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Proposta do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE, de costas ao centro da foto) uniu governo e oposição para flexibilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal | José Cruz/ABr
Proposta do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE, de costas ao centro da foto) uniu governo e oposição para flexibilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal| Foto: José Cruz/ABr

Histórico

Entenda a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – Lei Complementar 101 –, que completará 10 anos no mês que vem.

- Sancionada em maio de 2000, a LRF foi considerada um dos maiores legados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por permitir um controle mais rigoroso dos gastos públicos.

- De acordo com a lei, estados e municípios não podem gastar com folha salarial mais de 60% de suas receitas correntes líquidas. Para o governo federal, o limite é de 50%.

- A LRF lei define ainda sublimites para os judiciários (6%) e para os legislativos dos estados (3%). Já para as câmaras municipais, não se pode gastar mais de 6%.

- O ente que exceder esses limites fica proibido de realizar operação de crédito interna ou externa, inclusive por antecipação de receita, e de receber transferências voluntárias da União ou do Estado.

- As sanções para o governante que descumprir a LRF vão desde cassação, perda do cargo e inelegibilidade até multas e prisão.

Fonte: Redação.

Congresso

Proposta de Lula beneficia pequenos municípios

Há duas semanas, o presidente Lula assinou um projeto de lei para enviar ao Congresso prevendo que municípios com menos de 50 mil habitantes possam ter direito a repasses obrigatórios do governo federal, mesmo que estejam inadimplentes. Atualmente, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) proíbe esses repasses. A proposta, lançado em pleno ano eleitoral, recebeu duras críticas da oposição.

Na prática, a União não pretende alterar a LRF ou legislações que vedam repasse de recursos federais a entes da federação que estejam endividados. A ideia é usar o mesmo "jeitinho" adotado para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma vez que a LRF proíbe transferências voluntárias, que são recursos repassados por meio de convênios, para prefeituras inadimplentes, mas preserva transferências obrigatórias, que incluem repasses de fundos constitucionais – em 2007, o governo aprovou no Congresso uma lei transformando os repasses para obras do PAC em transferências obrigatórias. Agora, o governo quer usar o mesmo artifício para liberar recursos aos 1.852 municípios beneficiados pelo programa "Territórios da Cidadania", também convertendo as despesas do projeto em transferências obrigatórias. "Resolvemos apostar na ideia de que todo mundo é honesto até prova em contrário", declarou o presidente na época.

Para o PSDB, porém, a medida é eleitoral e, ao "afrouxar" as exigências da LRF, beneficiará municípios "onde está o eleitorado mais vinculado ao PT". (ELG, com agências)

A aprovação da proposta de mudança na Lei de Respon­­­­­sabi­­­lidade Fiscal (LRF) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na última quarta-feira, provocou polêmica entre especialistas no assunto. Apesar de ser consenso entre governo e oposição, o projeto divide opiniões fora da Casa. O ponto mais controverso permite que municípios, estados e o Distrito Federal tomem novos empréstimos para utilizar em programas de modernização da administração e na gestão de programas sociais, mesmo se já estiveram com os limites de endividamento estourados. Enquanto alguns alegam que se trata apenas de um aprimoramento da LRF, que está prestes a completar dez anos, os críticos afirmam que a medida abre brechas para que os governantes continuem gastando mais e de maneira desenfreada.

Agora, o projeto será analisado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e, em seguida seguirá para votação em plenário – se aprovado, ainda terá de ser submetido à Câmara dos Depu­­­tados. A expectativa é de que a proposta de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não encontre dificuldades para aprovação, uma vez que já recebeu o apoio do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). O discurso entre governo e oposição está tão afinado que Jucá convenceu a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), a não questionar a constitucionalidade da matéria na CCJ. "O objetivo é promover um aperfeiçoamento da lei, sem nada relaxar ou flexibilizar sua aplicação", garantiu Jereissati.

Para o economista Gilmar Mendes Lourenço, coordenador do curso de Ciências Econômicas do FAE Centro Universitário, entretanto, a medida "abrirá a torneira" para facilitar ainda mais a "gastança" do dinheiro público sem que haja o cumprimento das contrapartidas exigidas pela legislação, diante das dificuldades de fiscalização desses gastos. Apesar de reconhecer que as leis precisam ser aperfeiçoadas com o passar do tempo, ele alerta que não há justificativa plausível para permitir, por exemplo, a contração de novas dívidas para investimentos em programas sociais. "Os programas sociais atendem mais à objetivos eleitoreiros do que às necessidades básicas da população. Estados e municípios não precisam se endividar ainda mais em nome disso", critica.

Por outro lado, o economista José Roberto Afonso, um dos idealizadores da LRF durante o governo FHC, declarou que a proposta possibilitará que estados e municípios "quebrados" consigam recursos para desenvolver programas de modernização da gestão, justamente com o objetivo de superar dificuldades financeiras. "Estados e municípios não poderão contrair empréstimo para obras ou para tampar buraco da folha de pagamento", afirmou, em entrevista ao jornal Valor Econômico. Segundo Afonso, que é assessor do Senado e auxiliou Jereissati a elaborar a proposta, ela "não flexibiliza nada" da LRF.

De acordo

Já a opinião favorável em relação à outra mudança na LRF estabelecida pelo projeto é unânime. A proposta melhora as condições de concessão de crédito pelos bancos públicos para empreendimentos feitos por parcerias entre o setor público e o privado, por meio da ampliação da capacidade de as empresas estatais, que não dependam do Tesouro, prestarem garantia às suas subsidiárias – atualmente, a legislação veda essa possibilidade. "Isso facilitará o aporte de recursos para desobstruir os gargalos na infraestrurtura. Hoje, a principal dificuldade para a economia retomar o crescimento em bases sólidas são justamente os investimentos insuficientes em infraestrutura, que não podem mais ser feitos exclusivamente pelo estado", afirma Lourenço.

Para José Roberto Afonso, a proposta corrige um "detalhe legal" da LRF. "Essa vedação foi colocada na legislação porque, na época de sua tramitação, não havia a perspectiva de parcerias público privada", explicou.

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