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Curitiba – Passados 80 dias desde a instalação da CPI dos Correios – a primeira do trio que monopoliza as atenções da mídia nacional –, a questão central no atual momento é: qual será o resultado concreto de tantas investigações, recheadas de toneladas de documentos, depoimentos intermináveis e acusações recíprocas entre parlamentares? De uma certa maneira, o fiel da balança pode estar nas mãos do deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do processo contra Roberto Jefferson (PTB-RJ) – o primeiro que pode realmente chegar às vias de fato.

Inicialmente marcado para a última quinta-feira, o voto do relator deverá ser proferido amanhã, dando o tom sobre o que se poderá esperar da horda investigatória que inclui três CPIs – Correios, Mensalão e Bingos –, o Conselho de Ética e a Corregedoria da Câmara. Obviamente o população espera um parecer favorável à cassação. Votar em contrário significaria um custo político arrasador para um parlamentar praticamente desconhecido como Jairo Carneiro. Por outro lado, recomendando a cassação, certamente o deputado não escapará das críticas daqueles que compraram a idéia da corajosa personagem de Jefferson, que teve brios para "abrir o jogo".

Mesmo sendo uma decisão exclusiva do Conselho de Ética, para o grande público, a decisão sobre Jefferson irá respingar nas atividades das três CPIs, pois o eventual sentimento de tudo "terminou em pizza" sem dúvida superaria as sutilezas regimentais que separam atribuições no Congresso Nacional. Reservadamente, há membros da CPI dos Correios que apostam que apenas Jefferson e o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) serão cassados – no melhor estilo do árbitro de futebol que, no momento da confusão, expulsa um de cada time para pôr ordem na casa. Isso, segundo esses cautelosos parlamentares, significaria uma resposta à opinião pública e, ao mesmo tempo, protegeria os demais, partindo do pressuposto que, olhando bem de perto, são raros aqueles que possuem um passado absolutamente imaculado.

Ao chamar para si a responsabilidade sobre as denúncias sobre caixa 2, para tentar proteger alguns parlamentares, os partidos podem se complicar ainda mais. No caso do PT, se comprovada a existência de caixa 2 nas últimas eleições, o partido corre o risco de ter seu registro cancelado na Justiça Eleitoral, ou de perder os recursos do fundo partidário. "Imagine se o presidente Lula ficasse sem partido?", questiona um dos membros da CPI. "Ou mesmo, o que seria do PT se perdesse o repasse de R$ 40 milhões?"

Apesar do risco, a punição do partido é a menos provável, pois as pessoas tendem a personificar os sentimentos – sejam de aprovação ou de repúdio. A punição contra as pessoas é muito mais palpável. Como uma vez disse o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), "as pessoas querem ver sangue".

Assim, um par de cassações pode não ser suficiente. Após a revelação de um esquema de corrupção que envolve parlamentares, ministros, lideranças de partidos, tesoureiros, publicitários, secretárias e ex-mulheres, com detalhes que nem os mais criativos roteiristas de ficção poderiam imaginar, a resposta precisa ser mais convincente. Não é razoável que o maior escândalo dos últimos tempos termine em pizza. Tamanho extra grande, claro.

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