
Pressionada por representantes da indústria e diante de um cenário econômico adverso em ano eleitoral, a presidente Dilma Rousseff quer reconstruir pontes com o setor produtivo. A estratégia é criar um fórum permanente de diálogo com empresários para reunir sugestões dos mais diversos segmentos econômicos. O objetivo final é tentar neutralizar as críticas dos industriais, amplificadas pela oposição, e pavimentar a campanha de reeleição.
O comando da campanha de Dilma estuda até a possibilidade de editar um documento específico, no segundo semestre, estabelecendo compromissos da presidente para retomar o crescimento industrial. Nos bastidores do PT, o plano é chamado de "versão 2.0" da Carta ao Povo Brasileiro, texto da campanha de Lula ao Planalto em 2002, lançado para acalmar o mercado financeiro.
Sem opções
Na semana que passou, Dilma foi obrigada a preencher a vaga de ministro do Desenvolvimento com um interino, Mauro Borges Lemos, por não encontrar um empresário de renome que quisesse assumir o posto.
A deterioração da relação do Planalto com o setor produtivo preocupa o governo e a campanha. Nos últimos dias, os desafiantes da presidente o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) fizeram coro com as queixas dos industriais e atacaram o modelo econômico atual.
Diante desse risco, o ex-presidente Lula já foi escalado para reconstruir o diálogo com o empresariado e atrair pesos pesados do PIB para a campanha de Dilma. Nos últimos meses, Lula tem recebido uma romaria de industriais a seu escritório para reclamar do "intervencionismo" do governo na economia. O ex-presidente agora vestirá o figurino de "facilitador" da reaproximação.
Na semana passada, começou a colocar o plano em execução, buscando afastar as incertezas em relação à economia brasileira. Em viagem aos Estados Unidos, Lula fez afagos a investidores internacionais: "Ninguém precisa ter medo de investir no Brasil", disse.
O presidente da empresa de alimentos Moinho Pacífico, Lawrence Pih, que liderou um comitê de empresários que apoiou a eleição de Lula em 2002, diz que não adiantam só palavras. "O governo precisa sinalizar que vai intervir menos na economia", diz. Ele elogia o ex-presidente, mas critica Dilma: "Lula é pragmático e tem capacidade de negociar. Ele pode não concordar, mas ouve. A presidente é uma economista keynesiana-socialista".



