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reforma ministerial

Por evangélicos, Dilma nomeia Crivella para Ministério da Pesca

Com a nomeação, presidente incorpora o PRB ao primeiro escalão do governo federal. Partido é a oitava legenda da base a ter um lugar na Esplanada

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Em atrito com os evangélicos desde a campanha de 2010, a presidente Dilma Rousseff decidiu ontem incorporar ao governo o PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. O senador e pastor carioca Marcelo Crivella vai assumir o Ministério da Pesca no lugar de Luiz Sérgio (PT-RJ). A mudança também gera repercussão na formação das alianças para as eleições municipais, especialmente em São Paulo.

A crise com os evangélicos cresceu nos primeiros meses de 2012, a partir de declarações feitas em janeiro pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Em palestra durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre, ele disse que o Estado deveria fazer uma disputa ideológica pela classe C, que estaria sob hegemonia de setores conservadores ligados aos evangélicos. Duas se­­­manas depois, Carvalho participou de uma reunião com líderes religiosos no Congresso e disse que foi mal compreendido.

A situação piorou em fevereiro com a nomeação da socióloga Eleo­­­nora Menicucci para a Se­­­cre­­­taria de Políticas para as Mulheres. No passado, Eleonora foi defensora da descriminalização do aborto, um dos temas mais sensíveis para a bancada evangélica. Formado por cerca de 80 parlamentares, o grupo é um dos mais articulados do Congresso.

Crivella e o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado federal João Campos (PSDB-GO), disseram que a escolha não teve influência da bancada. Já o deputado paranaense André Zacharow (PMDB), representante da Igreja Batista, entendeu a escolha como uma tentativa do governo de "criar pontes" com o segmento. "Ela optou por um nome que tem esse perfil de diálogo", disse Zacharow.

Conflitos

A decisão, porém, pode ter consequências desfavoráveis ao governo dentro da bancada, composta por representantes de igrejas distintas e com conflitos entre si. Atualmen­­te, a ala mais forte é formada por seguidores da Assem­­­bleia de Deus. "A Universal praticamente nem atua dentro da bancada; eles sempre falaram direto com o governo", disse um deputado, que pediu para não ser identificado.

A mudança também amplia o loteamento partidário do primeiro escalão federal, um dos motivos para a sucessão de escândalos que levou à demissão de sete ministros nos últimos nove meses. De acordo com nota divulgada pelo Palácio do Planalto, a troca "permite a incorporação ao ministério de um importante partido aliado da base do governo". O PRB será a oitava legenda governista com assento na Esplanada e, entre elas, a que possui menor representação no Congresso Nacional – oito cadeiras na Câmara dos Deputados e uma no Senado.

Com a nova adesão, devem crescer as pressões por cargos de partidos que já ocuparam ministérios durante o governo Lula, como o PV e o PTB. Em paralelo, PR e PDT demandam mais poderes nos ministérios que comandam – Transportes e Trabalho, respectivamente–, em troca de alianças nas eleições municipais.

"O PRB ficou com um ministério insignificante, mas a troca tem muito simbolismo", avalia o cientista político Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília. A nova etapa da parceria com o partido poderia, por exemplo, facilitar um acordo na disputa pela prefeitura de São Paulo, onde o deputado Celso Russomanno (PRB) é um dos principais adversários do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT).

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