• Carregando...
Palocci e Dilma: presidente teria ficado satisfeita com as explicações do ministro sobre a evolução patrimonial | Evaristo Sá/AFP
Palocci e Dilma: presidente teria ficado satisfeita com as explicações do ministro sobre a evolução patrimonial| Foto: Evaristo Sá/AFP

Dilma sabia da empresa do ministro; OAB pede explicação

A presidente Dilma Rousseff tinha conhecimento da empresa de consultoria do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, e também da consulta que Palocci fez à Comissão de Ética Pública da Presidência da República antes de assumir o cargo de ministro. Segundo fontes do governo, a avaliação do Planalto é de que está tu­­do legal.

Ainda assim, a notícia de que Palocci aumentou seu patrimônio 20 vezes em quatro anos, veiculada pelo jornal Folha de S.Paulo no último domingo, foi tema de uma reunião de ministros ontem pela manhã com a presidente Dilma Rousseff. O Planalto avaliou que o único empecilho seria a repercusão política, porque dentro do Planalto, na relação da presidente Dilma com o ministro Palocci, estaria tudo esclarecido.

OAB

Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcanti, disse que a instituição está "perplexa" com a evolução patrimonial de Antonio Palocci. Ophir ressaltou que, ao contrário do que o governo alega, o ministro deve explicações à sociedade.

"Não é razoável que uma pessoa que exerce um cargo de deputado federal, de ministro de Estado, enfim um servidor público, tenha um vertiginoso crescimento do seu patrimônio da noite para o dia", disse Ophir. "Isso exige explicações, exige cada vez mais esclarecimentos para que a sociedade possa saber quem é quem e se essa pessoa tem culpa no cartório."

Das agências

Evolução

O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, multiplicou por 20 seu patrimônio entre 2006 e 2010, quando era deputado federal

Julho de 2006

Candidato a deputado federal, declara bens no valor de R$ 375 mil. Neste mesmo mês, funda a Projeto, empresa de consultoria.

Outubro de 2006

Palocci é eleito deputado.

Dezembro de 2009

A Projeto compra um escritório por R$ 882 mil, para onde se muda.

Novembro de 2010

A Empresa adquire um apartamento por R$ 6,6 milhões.

Dezembro de 2010

Quatro dias antes de Palocci assumir a Casa Civil, empresa passa a se chamar Projeto Administração de Imóveis, e deixa de ser uma consultoria.

Janeiro de 2011

Palocci assume a Casa Civil, com um patrimônio de cerca de R$ 7,5 milhões.

O Palácio do Planalto comandou ontem uma operação de blindagem do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (PT), alvo da revelação, no fim de semana, de que teve seu patrimônio aumentado em 20 vezes nos últimos quatro anos – saltando de R$ 375 mil em 2006 para R$ 7,5 milhões em 2010, algo incompatível com seus rendimentos de deputado federal, cargo que ocupou no período e no qual ganhou R$ 974 mil em salários.

A estratégia do Planalto foi prestigiar o ministro e informar que Palocci já deu esclarecimentos ao governo e que o patrimônio foi obtido por meio de trabalhos feitos pelo ministro em sua empresa de consultoria, a Pro­­jeto. E que, por razão de sigilo profissional, essas empresas que o contrataram não podem ser identificadas. Portanto, não haveria mais nada a questionar e a dizer.

À risca

O roteiro da "operação abafa" foi seguido à risca pelo presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da Re­­­pública, Se­­púlveda Per­­­tence; pelo ministro-chefe da Se­­­cretaria Geral da Pre­­­sidência da República, Gil­­­berto Car­­valho; e pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão. Até mesmo o presidente Lula foi chamado para se reunir com Fal­­­cão para afinar o discurso oficial em defesa de Palocci – considerado o principal articulador político da presidente Dilma Rousseff.

Sepúlveda Pertence disse que, antes de assumir o cargo de ministro, Palocci o consultou informalmente e à Comissão de Ética para falar sobre a empresa Projeto. Foi aconselhado a mudar o contrato da empresa, transformando a consultoria em uma mera administradora dos imóveis de Palocci.

O patrimônio de Palocci foi discutido na reunião da comissão, que durou mais de três horas e meia. Mas segundo Pertence, a comissão apenas "passou os olhos" sobre o as­­­sunto. "Não nos cabe indagar a história da fortuna dos pobres e dos ricos que se tornaram ministro", afirmou Pertence, ao final da reunião.

Sem conflito

Ao ser lembrado que o patrimônio foi adquirido durante o tempo que era deputado federal e questionado se não havia nisso conflito de interesses, Pertence declarou que só se houver uma denúncia concreta de falsidade nas declarações que Palocci prestou à Comissão de Ética, ao tomar posse como ministro, é que poderá ser tomada alguma medida. Segundo Pertence "não há matéria a ser examinada pela comissão".

Indagado sobre o crescimento patrimonial do ministro, en­­­quanto era deputado, Pertence respondeu que esse é um problema a ser discutido e analisado, mas que não cabe à comissão indagar como cada ministro chegou ao patrimônio que revela ao tomar posse. "Vocês mesmo [jornalistas] vão se encarregar, vão futricar em torno disso, bastante. E, se chegar alguma coisa que envolva falsidade ou crime, aí é que poderia entrar na comissão", disse. Para Pertence, como Palocci já encerrou a empresa de consultoria, ele não tem a obrigação de revelar à comissão os nomes de seus clientes.

O ministro-chefe da Se­­­cretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Car­­­valho, afirmou, que para o governo, o assunto envolvendo Palocci está encerrado e "a Comissão de Ética limpou o terreno". "A Comissão de Éticafez um pronunciamento claríssimo e ela tem sido muitorigorosa. A Comissão de Ética não brinca em serviço", disse Carvalho. Perguntado se Palocci deveria ir ao Congresso falar sobre a questão, como pede a oposição, Carvalho disse: "Não vejo necessidade de ir ao Congresso". Carvalho disse ainda que não compete ao governo investigar se um ministro foi incompetente e não acumulou riqueza ou se outro acumulou riqueza ao longo do tempo.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi na mesma linha: "Nada mais há a dizer sobre esse tema que está suficientemente esclarecido". Nas fileiras do PT, no entanto, não houve defesa incondicional de Palocci. A multiplicação por 20 do patrimônio de Palocci intrigou alguns petistas mais independentes. Os senadores Walter Pinheiro (BA) e Eduardo Suplicy (SP) disseram esperar que o ministro dê mais detalhes sobre sua atuação empresarial. "Se ele tem os documentos, o material que diz ter, então deve divulgar e acabar logo com isso", observou Pinheiro.

Oposição dividida

Apesar disso, a oposição mostrou que está dividida. Enquanto líderes do DEM e do PPS anunciaram ontem a intenção de convocar o ministro para prestar esclarecimentos no Congresso, o PSDB falou em "convidá-lo" – pela convocação, Palocci obrigatoriamente tem de ir ao Par­­­­lamento, o que não é o caso do convite. DEM e PPS também vão pedir que a Procuradoria-Geral da República investigue o ministro.

Além disso, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), ex-candidato à Presidência pelo PSDB, saiu ontem em defesa de Palocci. Para Serra, não se pode "crucificar" o ministro. A ação moderada do PSDB não é nova em relação a Palocci. O ministro goza de bom trânsito com lideranças tucanas.

Interatividade

O ministro deveria explicar como conseguiu multiplicar por 20 seu patrimônio em apenas 4 anos? Por quê?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]