
O quarto sabatinado pelos jornalistas da Gazeta do Povo foi o mais incisivo nas críticas contra a atual administração. Fabio Camargo (PTB) que é deputado e disputa pela primeira vez um cargo majoritário, disse que o projeto do metrô subterrâneo é "estupido", que parte da frota da Urbs está sucateada, que o secretário de Esportes não sabe sequer como chegar ao Sítio Cercado e que o Ippuc foi esvaziado.
Mesmo com tantos pontos negativos, Camargo não deixou de ressaltar a admiração que nutre pelo prefeito nas suas palavras, uma figura extraordinária e parte de sua equipe. Ele, que é contra a reeleição, disse que não mudará sua estratégia de campanha, tendo em vista a tendência de queda apontada pelas últimas pesquisas nas quais diz não acreditar.
Para depois do pleito, promete um livro com revelações sobre os bastidores da disputa e a volta para a Assembléia Legislativa, que classificou como "conservadora". Leia a seguir trechos da sabatina. Ou clique aqui e confira a entrevista completa.
Metrô
"Com todo o respeito, o projeto apresentado pelo prefeito é estúpido. Querem tirar o ônibus de cima, colocar o metrô embaixo e fazer parques nas canaletas. Não podemos abrir mão do expresso. O metrô terá paradas distantes e como faz quem que ir de um ponto próximo a outro? Vai como? Precisamos avançar e não mudar. Sem falar que fazer subterrâneo é um problema. Você nunca sabe o que vai encontrar debaixo da terra, temos muitos rios canalizados. O meu projeto custa um terço do valor e é de aplicação rápida, no máximo três anos, a um preço de R$ 1,20 a passagem. É o monotrem, um trem elevado, que seria construído acima do biarticulado. Ele faria a ligação entre os pontos mais distantes e o ônibus continuariam a transportar em pequenas distâncias."
Urbs
"Hoje a Urbs subsidia o transporte coletivo. Fala-se na tarifa domingueira, mas vá tentar pegar um ônibus no domingo. Não tem. As linhas diminuiram, os ônibus diminuíram. Precisamos abrir a caixa-preta da Urbs. Quero dizer que respeito o Paulo Schmidt, (presidente da Urbs). Temos sucatas andando nas ruas. A vida útil de um ônibus é de dez anos. Já vi alguns com 16 anos nas ruas, o que põe em risco a segurança do cidadão. Não tenho nenhuma dúvida de que a Urbs está subsidiando a tarifa."
Linha Verde
"O projeto não cumpriu sua finalidade, e a prefeitura emitiu nota culpando o dólar, culpando a chuva. Vamos ter de atualizar a Linha Verde. No mínimo, o projeto terá de chegar até o final, até o Atuba. Aumentaram o número de semáforos que estavam previsto. Isso só aumenta o congestionamento. Eram necessárias trincheiras e viadutos. Outro problema são os vazios. É preciso ter um plano, para que não se torne uma cidade fantasma, senão vai ficar perigoso andar à noite por ali."
Condomínio Springfield
"É impraticável não abrir a (rua) Dom Pedro (II, onde se localiza o condomínio). É um absurdo a prefeitura dizer que não tem força para abrir. Ali já deveria ter sido feito um binário. A mobilidade de Curitiba tem de ser vista com mais rigor."
Urbanismo e Ippuc
"É preciso recuperar o Ippuc. Quero demonstrar meu respeito pelo presidente Augusto Canto Netto, mas também minha insatisfação com o Ippuc. Não tenho dúvidas, o Ippuc foi esvaziado. O projeto futuro (de urbanismo) é a recuperação do Ippuc. E também trago o (ex-prefeito de Curitiba e atual secretário de Urbanismo do Distrito Federal) Cassio Taniguchi de onde ele estiver. Ele é um grande técnico e tem a cidade na mão. Não vem para Curitiba porque está brigado com o Beto (Richa). O governo estadual também não tem diálogo com a prefeitura. Fica difícil achar que sozinho se resolve todos os problemas."
Beto Richa
"Beto Richa está bem na campanha. Até pouco tempo atrás somente a atual administração aparecia na mídia. Mas ele está tão na frente que nem discute as propostas da oposição. Tem algumas propostas que mereciam a resposta do candidato da situação. Não sou oposição ao Beto Richa. Respeito o prefeito e acho ele uma figura extraordinária. Sou oposição ao projeto de gestão atual. Que isso fique bem claro."
Reeleição
"A reeleição tem de acabar, é ruim para a democracia. Um exemplo são os agentes de saúde. Eles trabalham durante a semana, visitam 30 famílias por dia, são verdadeiros líderes. No fim de semana fazem campanha para a reeleição. Vá ver nesse universo (dos servidores públicos) quanta gente trabalha para a reeleição, pagos com dinheiro público. Não estou dizendo que trabalham durante o expediente. Sei que o Beto é íntegro e jamais usaria a máquina administrativa para se reeleger."
Cargos Comissionados
"Quero cortar 80% dos cargos comissionados da prefeitura, 20% deles seriam suficientes para as autarquias, secretarias e diretorias. Hoje quem toca a prefeitura são os funcionários de carreira, concursados, especialmente os que têm mais tempo de casa. Parte da economia feita pela extinção desses 80% servirá para rever os planos de cargos e carreiras, e outra parte para investir na implantação de novas secretaria, cuja criação já foi autorizada pela Câmara, e na realização de concursos públicos. Os cargos em comissão são como as indicações para as regionais, a gente sabe como funciona. Quando voltar para a assembléia, eu assumo o compromisso de discutir essa questão também no nível estadual."
