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Vetos do presidente Lula garantiram recursos para obras da Petrobras, suspeitas de irregularidades, no orçamento da União deste ano | Ricardo Moraes/Reuters
Vetos do presidente Lula garantiram recursos para obras da Petrobras, suspeitas de irregularidades, no orçamento da União deste ano| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Argumento

Desemprego põe oposição na defensiva

Na justificativa dos vetos presidenciais para liberar os repasses às obras da Petrobras com suspeitas de irregularidades, o presidente Lula cita a necessidade de evitar o "prejuízo imediato de aproximadamente 25 mil empregos e custos mensais da ordem de R$ 268 milhões". Só na Repar, em Araucária, os cortes poderiam afetar 9 mil postos de trabalho. Os números colocam os 10 deputados federais e dois senadores paranaenses de oposição em uma situação delicada.

"É fato que a derrubada dos vetos vai gerar desemprego e, apesar de a votação ser secreta, a conta desse desgaste cai na conta da oposição", afirma o deputado Dr. Rosinha (PT-PR). Além disso, a justificativa oficial dos vetos mostra que a maior parte das obras está 90% concluída, o que geraria atraso no início da operação das unidades e dificuldade no abastecimento do país com óleo diesel de baixo teor de enxofre, menos poluente.

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), os argumentos dos vetos comprovam o desgaste ético da administração petista. "De novo é a história de que os fins justificam os meios. Isso nós não podemos mais aceitar porque não se sabe onde pode parar." Eduardo Sciarra (DEM-PR) admite que é muito difícil conseguir derrubar os vetos. "Se eles querem usar esse tipo de justificativa, de que vale seguir gastando dinheiro público em obras com irregularidades graves, vamos para o debate ver quem tem a razão. O problema, na verdade, é que eles mais uma vez estão usando a maioria para atropelar o Congresso e, contra isso, há pouco o que fazer." (AG)

Planalto pede urgência na votação do pré-sal

Folhapress

Brasília - Na tentativa de garantir a aprovação do marco regulatório do pré-sal no primeiro semestre, o presidente Lula encaminhou ao Senado pedido de urgência para a tramitação dos projetos que tratam da ex­­ploração da camada de petróleo descoberta na costa brasileira. Go­­vernistas e oposição tinha fechado acordo que a votação do pré-sal só sairia depois da análise dos vetos do presidente, marcada para hoje.

Com o pedido de urgência, os senadores terão 45 dias para analisar as propostas sobre o pré-sal. Atualmente, apenas o projeto que trata da criação da estatal Petro-Sal foi aprovado pela Câ­­mara. Outros três projetos sobre o tema ainda precisam ser analisados pelos deputados. A expectativa é que eles sejam votados após o carnaval.

"Já encaminhamos o pedido de urgência do pré-sal para o Senado. Na medida em que na Câmara vão sendo aprovados os projetos e vão sendo encaminhados para o Sena­­do, o presidente deve colocar o pe­­dido de urgência para o Senado’’, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Segundo Padilha, o governo vai tentar negociar com os líderes da oposição a aprovação dos projetos. A ideia é quebrar re­­sis­­tências e evitar que os projetos sejam discutidos com tom eleitoral.

Além do pré-sal, a agenda de prioridades do governo para este ano inclui ainda o lançamento do Programa de Aceleração do Cresci­­mento (PAC 2), previsto para março.

  • Entenda como os presidentes podem ou não vetar leis

Brasília - A oposição ao governo Lula no Congresso tenta hoje uma façanha – derrubar os vetos presidenciais que garantem o repasse de recursos para obras em quatro unidades da Petrobras com suspeitas de irregularidades graves. Só no ano passado, os parlamentares apreciaram 1.051 vetos totais e parciais – dos presidentes Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula – e nenhum deles foi revertido. A última vez em que uma decisão do presidente foi alterada ocorreu há cinco anos.

Ainda assim, a mobilização foi forçada por interesse explícito dos congressistas. Na época, Lula considerou inconstitucionais os projetos de lei que concediam aumento aos servidores da Câmara dos De­­putados e do Senado. Por intervenção direta do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), prevaleceu a justificativa de que o Congresso tinha recursos para bancar o reajuste.

Desta vez, serão votados 74 vetos referentes a contratos sob suspeita nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, do terminal de escoamento de Barra do Riacho, no Espírito Santo, e das refinarias de Abreu e Lima, em Pernambuco, e Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. As unidades integram uma lista com 24 empreendimentos que tiveram os recursos bloqueados em dezembro pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso. O órgão tomou a decisão baseado em relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU).

"Não tenho muita esperança de que vamos reverter essa situação, mas trata-se de uma questão de preservação da autonomia do TCU e do Poder Legislativo", diz o senador Alvaro Dias (PSDB), um dos principais defensores da derrubada dos vetos. Para que isso ocorra, porém, é necessária a aprovação da maioria dos deputados (257) e senadores (41). Como a oposição conta com cerca de 120 representantes na Câmara e 25 no Senado, uma vitória só seria possível com a adesão de governistas.

"Não vejo clima para que isso ocorra", afirma o deputado licenciado Ricardo Barros (PP). O paranaense foi vice-líder do governo na Câmara até dezembro, quando se afastou para se dedicar à pré-campanha para senador. Barros integrou o Comitê de Avaliação de Informações sobre Obras com Indícios de Irregularidades Graves da CMO, que avalizou a suspensão dos repasses para as quatro unidades da Petrobras com base na análise do TCU.

De acordo com o tribunal, os problemas estão relacionados a sobrepreço, ausência de planilhas de custos, projetos básicos deficientes e cronogramas de desembolso incompatíveis com o ritmo das obras – além de pagamento de equipamentos parados pelo mesmo valor dos equipamentos em operação. Barros afirma que, antes do veto presidencial, o comitê esteve reunido com representantes da Petrobras e havia chegado a um acordo para a manutenção dos investimentos. A negociação não foi confirmada pelo presidente do comitê, deputado Carlos Melles (DEM-MG).

Segundo a assessoria do deputado mineiro, Melles e Barros participaram de uma reunião com diretores da Petrobras no dia 12 de janeiro em Brasília, mas não chegaram a uma definição e se comprometeram a retomar o assunto apenas no dia 2 de fevereiro, após o recesso parlamentar. Melles se disse "surpreendido" com a decisão pelo veto, que atropelou as conversas entre Congresso e Petrobras.

Ao todo, as obras com suspeitas representam investimentos de R$ 13,1 bilhões. A mais cara delas é a Repar, principal empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Paraná, que deve receber R$ 9 bilhões até 2011. Dos 52 contratos em execução na refinaria, o tribunal apontou irregularidades em 19.

O veto presidencial que garante a sequência dos repasses é mais um episódio da queda de braço entre o governo Lula e TCU. Desde o ano passado, ministros e o próprio presidente têm criticado o suposto excesso de rigor nas fiscalizações. "Os entraves são demais: se parte do pressuposto de que todo mundo é desonesto até que se prove o contrário", disse Lula, em dezembro de 2009.

Para o professor de Orçamento Público da Universidade de Brasília, James Giacomoni, a interferência do governo no trabalho do TCU traz um mau precedente para os critérios de aplicação de recursos públicos no Brasil. "O Executivo já tem um poder muito grande sobre o orçamento e, quando usa a sua mão pesada para passar por cima do TCU e do Congresso, acaba desequilibrando ainda mais o sistema de pesos e contrapesos do jogo democrático. Obras públicas têm de ser feitas dentro dos requisitos previstos em lei. Se a lei é ruim, é outra discussão, que não justifica os vetos."

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Interatividade

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