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Manifestantes com camisetas pintadas com as iniciais de José Sarney levaram pizza ao Senado para pedir a saída do presidente da Casa | José Cruz/ABr
Manifestantes com camisetas pintadas com as iniciais de José Sarney levaram pizza ao Senado para pedir a saída do presidente da Casa| Foto: José Cruz/ABr
  • Cristovam Buarque: voto de censura para entrar para a História do Senado

Brasília - Cerca de 15 estudantes entraram ontem no prédio do Senado e jogaram três pizzas no corredor que liga os gabinetes dos senadores ao plenário. Eles vestiam camisetas com letras que formaram a frase: "Fora arney". Explicaram que a letra "S" ficou de fora porque seu representante havia sido barrado pela segurança. A Polícia Legislativa do Senado negou que isso tenha ocorrido e disse que o "S" não chegou porque deve ter se perdido no complexo do Congresso.

Para evitar novos protestos contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), a Polícia Legislativa decidiu impedir a entrada de visitantes no prédio hoje. Protestos no Senado são proibidos. Os estudantes só conseguiram fazer o ato porque esconderam as camisetas com as letras, entraram na Casa por portarias diferentes e informaram que iriam visitar gabinetes.

Como eles conseguiram as pizzas ainda é um mistério para a polícia. A suspeita é que algum gabinete de senador as pediu pelo "disque-pizza", o que camuflou a entrada da comida no Senado.

Os estudantes não foram presos, segundo a Polícia Legislativa do Senado, porque saíram pacificamente. Quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou os senadores da oposição de "bons pizzaiolos."

Ofendidos

Os profissionais que fazem pizza não gostaram das declarações do presidente. Ontem, o sindicato paulista que representa esse grupo de trabalhadores chegou a divulgar nota de desagravo, na qual afirma que "uma profissão digna e que merece respeito de toda a sociedade" foi ofendida.

A nota diz que a conotação dada por Lula foi depreciativa. Assinala que a Constituição protege todas as categorias de trabalhadores e não se pode destinar a qualquer profissão nenhuma palavra "que não seja emprego, salário e um futuro digno". Lembra até que se trata se um "ofício secular, nascido em Nápoles (Itália)", que "se ocupa de, democraticamente, produzir o alimento que sacia a fome de ricos e pobres".

Censura

Um dia depois de derrotarem o governo na indicação de um diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), os senadores voltaram ontem a retaliar o presidente Lula, que criticou a oposição pela criação da CPI da Petrobras e chamou os senadores de "bons pizzaiolos". Em represália às declarações de Lula, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) apresentou requerimento de voto de censura contra o presidente da República. Pelo menos, 11 senadores assinaram o requerimento que, agora, será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, antes de ser votado no plenário da Casa.

"Esse voto de censura não visa apenas este momento; visa a História. Daqui a 50 anos, os historiadores vão ver essas declarações que o presidente Lula deu. É para ficar registrado nos anais da História do Senado", explicou Cristovam. "Existem aqueles que podem ser pizzaiolos e ele sabe quais são. Em geral, são os que estão mais próximos a ele hoje. E existem aqueles que não são. Ele generalizou e, com isso, ofendeu toda a nossa instituição", reclamou Cristovam.

Indignados, os senadores fizeram questão de observar que Lula chamou de "pizzaiolos" os parlamentares que são da base aliada. Na CPI da Petrobras, a maioria governista é expressiva – são oito votos do governo contra apenas três da oposição. "A medida em que o presidente Lula diz que vai dar pizza, ele está criticando os próprios companheiros de governo. Só vai dar pizza se a maioria quiser e a maioria está com Lula", observou o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Os governistas também são maioria no Conselho de Ética, que deverá salvar Sarney de ter o mandato cassado.

Às vésperas do recesso parlamentar e com o plenário praticamente vazio, Cristovam conseguiu que seu requerimento fosse assinado por parlamentares não só de oposição: senadores do PTB, do PDT e do PMDB apoiaram o voto de censura, além do DEM e do PSDB.

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