Os pilotos do jato Legacy que se chocou com o avião da Gol, provocando o maior acidente da história da aviação brasileira, atuaram com negligência em parte do vôo entre São José dos Campos (SP) e Manaus (AM), segundo entendimento do delegado federal Ramon de Almeida. Nesta quarta-feira, ele apresentou o relatório parcial das investigações sobre a causa da tragédia, que ocorreu no dia 29 de setembro e deixou 154 mortos. Ao contrário do que se esperava, o delegado ainda não indiciou os controladores de vôo que atuavam no dia do desastre. A conclusão sobre a negligência é decorrente do cruzamento de informações entre os diálogos da tripulação registrados nas caixas pretas e os dados registrados pelo serviço do controle aéreo.
- Os diálogos dos pilotos são esclarecedores sobre as circunstâncias do vôo do Legacy - afirmou o superintendente da PF em Mato Grosso Daniel Lorenz, explicando que os diálogos são mantidos em sigilo por determinação judicial.
Os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Palladino foram indiciados no último dia 8 pelo crime de expor a perigo uma embarcação ou aeronave culposamente (sem intenção), agravado pela morte. Segundo a PF, eles foram negligentes porque deixaram de agir como previam os manuais de vôo, embora sejam peritos na área.
Apesar de o delegado Lorenz não confirmar, investigadores que atuam no caso afirmam que os pilotos só teriam percebido que o transponder (equipamento que permite a comunicação precisa com radares) estava desligado após o choque com o avião da Gol.
Lorenz não quis fazer qualquer comentário sobre a situação dos controladores de vôo, apenas afirmou que nos próximos dias deverá haver indiciamento de outras pessoas no caso. O delegado Ramon de Almeida ainda vai ouvir outros controladores, inclusive os que estavam na torre de Manaus no dia do acidente. O avião da Gol havia partido da capital amazonense com destino a Brasília.
O relatório tem apenas três páginas, segundo Daniel Lorenz, e faz um resumo do que foi investigado até agora, além de enumerar as 17 pessoas ouvidas no inquérito entre elas três controladores, Lepore e Paladino.
O documento tem as transcrições das conversas dos pilotos do Legacy e a representação gráfica dos dados retirados da caixa-preta. No final, pede a prorrogação do inquérito. O superintendente da PF acredita que as investigações só serão concluídas no final de janeiro.
Nos próximos 30 dias o delegado Ramon Almeida vai fazer uma representação gráfica de todos os momentos da viagem do Legacy, relacionando dados do vôo com os diálogos na cabine.
- É quase como uma reconstituição gráfica de todo o vôo - explicou Lorenz.
Segundo o superintendente, tal reprodução será usada para "robustecer" os indícios contra os pilotos.
Até as 18h desta quarta, o juiz Charles Frazão de Moraes, de Sinop (MT), ainda não havia se pronunciado sobre o pedido de prorrogação do inquérito.



