Empresas paranaenses aparecem em quebra de sigilo de contas investigadas
Além de receber depósitos de R$ 800 mil da JBS, as contas bancárias da empresa"Gilson M. Ferreira Transporte ME", sediada em São José dos Pinhais e considerada como de fachada pela Polícia Federal (PF), também movimentaram recursos ligados a estabelecimentos paranaenses: um bar de Maringá e um frigorífico de Colorado.
A quebra de sigilo das contas mostra que o bar maringaense "Favela do Portuga" efetuou três depósitos em uma das contas investigadas, somando R$ 671,1 mil. O aporte é o terceiro maior que aparece na planilha, atrás apenas do da JBS e de uma construtora de Goiânia.
O bar pertence à Gustavo Caetano, filho de Fernando Caetano, ex-proprietário do frigorífico Naviraí -- que foi sucedido pelo frigorífico Torlim, que depois passou a fazer parte da JBS. A reportagem tentou entrar em contato com os responsáveis pelo estabelecimento várias vezes. O gerente do bar se negou a falar e desligou o telefone três vezes.
Além disso, o frigorífico VPR Brasil, um dos maiores do estado, de Colorado, recebeu R$ 226,4 mil oriundos de duas transferências de uma das contas investigadas. A VPR nega ter feito negócios com a empresa investigada e diz que já prestou esclarecimentos à PF. Segundo a empresa, os depósitos entraram na conta da VPR sem identificação. O diretor do frigorífico, Ronaldo Ferreira Martins, afirma que aguarda orientações da PF sobre o que fazer com o dinheiro.
Em nota divulgada à imprensa, a JBS rechaçou que tenha tido participação no esquema da Lava Jato e informou que os depósitos eram referentes a "contrato de aquisição da unidade industrial em Ponta Porã (MS), um Centro de Distribuição em São José dos Pinhais (PR) e um Centro de Distribuição em Itajaí (SC)". Segundo a JBS, "os pagamentos referentes à aquisição foram feitos nas contas bancárias indicadas pelos vendedores".
De acordo com a PF, o dono da "Gilson M. Ferreira Transporte ME" se mudou há cinco anos e os vizinhos desconhecem a existência do negócio.
Documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) colocam a JBS, dona da Friboi, nas investigações da Operação Lava Jato. Uma planilha encontrada no computador do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa indica que ele firmou contrato para serviços de consultoria para o Grupo J&F, controlador da JBS.
Também foram detectados depósitos de R$ 800 mil do frigorífico em duas contas de uma empresa de fachada ligada ao doleiro Carlos Habib Charter, preso em Curitiba desde março. Maior indústria de carnes do mundo, a JBS foi a maior financiadora de campanhas eleitorais no ano passado, com R$ 352 milhões em doações.
Os depósitos da JBS apareceram na quebra de sigilo da empresa "Gilson M. Ferreira Transporte ME", sediada em São José Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Além da JBS, outros empreendimentos do Paraná apareceram nas movimentações bancárias suspeitas (leia ao lado).
Até agora, sabia-se que o J&F havia sido procurado por Costa, em 2012, para que o grupo comprasse uma prestadora de serviços da Petrobras, a Astromarítima, que aluga embarcações para exploração de petróleo no mar. Em abril de 2014, o J&F disse que o negócio não prosperou. Costa atuava como consultor da Astromarítima, num pré-contrato com comissão de 5% no caso de o negócio ser fechado.
A planilha encontrada no computador indica que um dos contratos em vigor era com a J&F. O contrato é de dezembro de 2012, tinha validade de cinco anos e previa pagamento de 2,5% de comissão nos negócios fechados.
Não há indicação, na planilha, sobre o motivo da consultoria. O grupo J&F diz que eram negociações para a compra da Astromarítima.
A PF também encontrou anotações na agenda de Costa que citam como os valores supostamente recebidos do J&F seriam divididos. Há a sugestão de que parte do dinheiro seria devolvida ao grupo controlador da Friboi.
Na agenda, a PF achou pelo menos três registros dos negócios envolvendo os nomes "J&F". Em uma delas, Costa anotou "J&F 29/10/12". Ao analisar a anotação manuscrita, os agentes escreveram: "indica ser Grupo JBS - Friboi e Banco Original [banco que pertence ao grupo]".
Logo abaixo estão anotados porcentuais que, para a PF, são as comissões dos envolvidos. "Success fee 3% J&F 3% empresa". Ao lado está anotado "75% Paulo 25% Franklein". "Franklein" é, segundo os investigadores, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, executivo da OAS preso em novembro por suspeita de integrar o cartel que abastecia o esquema de corrupção e propina na Petrobras.
À PF, Medeiros negou atos ilícitos. O J&F nega que tenha fechado contrato com Costa e que tenha feito pagamentos a ele.
Bolsa
Após a revelação das suspeitas sobre a JBS em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, as ações da empresas tiveram uma das quedas mais expressivas na Bolsa nessa segunda-feira (5): 2,16%. Durante o dia, a JBS chegou a cair até 5,45%, mas amenizou a perda pela tarde.
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