
O Palácio do Planalto comandou ontem uma operação de blindagem do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (PT), alvo da revelação, no fim de semana, de que teve seu patrimônio aumentado em 20 vezes nos últimos quatro anos saltando de R$ 375 mil em 2006 para R$ 7,5 milhões em 2010, algo incompatível com seus rendimentos de deputado federal, cargo que ocupou no período e no qual ganhou R$ 974 mil em salários.
A estratégia do Planalto foi prestigiar o ministro e informar que Palocci já deu esclarecimentos ao governo e que o patrimônio foi obtido por meio de trabalhos feitos pelo ministro em sua empresa de consultoria, a Projeto. E que, por razão de sigilo profissional, essas empresas que o contrataram não podem ser identificadas. Portanto, não haveria mais nada a questionar e a dizer.
À risca
O roteiro da "operação abafa" foi seguido à risca pelo presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Sepúlveda Pertence; pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho; e pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão. Até mesmo o presidente Lula foi chamado para se reunir com Falcão para afinar o discurso oficial em defesa de Palocci considerado o principal articulador político da presidente Dilma Rousseff.
Sepúlveda Pertence disse que, antes de assumir o cargo de ministro, Palocci o consultou informalmente e à Comissão de Ética para falar sobre a empresa Projeto. Foi aconselhado a mudar o contrato da empresa, transformando a consultoria em uma mera administradora dos imóveis de Palocci.
O patrimônio de Palocci foi discutido na reunião da comissão, que durou mais de três horas e meia. Mas segundo Pertence, a comissão apenas "passou os olhos" sobre o assunto. "Não nos cabe indagar a história da fortuna dos pobres e dos ricos que se tornaram ministro", afirmou Pertence, ao final da reunião.
Sem conflito
Ao ser lembrado que o patrimônio foi adquirido durante o tempo que era deputado federal e questionado se não havia nisso conflito de interesses, Pertence declarou que só se houver uma denúncia concreta de falsidade nas declarações que Palocci prestou à Comissão de Ética, ao tomar posse como ministro, é que poderá ser tomada alguma medida. Segundo Pertence "não há matéria a ser examinada pela comissão".
Indagado sobre o crescimento patrimonial do ministro, enquanto era deputado, Pertence respondeu que esse é um problema a ser discutido e analisado, mas que não cabe à comissão indagar como cada ministro chegou ao patrimônio que revela ao tomar posse. "Vocês mesmo [jornalistas] vão se encarregar, vão futricar em torno disso, bastante. E, se chegar alguma coisa que envolva falsidade ou crime, aí é que poderia entrar na comissão", disse. Para Pertence, como Palocci já encerrou a empresa de consultoria, ele não tem a obrigação de revelar à comissão os nomes de seus clientes.
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou, que para o governo, o assunto envolvendo Palocci está encerrado e "a Comissão de Ética limpou o terreno". "A Comissão de Éticafez um pronunciamento claríssimo e ela tem sido muitorigorosa. A Comissão de Ética não brinca em serviço", disse Carvalho. Perguntado se Palocci deveria ir ao Congresso falar sobre a questão, como pede a oposição, Carvalho disse: "Não vejo necessidade de ir ao Congresso". Carvalho disse ainda que não compete ao governo investigar se um ministro foi incompetente e não acumulou riqueza ou se outro acumulou riqueza ao longo do tempo.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi na mesma linha: "Nada mais há a dizer sobre esse tema que está suficientemente esclarecido". Nas fileiras do PT, no entanto, não houve defesa incondicional de Palocci. A multiplicação por 20 do patrimônio de Palocci intrigou alguns petistas mais independentes. Os senadores Walter Pinheiro (BA) e Eduardo Suplicy (SP) disseram esperar que o ministro dê mais detalhes sobre sua atuação empresarial. "Se ele tem os documentos, o material que diz ter, então deve divulgar e acabar logo com isso", observou Pinheiro.
Oposição dividida
Apesar disso, a oposição mostrou que está dividida. Enquanto líderes do DEM e do PPS anunciaram ontem a intenção de convocar o ministro para prestar esclarecimentos no Congresso, o PSDB falou em "convidá-lo" pela convocação, Palocci obrigatoriamente tem de ir ao Parlamento, o que não é o caso do convite. DEM e PPS também vão pedir que a Procuradoria-Geral da República investigue o ministro.
Além disso, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), ex-candidato à Presidência pelo PSDB, saiu ontem em defesa de Palocci. Para Serra, não se pode "crucificar" o ministro. A ação moderada do PSDB não é nova em relação a Palocci. O ministro goza de bom trânsito com lideranças tucanas.
Interatividade
O ministro deveria explicar como conseguiu multiplicar por 20 seu patrimônio em apenas 4 anos? Por quê?
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