Presidiários do Rio extorquiam paulistas com disque-seqüestro

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Dois detentos do presídio Evaristo de Moraes, o "Galpão da Quinta", em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, vão ser investigados por aplicar o golpe conhecido como "disque-seqüestro" em diversas cidades do país. Nesta quinta-feira (17), uma operação da Polícia Civil de São Paulo, com apoio da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) do Rio e da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), descobriu a atuação da dupla.

Segundo os investigadores da DAS, os presos vinham extorquindo principalmente dinheiro de paulistas. Ainda segundo os agentes, os presos acreditavam conseguir mais dinheiro com este tipo de vítima. A última ação da dupla teria sido com um empresário de São Paulo, que pagou uma quantia pelo suposto resgate depois de achar que um parente havia sido seqüestrado. A quantia depositada não foi revelada.

De acordo com as investigações da polícia, em um único dia, os presos fizeram 2.100 ligações para todo o Brasil para aplicar o golpe do falso seqüestro. O relatório da polícia revela ainda que os presos ficavam 24 horas ao telefone. Existia até um esquema de revezamento. Enquanto um descansava, o outro ligava para as vitimas.

O golpe

Entre as diversas ligações gravadas, está a que foi atendida por uma família de Goiânia. O preso se faz passar pelo filho da vítima. "Eu fui assaltado, pai. É, pai, fica calmo. Ai, meu Deus!", diz o golpista.

Nesse momento, outro preso anuncia o suposto seqüestro. Eles exigem R$ 20 mil e obrigam o pai a ir ao banco. A mãe fica em casa e os bandidos tentam arrancar mais dinheiro dela. Chegam a pedir ouro e quantia em moeda estrangeira. A vítima passa mal, e os bandidos pedem calma.

Um vizinho chama a Polícia Militar. Sem saber que está falando com um policial, o preso ainda insiste no falso seqüestro."Eu peguei o marido dela com carro e tudo e também estou com o filho dele aqui, cara!".

O policial conta que o suposto seqüestrado estava trabalhando enquanto a mãe negociava a libertação dele. Ele disse que a mulher estava desesperada e que, caso tivesse continuado com a ligação, teria sofrido um infarto.

Apreensão

Dois celulares foram encontrados perto dos presidiários, quando policiais e agentes da inteligência do sistema penitenciário entraram na cela cinco da galeria A do presídio. A investigação identificou Albert Araújo de Souza, de 24 anos, e Michel Mendes de Souza, de 28, como os donos dos aparelhos. A investigação chegou neles por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. Em 2006, foram apreendidos 229 celulares no mesmo presídio.

Albert foi preso há três anos por assalto a mão armada. Ele foi condenado a 18 anos e deve ter sua pena agravada. Já Michel foi condenado a oito anos e quatro meses de prisão por seqüestro. Sua pena terminaria em janeiro de 2008. Os dois internos serão submetidos à comissão técnica de classificação e poderão, de acordo com a Vara de Decisões Penais, ser penalizados com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). De acordo com a Seap, eles serão levados para unidades prisionais com bloqueadores de celular.

Entre as medidas que os presos têm que cumprir quando em RDD estão: cela individual, visitas semanais de apenas duas pessoas, sem contar com as crianças, saída por duas horas para banho de sol ao dia.

Os presidiários que dividiam o mesmo espaço da cela também serão investigados. Além dos dois celulares, foram encontrados na cela dois chips, pedras de crack e papéis com anotações de nomes e telefones de prováveis vítimas.

O material apreendido vai servir de base para as investigações da Polícia Civil sobre os presos que vinham praticando extorsões. Segundo a Polícia Civil do Rio, a entrada das drogas no presídio vai ser investigada pela secretaria de administração penitenciária em procedimento distinto.

Presídio é galpão de seqüestro

O "Galpão da Quinta" é considerada a central de extorsões por telefone no Rio, conforme revelou reportagem do G1. Um policial, que pediu anonimato, atribuiu essa situação a fragilidade de segurança na penitenciária e a superlotação. Segundo ele, o presídio Evaristo de Moraes é "literalmente um galpão".