11), o presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL) não votou. Se Calheiros for a favor do impeachment na última votação, o governo Dilma precisa reverter três, e não dois votos dessa quarta.

Calheiros é conhecido como um dos aliados de Dilma no PMDB, mas não conseguiu interferir no resultado no Senado. No início desta semana, resolveu ignorar a tentativa do presidente interino da Câmara Waldir Maranhão (PP-MA) de atrasar a votação e manteve o calendário proposto. Maranhão anulou - e depois revogou a própria decisão - a sessão que aprovou o impeachment na Câmara.

Mesmo tendo seguido com o processo de impeachment, Calheiros é um desafeto do presidente interino Michel Temer (PMDB-SP). Diversos desentendimentos dos companheiros de partido já vieram a público e não se sabe se o presidente do Senado vai ficar ao lado de Temer ou ao lado de Dilma na questão do impeachment.

“Ele vai se portar na direção do Michel Temer. Ele tem um tino político muito forte”, prevê Lepre. Já na opinião de Sandes, Calheiros deve optar pela abstenção. “Ele fica em uma situação delicada, porque ele perde uma parte significativa do Senado”, analisa.

Na votação dessa quarta, 22 senadores foram contra o impeachment. “Se ele se pronunciar a favor do impeachment, ele perde essa parcela”, analisa Sandes. “Por outro lado, se ele votar contra ele perde o apoio de 55 senadores”, completa.

“Ele deve se abster, ainda que ele seja muito mais próximo ao governo Dilma do que do grupo do Michel Temer”, conclui o cientista político.

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