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A polícia vai pedir a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do padre Júlio Lancelotti e dos suspeitos acusados de extorsão contra o religioso. O delegado André Luiz Pimentel, que preside o inquérito, quer saber de onde veio o dinheiro que foi dado à Anderson Marcos Batista, ex-interno da Febem preso nesta sexta-feira junto com a mulher dele, Conceição Eletério, e um outro suspeito, Evandro Guimarães.

Anderson diz que recebeu R$ 700 mil do padre nos últimos anos e que não sabia de onde vinha o dinheiro. Existe uma suspeita de que os recursos tenham sido desviados de Organizações Não- Governamentais (ONGs). Apesar de a polícia estudar a quebra do sigilo do padre, ele ainda é tratado como vítima, segundo Pimentel. Ele disse que Júlio Lancelotti teria dito, de maneira informal, que a Cúria Metropolitana da Igreja Católica estuda pedir a decretação de segredo de Justiça do processo para resguardar a imagem do padre.

Em entrevista coletiva na tarde deste sábado, o advogado de Anderson, Nelson Bernardo da Costa, disse que Anderson conheceu o padre com 16 anos de idade e mantinha relação sexual com ele desde então.

- Nunca houve chantagem, nunca houve extorsão. Ele tinha uma amizade com o padre que se tornou um relacionamento sexual. Ele (Anderson) disse que teve dinheiro repassado durante seis ou sete anos e que totalizaram cerca de R$ 600 mil a R$ 700 mil. Com esse dinheiro, ele comprou carros, vários carros de luxo, uma casa, vários bens. Gastava, saía na noite - disse Costa.

Segundo o advogado, Júlio Lancelotti teria chegado a acobertar uma fuga de Anderson em 1998 da Febem Tatuapé. O padre teria pago uma hospedagem para o menor e ainda passado a procurá-lo constantemente no local. A Polícia Civil abriu inquérito para verificar se o padre Júlio Lancelotti cometeu corrupção de menores.

Anderson Marcos Batista estava foragido desde o mês passado quando foi denunciado pelo padre. Ele foi preso nesta sexta-feira em um apartamento na Rua Riachuelo, no centro de São Paulo. Os três suspeitos foram levados para o 31º DP, na zona leste da capital e prestaram depoimento durante a madrugada. A polícia chegou ao trio com base em informações fornecidas durante o depoimento de uma testemunha na tarde de sexta-feira.

Vítima

O padre Júlio está em São Paulo, mas, por enquanto, não vai se pronunciar. O advogado do religioso, Luiz Eduardo Greenhalgh, assumiu a defesa de Júlio Lancelotti. Ele reafirmou que o padre foi vítima de um processo de extorsão. Lancelotti é conhecido por ser um dos principais defensores dos direitos de jovens infratores e moradores de rua de São Paulo.

- Foi o padre Júlio que denunciou à polícia o processo de extorsão. Foi o padre Júlio que disse à polícia porque estava sendo extorquido. Portanto, ele é vítima. As declarações do advogado representam um cliente que é violento. É um cliente que tem mais de dez inquéritos, cinco sobre extorsões. Então, nós temos que sopesar se nós vamos dar guarida à palavra de um bandido ou se vamos dar guarida à palavra do padre Júlio. Eu quero que se estabeleça a presunção de inocência do padre porque foi ele que denunciou a armação contra ele - disse Greenhalgh.

Anderson teria conhecido o padre na Febem, onde foi internado por roubo. Ao sair da instituição, em 2000, ele teria começado a pedir ajuda ao religioso e mais tarde passado a exigir mais dinheiro. Foi o próprio padre que procurou a polícia para denunciar o crime. Júlio Lancelotti disse que pagou até prestações de um jipe Pajero comprado em 2004. Após o padre levar o caso à polícia, o faxineiro Everson Guimarães, de 26 anos (irmão de Evandro), foi preso em flagrante no dia 6 de setembro, logo depois de pegar, com Lancelotti, um envelope com R$ 2 mil a mando de Anderson.

A mesma testemunha que ajudou a polícia a localizar os foragidos, um morador do bairro onde Anderson vivia com sua mulher, disse no depoimento de ontem que, além dos irmãos Everson e Evandro, pelo menos outras quatro pessoas funcionavam como mensageiros do ex-interno da Febem para supostamente extorquir o padre. A mesma testemunha revelou que Anderson teve uma ascensão financeira "meteórica" e disse que o padre tinha ciúme do ex-interno . O vizinho dos acusados citou nomes de outras pessoas que entregavam envelopes brancos com altas quantias de dinheiro.

- Tinha um tal de Messias, a Glória, acho que outro era Marcos e, a empregada do Anderson, uma tal de Sandra, também - revelou a testemunha, de 42 anos.

A polícia vai tentar identificar as pessoas.

O vizinho conheceu Anderson há sete anos.

- Foi quando saiu da Febem. Depois de uns seis meses, chegou a Conceição. Eram humildes - disse.

A testemunha revelou que, um ano depois, Anderson começou a circular com carros de luxo, roupas de marca e a pagar gastos de amigos em bares.

- Na mesma época em que começou a freqüentar a igreja do padre Júlio - afirmou.

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