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A polícia indiciou quatro pessoas pelo roubo de obras de arte de bibliotecas públicas de São Paulo e do Rio de Janeiro e pode indiciar por receptação os sócios da livraria Carioca Babel Livros e o leiloeiro Raul Barbosa. A livraria e o leiloeiro seriam responsáveis pela venda das obras. Segundo o delegado Fernando Gomes Pires, da 1ª Seccional de Polícia de São Paulo, a livraria recebia as obras roubadas de um ex-estagiário da Biblioteca Mário de Andrade e programava os leilões de venda das peças. De acordo com a polícia, a livraria funcionava como o elo final da quadrilha que dilapidava o patrimônio artístico público e sabia que o produto era roubado.

A Babel Livros funciona na Praça da Bandeira, na região central do Rio de Janeiro. Desde o mês passado, quando as investigações começaram, a polícia conseguiu recuperar 75 obras roubadas. São 14 peças da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, 49 gravuras de plantas e pássaros da Biblioteca do Museu Nacional do Rio de Janeiro, uma peça da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, um livro do Instituto Agronômico de São Paulo, em Campinas, um manuscrito de 1791 do Instituto de História e Geografia de São Paulo (carta de Dona Maria Primeira, conhecida como Maria Louca) e nove gravuras de um atlas de 1712 roubadas da biblioteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

Todos os acusados respondem ao processo em liberdade. Foram indiciados o porteiro paulista Erivaldo Tadeu dos Santos Nunes. Na casa dele, em Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, a polícia encontrou 61 peças roubadas. Também foram indiciados José Camilo dos Santos, recuperador de obras de arte da biblioteca Mário de Andrade e o ex-estagiário Ricardo Pereira Machado. O quarto acusado é Laéssio Rodrigues Pereira, sócio de Ricardo em uma banca de livros usados que ficava bem em frente à Biblioteca Mário de Andrade, na Rua Xavier de Toledo. A polícia chegou até a casa do porteiro, onde estavam 61 obras, por meio de uma denúncia anônima.

Segundo o delegado, a participação da livraria foi descoberta depois que um colecionador confirmou que comprou o livro O Guarani, de José de Alencar, em um leilão realizado na Babel. Pagou por ele R$ 5.750. Os sócios da livraria argumentam que não sabiam que as obras eram roubadas.

Para o delegado, no entanto, os donos da Babel são suspeitos de integrar o bando e terão de informar que obras venderam e quem foram os compradores. Na primeira fase da investigação, a Babel se recusou a informar o nome de seus clientes à polícia, alegando sigilo. Agora, deverá ser chamada a depor na Justiça.

- O inquérito deve provar se estão falando a verdade. Eles terão de informar que obras venderam e para quem - disse o delegado.

Segundo a polícia, o ex-estagiário da Mário de Andrade repassava as obras para a Babel. Ricardo, que foi denunciado dois anos atrás pelo sumiço de obras da Biblioteca Nacional, continuou tendo contato com um recuperador de obras que trabalhou 22 anos na Mário de Andrade e que só foi afastado do cargo no início deste mês.

De acordo com as investigações, Ricardo levou até a Babel 226 obras. Destas, foram vendidas em leilões 142. O ex-estagiário recebeu R$ 48.496 pelas peças, que foram vendidas em leilões por R$ 60.620. A polícia ainda investiga quantas peças eram roubadas. Pelos cálculos do delegado, Ricardo ficava com 80% do total vendido e a livraria e o leiloeiro dividiam os outros 20%. Das 48 obras deixadas por Ricardo na Babel para um leilão, por exemplo, foram vendidas 27 peças. Foram vendidos R$ 6.810 em obras e Ricardo ficou com R$ 5.448.

- Essa quadrilha vem há anos saqueando as bibliotecas públicas. Eles se infiltram como estagiários ou estudantes à procura de uma pesquisa e roubam as obras, com a ajuda de funcionários. Estamos apenas no começo das investigações. O número de envolvidos deve aumentar. A quadrilha já ganhou uma fortuna com a venda das obras - disse.

Entre as obras recuperadas está um atlas roubado no Itamaraty, que servia de guia para as rotas marítimas. Segundo o delegado, o mapa é muito valioso porque só existem seis exemplares no mundo. Parte das obras roubadas, segundo ele, foi vendida a colecionadores do exterior.

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