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Lula e Dilma: petistas aguardam da ministra um discurso para sinalizar o tom da campanha do partido | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Lula e Dilma: petistas aguardam da ministra um discurso para sinalizar o tom da campanha do partido| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Oposição aposta em alvos que petistas deixaram a desejar

Na disputa pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição prevê que não haverá espaço para fazer "invenções e experimentos" nas propostas a apresentar ao eleitor. Segundo alguns de seus integrantes, a ideia é fazer o básico, mas mirando alvos onde o atual governo teria deixado a desejar na sua atuação. Esses focos serão infraestrutura, saúde, juventude e segurança, a partir de um projeto articulado de desenvolvimento.

Outro ponto básico será também o conceito da capacidade de gestão. Na visão da oposição, o PT aparelhou o Estado e descuidou de sua eficiência.

A primeira transformação imediata que os aliados do governador e candidato tucano à Presidência, José Serra, se propõem a fazer é a "reforma de hábitos e costumes" na relação com o Legislativo e o Judiciário.

O que a oposição não esperava é que a disputa entre os dois lados se transformasse numa espécie de vale-tudo, depois que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), fez críticas ao atual governo numa entrevista à revista Veja, afirmando que o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) não existia e tinha cunho eleitoral. O próprio Lula acabou ajudando a subir o tom da discussão, chamando Guerra de "babaca", durante reunião ministerial na quinta-feira.

"A mediocridade deste go­­verno vai se fazendo com maus hábitos, a começar da corrupção, que não escandaliza mais ninguém", emenda o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Dissidente do PMDB governista, ele espera de Serra que "avance no que Lula não conseguiu fazer", como a infraestrutura "imprescindível a qualquer programa de desenvolvimento".

Na avaliação do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), o tipo de discussão aberto entre tucanos e governistas poderá ser uma das tônicas da campanha. Acha que será difícil apresentar aos eleitores temas específicos suficientes para marcar a diferença entre as candidaturas.

Alvoroço

Além de irritar os adversários, Guerra provocou alvoroço no tucanato com sua entrevista, na qual pregou mudanças no câmbio, nos juros e nas metas de inflação. Mas no PSDB e no DEM ninguém tem dúvida de que os pilares da economia – câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e rigor fiscal – estão aí para ficar. A "calibragem" é que ficará por conta do presidente, independentemente de quem vencer as eleições.

"Precisamos de alguém com competência comprovada para impedir que o país trilhe esse caminho de risco de desindustrialização, em função do câmbio sobrevalorizado, dos juros altos e das contas externas em desequilíbrio", diz o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).

Para confrontar o PT de Dilma, que acusou o PSDB de planejar o fim do PAC em caso de vitória, os tucanos dizem que farão um programa diferente. Afirmam que o PAC que vão realizar não é o do governo federal, mas o de São Paulo. "Queremos o PAC eficiente do Serra, em que obra começa, termina no prazo e a população ganha. Ele cumpriu 100% do que se comprometeu, fazendo o Rodoanel, escolas técnicas e ampliando o metrô e o serviço de saúde", argumenta Jutahy.

O comando da campanha de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto aposta no discurso da ministra da Casa Civil no 4.º Congresso Nacional do PT, em fevereiro, para jogar por terra a retórica do pós-Lula entoada pelo PSDB. "O pós-Lula é inseparável do governo Lula", afirmou Dilma na reunião ministerial de quinta-feira, apontando a tecla em que baterá na corrida sucessória. "Esse legado é nosso."Acusada de não ter jogo de cintura política, a ministra já começou a ensaiar a coreografia dos palanques. Um discurso forte de Dilma no megaencontro que oficializará sua candidatura, em Brasília, é considerado fundamental para sinalizar o tom da campanha petista e fazer uma inflexão na disputa.

Diante de uma plateia formada por ministros, governadores, dirigentes e parlamentares do PT e de partidos da base aliada, além de convidados internacionais, Dilma falará sobre as "obras" do governo comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o projeto nacional de desenvolvimento que norteará sua plataforma.

A ideia é mostrar que a era Lula construiu os "alicerces" para um novo ciclo que, na receita petista, combinará ingredientes para a ampliação dos investimentos públicos e incentivo aos privados com programas sociais para a redução da pobreza.

Embora o presidente queira comparar os seus dois mandatos com o mesmo período da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB ao Planalto, já avisou que não morderá a isca. "Vou apontar as coisas para o futuro", disse Serra à reportagem, na semana passada.

O ex-prefeito de Belo Ho­­rizonte Fernando Pimentel, integrante da coordenação da campanha de Dilma, avalia que o pós-Lula embalado pelo tucanato não se sustentará na temporada eleitoral. "É ilusão pensar que o pós-Lula significa passar a borracha no que foi feito por este governo", comentou Pimentel, um dos postulantes do PT à sucessão do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). "O que vai estar na mesa não é a herança tucana. A discussão é no nosso terreno."

Tensão

Na prática, toda a estratégia de Dilma é montada com base em pesquisas. São esses levantamentos que norteiam, por exemplo, o discurso da candidata e as roupas que ela deve usar em público.

Dilma discutiu recentemente com o marqueteiro João Santana. Não gostou de um texto preparado para ela e mandou que fosse refeito. Disse que não será uma candidata "moldada" pela propaganda, pois tem ideias próprias. Avisou, ainda, que não mudará seu estilo. Circularam em Brasília rumores sobre a troca de Santana pelo publicitário Duda Mendonça, responsável pelo programa de tevê de Lula, em 2002, mas não houve substituições na equipe.

Duda, de fato, conversou com Dilma em dezembro. Deu opiniões sobre imagem da candidata e rumos da campanha. Mas tem visões totalmente opostas às de Santana. Para o antigo marqueteiro do PT, a ministra não deve se expor tanto e precisa tomar cuidado para que sua rejeição não ultrapasse o índice de conhecimento.

A chefe da Casa Civil não esconde de ninguém que acha Duda "um gênio" do marketing político. A direção do PT, no entanto, não parece perdoá-lo. Motivo: no auge da crise do mensalão, em 2005, ele confirmou à CPI dos Correios ter sido pago pelo partido com dinheiro de caixa 2 em paraíso fiscal.

No Planalto, auxiliares do presidente tentam minimizar a tensão entre Dilma e Santana, sob o argumento de que atritos desse tipo são normais. O governo está convencido de que não pode dar margem para a oposição enxergar nem mesmo um fiapo de crise na campanha.

Petistas avaliam que o PSDB tentará colar na administração Lula o carimbo da "gastança" e, em Dilma, a pecha de "mentirosa". É com esse cenário que a cúpula do PT trabalha e prepara a contraofensiva. Inundações em São Paulo e despesas do governo Serra são temas examinados com lupa pelos dilmistas. Detalhe: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe da plataforma de Dilma, prevê recursos para o combate às enchentes.

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