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Manifestação realizada em junho de 2008 pelas Mães de Maio, grupo argentino que se reúne hoje com Dilma | Alejandro Pagni / AFP
Manifestação realizada em junho de 2008 pelas Mães de Maio, grupo argentino que se reúne hoje com Dilma| Foto: Alejandro Pagni / AFP

Na entrevista para os jornais argentinos publicada neste final de semana, Dilma Rousseff (PT) reafirmou que não fará concessões na área de direitos humanos, e disse que o Brasil ainda tem dívidas a respeito disso. "Não tenho problema em dizer se algo vai mal por lá, ou por aqui também". Ela admitiu ainda que teve uma divergência com o Itamaraty na questão. "Não vou negociar os diretos humanos, digo que não haverá concessões nesse tema."

Sobre as tensões entre o Brasil e os Estados Unidos por causa da questão iraniana, Dilma indicou que, para ela, o caso é página virada. "Tivemos uma boa experiência nos últimos anos [com os EUA] e também tivemos diferenças de opinião. Mas, o que importa é perceber que esta é uma sociedade que tem um horizonte de desenvolvimento muito grande", disse. Mesmo criticando a condenação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani por apedrejamento, Dilma lembrou, porém, que os EUA também tiveram problemas com os direitos humanos com os casos de Abu Ghraib e Guantánamo. "Muitas vezes, utilizam os direitos humanos não para nos protegermos, mas para fazer política, para usá-los como instrumento político."

Sobre Cuba, a presidente avaliou que o partido deu um passo para frente ao libertar prisioneiros políticos.

"Mas, é preciso respeitar o tempo deles. A política se faz em condições de determinada temporalidade. Em Cuba, há um processo de transformação." Para a presidente, as violações dos direitos humanos devem ser discutidas amplamente e não tratadas apenas como problema de um país.

Mães e avós

Sempre cautelosa nos debates sobre ditadura, Dilma, ex-torturada, tem encontro marcado hoje com as líderes das organizações das Mães e Avós da Praça de Maio. A expectativa é que ela ganhe um lenço, símbolo das representantes das duas entidades que cobram o julgamento dos responsáveis por sequestros, torturas e assassinatos de civis durante o regime militar argentino (1976-1983).

Dilma pediu aos organizadores da viagem que o encontro fosse discreto. A presidente temia que sua viagem à Argentina se transformasse numa viagem à história do Brasil, encenando um "acerto de contas", disseram diplomatas. Ela retirou da agenda uma visita à Escola de Mecânica da Armada (ESMA), atualmente um centro de memória da ditadura argentina, onde cerca de 5 mil civis foram torturados.

Diferentemente da colega Cristina Kirchner, que fez dos julgamentos a torturadores bandeira de governo, Dilma procurou se afastar do tema ao longo de sua trajetória pública. Durante a ditadura no Brasil, ela entrou para a guerrilha, foi detida e ficou presa de 1970 a 1972. Poucos anos depois, em 1976, militares deram golpe de Estado na Argentina. A então estudante de direito de Buenos Aires Cristina Kirchner e seu marido, Néstor, não participaram da luta armada. Assustados, os dois mudaram-se para a província de Néstor, Santa Cruz, na PatagôniaCristina nunca assinou um habeas corpus para prisioneiros do regime. A então advogada prosperou executando hipotecas. Há poucos anos, assessores chegaram a criar um passado "romântico" da presidente, sugerindo que ela foi detida por "alguns dias".

O encontro de Dilma com os grupos de direitos humanos ocorreria na Casa Rosada, sede do governo argentino. As Mães e Avós da Praça de Maio já homenagearam outros chefes de governo que, no passado, foram torturados, como a chilena Michelle Bachelet (no início do regime militar do general Augusto Pinochet) e José Mujica, do Uruguai, ex-guerrilheiro tupamaro preso durante 12 anos.

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