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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve fazer, pelo menos por enquanto, um novo pronunciamento à Nação. A idéia do Palácio do Planalto é antes obter mais dados concretos sobre as denúncias envolvendo o PT e o governo para que Lula possa falar de forma mais consistente em cadeia nacional de rádio e TV. Por enquanto, o 'gabinete de crise' entende que o pronunciamento feito pelo presidente na sexta-feira é suficiente.

Também ficou acertado na reunião, que terminou pouco depois das 13h, que o coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner, começará nesta segunda-feira um corpo-a-corpo no Congresso para fechar a estratégia de votação do salário-mínimo na Câmara para derrubar o reajuste para R$ 384,29, aprovado na semana passada no Senado.

Lula se reuniu por mais de três horas com o chamado 'gabinete de crise' para discutir o momento político. A possível convocação do Conselho da República também foi discutida no encontro. Participaram da reunião, no Palácio do Planalto, os ministros Jaques Wagner, da Coordenação Política; Márcio Thomaz Bastos, da Justiça; Dilma Rousseff, da Casa Civil; Luiz Dulci, da Secretaria Geral; Antonio Palocci, da Fazenda; e o vice-presidente José Alencar.

Apesar de ter feito um discurso de dez minutos na abertura da reunião ministerial de sexta-feira passada, no qual disse estar se sentindo traído e pediu desculpas em nome do governo e do PT à população, Lula tem sofrido pressões de ministros e assessores para que fale novamente ao público, desta vez em cadeia nacional de rádio e TV, mas prevaleceu a tese de que não há a necessidade de um novo pronunciamento.

Enquanto o presidente Lula reúne os ministros, representantes dos partidos de oposição (PFL, PSDB, PPS, PV e PDT) também conversam nesta segunda-feira à tarde sobre a atual crise política. Um dos articuladores do encontro, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), disse que a discussão do impeachment não é o objetivo da reunião. Segundo ele, esse é o primeiro encontro que junta toda a oposição, desde a mais conservadora até a esquerda.

- Há um quadro que precisa ser avaliado, até para que cada um diga qual é a sua opinião sobre a conjuntura e sobre o que pode vir - afirmou Freire.

O deputado elogiou o comportamento da oposição, ao considerar que ela não ajudou a aprofundar a crise, que deve seu agravamento "a dissidências, ao fogo amigo e ao próprio presidente Lula". A oposição, na avaliação de Freire, tem tido uma postura séria.

- Por isso mesmo, não devemos precipitar nada, e falar em impeachment agora seria precipitação - disse.

PRONUNCIAMENTO - Em conversas com interlocutores, Lula tem desabafado que se sente "agredido" por todas as denúncias envolvendo o PT e que gostaria de ir para o embate político, mas que, como presidente da República, tem que ser mais comedido. A preocupação de Lula é "não contaminar a economia" com a crise política e não paralisar o governo. Sobre a possibilidade de convocação do Conselho da República, esse procedimento não tem a concordância do ministro Antonio Palocci, por exemplo.

Parte do "gabinete de crise" dava como certo um novo pronunciamento de Lula, argumentando que o presidente tem que se dirigir formalmente à Nação e ser mais direto ao dizer, diretamente, quem o traiu. Na sexta, Lula não citou os nomes dos traidores, nem mesmo as pessoas que afastou do governo, como o ex-ministro José Dirceu. Essa tese é defendida por ministros como Márcio Thomaz Bastos (Justiça), além do presidente nacional do PT, Tarso Genro.

Apesar das críticas de que teria sido pouco direto na sexta-feira, Lula comentou com interlocutores que acredita ter dado a resposta necessária nesse momento para as denúncias. Segundo um assessor próximo, o presidente demonstrou contentamento com os aplausos que recebeu no velório do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes.

CONSELHO DA REPÚBLICA - A convocação do Conselho da República também divide opiniões dentro do gabinete de crise. Além de Palocci, o articulador político do governo, Jaques Wagner, é contra a reunião do conselho - criado em 1988 e que na verdade nunca foi acionado.

O conselho é presidido pelo presidente da República e participam ainda o vice-presidente; o ministro da Justiça; os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado; os líderes da maioria e da minoria, tanto no Senado quanto na Câmara; e mais seis brasileiros ilustres, estes nomeados livremente, sendo dois de escolha do presidente da República, dois indicados pelo Senado e dois pela Câmara.

Palocci, segundo integrantes do governo, tem ressaltado a Lula que a convocação do conselho só daria um ar de maior gravidade à crise e poderia trazer instabilidade ao mercado financeiro. Jaques Wagner também não vê conseqüências práticas, já que Lula tem se reunido com os presidentes da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com certa freqüência. Mas a idéia é bem vista por outros, como o próprio Tarso Genro.

- Se toda a crise não causou turbulência na economia, não vai ser a convocação de uma instituição como o Conselho da República que vai causar isso - disse Tarso Genro, irônico.

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