• Carregando...
 |
| Foto:

Análise

Especialista vê diferença entre "siglas" e "partidos"

O cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) afirma que a atração pelo governismo é provocada pela fragilidade partidária. "Existem no Brasil partidos que são uns três ou quatro e siglas, que ficam gravitando em torno desses partidos", opina.

Segundo o cientista político, a lógica regional sempre teve peso no sistema político brasileiro e explica as incoerências ideológicas.

Cervi também destaca que o adesismo dos parlamentares enfraquece o poder de barganha do Legislativo na relação entre os três poderes. "O Legislativo tem cada vez mais se transformado em uma espécie de subpoder", afirma.

Para o cientista político, o parlamento está espremido entre a subserviência ao Executivo e, ao mesmo tempo, às decisões "legisladoras" do Judiciário – como aconteceu recentemente nos julgamentos sobre nepotismo, ficha limpa e união homoafetiva.

Oposições não chegam a um quinto das vagas

A representatividade da oposição é similar nos legislativos municipal, estadual e federal e em nenhum caso supera um quinto das cadeiras. As maiorias esmagadoras permitem que os governos aprovem propostas com facilidade, inclusive emendas constitucionais (no caso da Assembleia e do Congresso), que precisam dos votos de três quintos dos parlamentares para serem aprovadas.

A situação mais confortável é a do governador Beto Richa, que têm o apoio de 46 deputados (85% do total de 54). A proporção fez com que um estudo recente feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descrevesse a Assembleia como o principal fator de risco de corrupção no Paraná. "A atração do governo sobre partidos e parlamentares mina a possibilidade de fiscalização", diz o material, assinado por Bruno Speck e Valeriano Mendes Ferreira, do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp.

Pela lógica, o mesmo alerta pode ser considerado válido para Brasília e Curitiba. Atualmente, dos 594 deputados federais e senadores, 490 (82%) são governistas. Já na Câmara Municipal de Curitiba, dos 38 nomes, 32 (84%) são aliados do prefeito Luciano Ducci.

Oito dos 13 partidos que têm representantes eleitos ao mesmo tempo nos legislativos curitibano, paranaense e federal dão um drible na ideologia e conseguem ser governistas nas três esferas, apesar de todas serem comandadas por legendas distintas – o PSB do prefeito Luciano Ducci, o PSDB do governador Beto Richa e o PT da presidente Dilma Rousseff. No cruzamento apenas entre Congresso Nacional e Assembleia Legis­­la­­tiva, o adesismo é ainda maior: 11 de 15 partidos são de situação. Os dados expõem a falta de autonomia entre os poderes e a dificuldade de os parlamentares assumirem o papel de fiscalização do Executivo.

Também mostram que, nos planos estadual e municipal, pouco importa a rivalidade entre petistas e tucanos em Brasília ou o embate entre socialismo e liberalismo. Das oito legendas que conciliam o governismo em qualquer nível, três são alinhadas historicamente à esquerda (PSB, PDT e PV) e três têm laços com a direita (PSD, PSC e PP). As outras duas, PRB e PSL, têm pouca identidade ideológica (estão entre os chamados "nanicos").

Alguns casos contêm particularidades. PSD e PV, apesar de fazerem um discurso independente em Brasília, quase sempre votam de acordo com os interesses do Planalto e, na prática, se tornaram parceiros mais confiáveis do que partidos oficialmente aliados. Na Assembleia, dentre 12 peemedebistas, 11 apoiam a gestão estadual do PSDB – só Antonio Anibelli Neto faz oposição. Na Câmara Municipal, um verde (Paulo Salamuni) é oposicionista e o outro (Aladim Luciano) está com Ducci.

Na maioria das vezes, a atuação dos partidos nos legislativos também é oposta ao que eles defenderam durante a campanha eleitoral. O PDT é o partido de Osmar Dias, que perdeu a eleição de 2010 para Beto Richa. Os quatro deputados estaduais pedetistas, no entanto, aderiram ao tucano logo após a derrota.

"Não é questão de incoerência nenhuma. Trabalhei com ética, dedicação à campanha do Osmar. Mas também nunca tive adversidade com o Beto, muito pelo contrário", justifica o deputado estadual Augustinho Zucchi (PDT).

A situação é semelhante à do PMDB, par­­tido que indicou os vi­­ces na chapa de Os­­mar (Rodrigo Rocha Lou­­res) e na de Dilma (Michel Temer). Nada disso constrangeu os 11 parlamentares que agora estão com o PSDB. "Para falar a verdade quase não há ligação nenhuma entre nossos deputados estaduais e federais [que apoiam Dil­­ma]", conta o deputado Osmar Serraglio (PMDB), que é vice-líder do governo na Câmara Federal.

Já o deputado estadual Reni Pereira, do PSB de Ducci, afirma que o sistema federativo colabora para a situação. "Cada vez mais as questões locais são relevantes para as decisões das cúpulas dos partidos. É algo natural", diz o parlamentar, que deve ser candidato a prefeito de Foz do Iguaçu em 2014 e espera pelo apoio tanto do PT quanto do PSDB.

Pré-candidato em Curitiba, o deputado federal Ratinho Júnior (PSC) está em uma situação parecida. Ao mesmo tempo em que cobra o apoio dos petistas, o seu partido dá suporte a Beto Richa e a Ducci, que vai concorrer à reeleição. "O parlamentar tem que ter uma certa independência para fazer o que é melhor para o trabalho dele", diz Ratinho, que defende autonomia nas alianças re­­gionais.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]