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A sapateira Isabel Cristina Soares da Silva, de 35 anos, foi presa há dez dias por um erro na digitação do registro criminal de um acusado de homicídio: o suspeito do crime, no entanto, era um homem, que a sapateira diz nem conhecer. Depois de passar quatro dias na Cadeia de Batatais, a 353 km de São Paulo, ela voltou para casa.

Seus advogados já preparam um pedido de indenização ao estado para a sapateira, mas, antes, têm uma tarefa mais urgente: limpar a ficha de Isabel, para que ela volte a ser ré primária.

Além do homicídio, que a levou para cadeia por engano, outro crime que a sapateira não cometeu era atribuído a ela. O erro foi descoberto por seus advogados, quando faziam levantamento sobre o caso. "É um processo por lesão corporal grave, mas, na data do delito, Isabel tinha 10 anos e não podia ser a autora", relata Adauto Casanova, que trabalha no caso com outros três advogados. O crime de lesão corporal grave é atribuído a pessoas acusadas de agressão física ou de atropelamentos.

Na frente das filhas

Eram 6h30 e Isabel Cristina ainda estava dormindo quando policiais chegaram até a sua casa, em 23 de março. "Eles não falaram nada, já foram entrando. Quando chegaram ao meu quarto, puxaram minha coberta e me deram voz de prisão", conta, em entrevista ao G1.

Segundo a sapateira, a prisão foi feita na frente de suas filhas. Ela não precisou ser algemada porque se dispôs a colaborar com a polícia. "Disse que ia com eles com a maior boa vontade porque eu já sabia o que estava acontecendo. Mas saí de lá chorando, e chorando eu fiquei os quatro dias na prisão."

Dias antes, Isabel havia tentado renovar sua carteira de habilitação (CNH) e foi orientada a procurar advogados. Assim, ela descobriu que era acusada de um homicídio. O suspeito do crime, no entanto, era um homem.

Como Isabel foi presa no lugar de um homem, a polícia não sabe explicar. Os advogados de Isabel dizem que, provavelmente, os agentes que estiveram na casa dela provavelmente não tinham um mandado de prisão, afinal, no mandado constaria também o nome do acusado - um homem.

Polícia

A polícia de Franca confirma a prisão de Isabel Cristina. "A polícia tinha um documento dizendo que a moça estava sendo procurada. O que pode ter ocasionado o problema é que o registro criminal do rapaz acusado pelos crimes é muito parecido com o dela", explica o delegado Luiz Carlos Almeida de Souza, da Seccional de Polícia de Franca.

Segundo o delegado, o registro criminal é gerado para as pessoas que têm passagem pela polícia. O de Isabel, provavelmente gerado pelo crime de lesão corporal também atribuído a ela por engano, é 31033399. O do verdadeiro acusado pelo crime é 03033399.

A corregedoria de Franca ainda não foi notificada do fato. Mas Almeida afirma que a prisão por engano será investigada. "Vamos apurar o que aconteceu", diz.

Enquanto isso, Isabel, que teve de ser afastada do trabalho por problemas psicológicos causados pelo episódio, espera Justiça.

"O que eu quero na verdade é que eles peguem o verdadeiro assassino. Me prender foi fácil. Mas daqui a três meses o crime (pelo qual ela foi presa) prescreve. E o assassino vai ficar livre como eu, que acabei sendo presa para pagar pelo crime dele".

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