
Oito dos 13 partidos que têm representantes eleitos ao mesmo tempo nos legislativos curitibano, paranaense e federal dão um drible na ideologia e conseguem ser governistas nas três esferas, apesar de todas serem comandadas por legendas distintas o PSB do prefeito Luciano Ducci, o PSDB do governador Beto Richa e o PT da presidente Dilma Rousseff. No cruzamento apenas entre Congresso Nacional e Assembleia Legislativa, o adesismo é ainda maior: 11 de 15 partidos são de situação. Os dados expõem a falta de autonomia entre os poderes e a dificuldade de os parlamentares assumirem o papel de fiscalização do Executivo.
Também mostram que, nos planos estadual e municipal, pouco importa a rivalidade entre petistas e tucanos em Brasília ou o embate entre socialismo e liberalismo. Das oito legendas que conciliam o governismo em qualquer nível, três são alinhadas historicamente à esquerda (PSB, PDT e PV) e três têm laços com a direita (PSD, PSC e PP). As outras duas, PRB e PSL, têm pouca identidade ideológica (estão entre os chamados "nanicos").
Alguns casos contêm particularidades. PSD e PV, apesar de fazerem um discurso independente em Brasília, quase sempre votam de acordo com os interesses do Planalto e, na prática, se tornaram parceiros mais confiáveis do que partidos oficialmente aliados. Na Assembleia, dentre 12 peemedebistas, 11 apoiam a gestão estadual do PSDB só Antonio Anibelli Neto faz oposição. Na Câmara Municipal, um verde (Paulo Salamuni) é oposicionista e o outro (Aladim Luciano) está com Ducci.
Na maioria das vezes, a atuação dos partidos nos legislativos também é oposta ao que eles defenderam durante a campanha eleitoral. O PDT é o partido de Osmar Dias, que perdeu a eleição de 2010 para Beto Richa. Os quatro deputados estaduais pedetistas, no entanto, aderiram ao tucano logo após a derrota.
"Não é questão de incoerência nenhuma. Trabalhei com ética, dedicação à campanha do Osmar. Mas também nunca tive adversidade com o Beto, muito pelo contrário", justifica o deputado estadual Augustinho Zucchi (PDT).
A situação é semelhante à do PMDB, partido que indicou os vices na chapa de Osmar (Rodrigo Rocha Loures) e na de Dilma (Michel Temer). Nada disso constrangeu os 11 parlamentares que agora estão com o PSDB. "Para falar a verdade quase não há ligação nenhuma entre nossos deputados estaduais e federais [que apoiam Dilma]", conta o deputado Osmar Serraglio (PMDB), que é vice-líder do governo na Câmara Federal.
Já o deputado estadual Reni Pereira, do PSB de Ducci, afirma que o sistema federativo colabora para a situação. "Cada vez mais as questões locais são relevantes para as decisões das cúpulas dos partidos. É algo natural", diz o parlamentar, que deve ser candidato a prefeito de Foz do Iguaçu em 2014 e espera pelo apoio tanto do PT quanto do PSDB.
Pré-candidato em Curitiba, o deputado federal Ratinho Júnior (PSC) está em uma situação parecida. Ao mesmo tempo em que cobra o apoio dos petistas, o seu partido dá suporte a Beto Richa e a Ducci, que vai concorrer à reeleição. "O parlamentar tem que ter uma certa independência para fazer o que é melhor para o trabalho dele", diz Ratinho, que defende autonomia nas alianças regionais.