Regionais
"Eu defendo eleições diretas para a escolha dos administradores das nove regionais da cidade. Hoje é feita a indicação, que é política. O certo é o cidadão escolher democraticamente. Há bons administradores, mas alguns estão lá porque apoiaram o prefeito na eleição. Não vou citar nomes, para não ser indelicado. As eleições não atrapalhariam o trabalho do prefeito (respondendo ao questionamento sobre um possível embate entre o prefeito e o administrador). Seria um debate positivo, de verdadeiros líderes, que sabem dos problemas da região e fariam a ponte com a prefeitura. Pode ser até mais difícil de administrar, mas o resultado final é melhor. Sendo da região, ele vai buscar recursos para o bairro dele, mas não se confunde com a função do vereador, que tem de legislar, fazer leis. Hoje muitos vereadores acabam fazendo o que seria o trabalho dos administradores regionais."
Assembléia Legislativa
"Cada parlamentar representa uma fatia da sociedade e é natural que vá buscar recursos para a camada que o elegeu (respondendo a pergunta se não seria o papel do deputado fiscalizar e legislar para toda a sociedade, ao invés de defender interesses de uma parcela apenas). Antes da implantação do painel eletrônico na Assembléia me criticavam (por não permanecer muito tempo na casa), depois que o implantaram fiquei até mais tranqüilo. Tenho presença entre 80% e 85%. Mas não fico lá quando não é necessário. Não fico no plenário quando não há votação importante ou uma pauta relevante. Tiro minha gravata e vou para o bairro. Na Assembléia, muitos estão no ar-condicionado, servidos por garçons, chá, café. O que é mais importante, estar lá ou na comunidade atuando?"
Gafanhotos
"Estou fora dessa questão. Deveriam perguntar ao deputado que estava envolvido e está apoiando o candidato Beto Richa (não quis dizer o nome do parlamentar). Não posso responder (à pergunta sobre a demora da Casa em dar uma resposta à sociedade sobre as denúncias sobre supostos funcionários fantasmas), deveriam perguntar à mesa executiva. O que eu posso adiantar é que se for para votação uma proposta de transparência, eu voto sim. A Assembléia é conservadora. Tem gente que está lá há 20 anos. Não é um novato que vai mudá-la. No início tentei radicalizar e fui até ameaçado de cassação. A indignação (quanto ao esquema gafanhoto) não atinge apenas a população, mas os deputados também. O que eu posso dizer é que eu não tenho nenhum parente em cargo, nenhum laranja e nenhum funcionário fantasma. Não tenho nada a esconder."
Pesquisas
"Vejo o meu desempenho nas pesquisas com naturalidade (da três rodadas do Ibope/RPC/Gazeta do Povo, o candidato aparece em terceiro lugar, mas em queda, com 4%, 2% e 1%). Hoje estamos dentro da margem de erro, não acho que houve queda. Nos bairros por onde ando, vejo a mesma receptividade de antes. Acredito que vou chegar nos dois dígitos ainda. Não acredito nos números das pesquisas, principalmente porque estão sendo feitas com poucos eleitores. Os institutos de pesquisas têm mais atrapalhado que ajudado. Não digo que não servem para nada. Daqui a pouco, mais próximo das eleições, os institutos terão de falar um pouquinho a verdade para não perderem a credibilidade."
Campanha
"A eleição vai se definir nos últimos dez dias e não acredito que Curitiba vá deixar de discutir a cidade por mais 30 dias. Nós vamos ter segundo turno. Não mudo minha estratégia (em função das últimas pesquisas)."
Financiamentos de campanha
"Quero desafiar o candidato que chegar à prefeitura dizer que gastou menos de R$ 10 milhões. Fiz uma previsão alta de gastos no TRE (a sua previsão foi a maior entre os oito candidatos, R$ 14 milhões), para evitar problemas, menos não usando e arrecadando e gastando menos. Podemos colocar no site os financiadores da campanha. Não sei nem porque não estão lá. Quanto mais transparência, melhor, para o candidato e para os eleitores. Vou colocar."
Futuro
"Acho que estou preparado para ser prefeito de Curitiba, ninguém conhece os bairros como eu, nem o Beto, nem a Gleisi (Hoffman, do PT), nem o (Carlos) Moreira (Júnior, do PMDB). Mas se não for eleito, volto para a Assembléia. Eu vou para o segundo turno com Beto Richa, mas digo que se eu perder a eleição eu ganhei. Ganho muita experiência com isso. Não posso dizer onde estarei daqui a dez anos, mas de a população me aceitar do jeito que eu sou, daqui a dez anos posso ser governador."
Mensagem ao eleitor
"Eu só tenho a agradecer. Estou sendo bem recebido nos bairros. Passadas as eleições os curitibano vai me entender, conhecer e gostar mais de mim.
Clique aqui e confira a sabatina na íntegra
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Participaram da sabatina: Oscar Röcker Netto, chefe de redação; Eduardo Aguiar, editor executivo de Vida Pública; Silvia Zanella editora executiva da Gazeta do Povo Online; Fernando Martins, editor de Vida Pública; Rogério Galindo, editor de Vida e Cidadania; Flávia Alves e Fernanda Leitóles, repórteres de Vida Pública; Adriano Kotsan, repórter da Gazeta do Povo Online.






