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Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, 19 anos, será apresentado ao juiz da Vara da Infância e Juventude ao meio- dia. A secretário de Justiça do estado, Luiz Antonio Marrey pedirá que ele seja encaminhado à Casa de Custódia de Taubaté, um presídio para adultos que oferece tratamento psiquiátrico. Champinha fugiu da Febem Vila Maria, na zona norte de São Paulo, no início da noite de ontem e foi preso às 4h30m desta madrugada em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, depois de ser delatado pelo irmão.

Champinha e outro adolescente de 17 anos precisaram apenas usar uma escada para escapar. Os dois fugiram às 18h15m. De acordo com a Polícia Militar, Champinha ligou para a família, em Embu, para pedir dinheiro e foi delatado pelo irmão.

- O irmão forneceu o endereço da tia do menor, que estava com ele. O criminoso havia ligado para a casa da família pedindo dinheiro - disse o PM Marcelo Alves, responsável pela prisão.

Champinha foi recolhido à Febem desde que confessou o assassinato do casal de namorados Felipe Caffé e Liana Friedenbach, em 2003. Os dois foram mortos em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, depois onde estavam acampados num sítio abandonado. Segundo a Fundação Casa, novo nome da antiga Febem, Champinha estava na cela de seguro, separado dos outros internos.

A escada usada na fuga estava encostada no muro da unidade, que tem entre seis e sete metros de altura. O secretário da Justiça afastou o diretor da unidade de Vila Maria e 19 funcionários e vai mandar abrir sindicância nesta quinta-feira para apurar se houve facilitação na fuga. Funcionários disseram que a escada foi 'esquecida' no local por pedreiros, apesar de a unidade de Vila Maria abrigar internos que foram presos na adolescência por crimes graves e hoje já são maiores de 18 anos.

- Banditismo existe fora, mas existe também dentro dos quadros do serviço público, e nós vamos extirpar esse banditismo. Não é possível isso acontecer sem uma incompetência absoluta ou participação dolosa de servidores nesta fuga - afirmou o secretário.

Para Marrey, Champinha deve ser encaminhado agora a uma instituição para tratamento especializada em criminosos com problemas psiquiátricos.

- Vamos conversar com o juiz da Infância e da Juventude sobre esta questão. Se depender de mim ele vai para a Casa de Custódia de Taubaté, porque é maior de 18 anos. Ele está retido por conta de problemas de saúde mental e creio que lá seria o melhor lugar para ele ir. Mas isto quem decide é o juiz. Vamos conversar com ele - afirmou.

Segundo o secretário, Champinha deve ficar na unidade de triagem da Fundação Casa no Brás, no centro, até que seja decidido seu destino. Ele chegou à unidade às 6h desta quinta-feira.

Laudos psiquiátricos apontaram que Champinha tem problemas mentais. A morte de Liana e Felipe teve requintes de crueldade. A adolescente foi violentada e torturada pelo grupo. Felipe morreu com um tiro na nuca. Liana, a facadas.

O caso virou ícone da discussão sobre a redução da maioridade penal em São Paulo.

Na época do crime, Champinha era menor de idade. Tinha 16 anos. Deveria ficar o tempo máximo que a Justiça prevê de permanência na Febem, que são três anos, mas laudos feitos por psiquiatras indicaram que ele não tinha condições mentais de viver em sociedade. Já maior de idade, mas sem poder ser encaminhado à prisão porque cometeu o crime na adolescência, ele acabou sendo mantido na Febem. Chegou-se a pensar em mandá-lo a um manicômio judiciário, mas a idéia não vingou.

O advogado Ari Friedenbach, pai de Liana Friedenbach, ficou estarrecido com a fuga dele. Para ele, a fuga demonstrou a falta de responsabilidade do Estado em cuidar de criminosos perigosos que estão sob sua custódia.

- Infelizmente, essa não foi a primeira fuga da Febem e eu já imaginava que isso pudesse ocorrer. Agora o Estado terá de responder penalmente por todos os crimes que ele cometeu e que vier a cometer - afirma Friedenbach.

Friedenbach afirmou ainda que nenhuma autoridade teve "a dignidade e o respeito" de comunicá-lo.

- É um desrespeito com a família da vítima. Fiquei sabendo da fuga pelos jornalistas - disse.

Friedenbach disse que Champinha tinha regalias dentro da instituição, como tratamento ortodôntico.

- Ele era tratado como um rei, como se merecesse investimentos do Estado. Esses recursos deveriam ter sido aplicados em jovens que realmente tivessem recuperação e não em um criminoso irrecuperável como ele - afirmou.

No dia 20 de julho do ano passado, três dos demais envolvidos no crime foram condenados a mais de 169 anos de prisão. Agnaldo Pires foi sentenciado a 47 anos e três meses de reclusão por estupro; Antonio Caetano da Silva, a 124 anos por vários estupros; e Antonio Matias a seis anos de reclusão e um ano, nove meses e 15 dias de detenção por crime de cárcere privado, favorecimento pessoal, ajuda à fuga dos outros acusados e ocultação da arma do crime.

O quarto acusado, Paulo César da Silva Marques, conhecido como "Pernambuco", não foi julgado no mesmo dia dos demais envolvidos por haver recorrido da denúncia.

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