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No Rio, manifestantes invadiram o desfile, assustaram famílias e entraram em confronto aberto com a tropa de choque da PM | Ricardo Moraes / Reuters
No Rio, manifestantes invadiram o desfile, assustaram famílias e entraram em confronto aberto com a tropa de choque da PM| Foto: Ricardo Moraes / Reuters

O que querem?

Fragmentação de grupos e de reivindicações marca as manifestações

Pedro Brodbeck e André Gonçalves

Uma característica dos protestos do Sete de Setembro foi a fragmentação de grupos e da pauta de reivindicações. Em Curitiba, os manifestantes pediram mais investimentos em saúde e educação, e protestaram contra a realização da Copa do Mundo e o voto secreto no Congresso. "Queremos mostrar que o povo ainda está unido desde o que aconteceu em junho", disse o advogado curitibano Tiago Gianni. Mas a pauta em cada cidade tinha variações significativas. Em Brasília, havia vários grupos diferentes entre os manifestantes – entre mascarados, anarquistas, servidores públicos, representantes de entidades da sociedade civil, feministas. E as principais bandeiras foram o combate à corrupção, o fim do voto secreto, a prisão dos condenados no julgamento do mensalão e a reforma política. O forte esquema de segurança obrigou a todos a passar por revistas em barreiras policiais. Até mesmo o servidor público Paulo Alves da Silva, de 80 anos, manifestante "independente" que carregava uma faixa com reivindicações como o fim do voto secreto, precisou deixar o mastro de sua bandeira para prosseguir. "Não tem problema, o importante é mostrar para todo mundo que o povo está na rua", disse.

  • Policiais de Brasília usaram spray de pimenta para afastar manifestantes do prédio do Congresso
  • Ferida é atendida no Rio
  • Clima foi tenso entre policiais e manifestantes na capital paranaense
  • Impedido pela PM de realizar protestos durante o desfile oficial, o grupo ocupou pacificamente a via após o fim do desfile
  • Foram apreendidos máscaras pretas, materiais explosivos caseiros, estilingues, bombas de tinta sprays, bolinhas de gude e fogos de artifício

O Sete de Setembro foi marcado nas principais cidades brasileiras por protestos e pelo esquema de segurança reforçado no entorno dos tradicionais desfiles militares para evitar que manifestantes se aproximassem das autoridades. As passeatas de rua não chegaram a reunir a multidão que havia saído às ruas em junho. Mas, ainda assim, em várias cidades, incluindo Curitiba, o clima estava tenso entre manifestantes e policiais.

Confira o vídeo feito na manifestação do dia 7 de setembro

No Rio de Janeiro, ocorreu o maior tumulto. Bombas de gás lacrimogênio chegaram a ser lançadas para conter os manifestantes, que conseguiram invadir o desfile. Houve feridos e presos. Depois disso, parte deles rumou ao centro do Rio e, no Monumento a Zumbi, queimou uma bandeira do Brasil e hasteou uma bandeira negra, símbolo do anarquismo. Até o fechamento da edição, permaneciam nas ruas.

Em Brasília, após o fim do desfile, que transcorreu sem incidentes graves, um grupo de manifestantes se aglomerou em frente do Congresso. A polícia chegou a usar spray de pimenta para evitar que a barreira de segurança fosse rompida e eles chegassem à sede do Legislativo. À tarde, manifestantes seguiram para o Estádio Mané Garrincha, onde a seleção do Brasil jogaria com a Austrália. Em São Paulo, um protesto fechou a Avenida Paulista – tradicional ponto de manifestações da cidade.

Ao redor de todo o país aconteceram prisões de mascarados e de pessoas que carregavam materiais que poderiam ser usados em atos de vandalismo. A tensão também contribuiu para afastar o público que tradicionalmente acompanhava os desfiles militares. Em geral, menos pessoas compareceram. E, onde houve tumulto, como no Rio, a confusão afastou famílias que assistiam à parada militar.

Em Brasília e em Curitiba, apenas 5 mil pessoas acompanharam o desfile. O número, nas duas cidades, foi considerado fraco em relação ao Sete de Setembro de anos anteriores. O mesmo ocorreu em Campinas. Em Minas Gerais, algumas cidades cancelaram o desfile temendo confusão. Em Natal, a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, decidiu não participar das solenidades por temer embate com manifestantes.

Em São Paulo também teve bem menos público. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que participou do evento, passou pela saia-justa de assistir ao protesto de familiares de policiais, que estenderam em frente do palanque oficial faixas pedindo melhores salários para a categoria.

Curitiba teve 27 detidos e público reduzido na parada militar

Chico Marés, Pedro Brodbeck e Angieli Maros

O feriado do Sete de Se­tem­bro em Curitiba teve clima tenso entre policiais e manifestantes, prisões e um desfile esvaziado. Cerca de 5 mil pessoas estiveram na Avenida Cândido de Abreu para ver a parada militar, segundo a polícia. O público equivale a um terço do que foi registrado nas comemorações do ano passado, quando 15 mil pes­soas estiveram presentes.

Os atos oficiais ocorreram paralelamente a um protesto que chegou a reunir cerca de mil pessoas e que acabou com 27 manifestantes detidos para prestar esclarecimentos, segundo informações da Polícia Militar.

Na capital paranaense, a manifestação teve como ponto de concentração a Praça Santos Andrade, no Centro. O ato registrou um primeiro tumulto ainda na praça, por volta das 9h15, depois que a PM chegou ao local de concentração e começou a revistar cerca de 50 participantes do movimento "black bloc", que usam máscaras durante os protestos. Manifestantes tentaram impedir a ação policial. Ainda assim, eles foram revistados e identificados pela polícia. Durante a revista, a polícia encontrou junto deles martelos e pilhas.

O tumulto se encerrou e, sob escolta da tropa de choque da PM, os manifestantes seguiram para a Avenida Cândido de Abreu. Após negociação com a PM, ficou decidido que os ativistas poderiam ter acesso à avenida somente após o fim do desfile oficial. A tropa de choque ficou nos acessos da avenida para barrar tentativas de invasão do desfile. O clima era tenso. Mas os ativistas só marcharam pela avenida após o encerramento do desfile. Depois, voltaram ao Centro e se dispersaram.

Desfile

O desfile ocorreu sem transtornos. As autoridades presentes – dentre as quais o governador Beto Richa (PSDB) e o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT) – chegaram próximo do horário de início do evento e não realizaram discursos prolongados.

"O Sete de Setembro é uma data histórica em que comemoramos o amor que temos pelo nosso país", disse Richa. A respeito das manifestações, o governador defendeu a legitimidade dos protestos sem violência. "É compreensível que haja manifestações pacíficas. Há um acúmulo de insatisfações. É uma panela de pressão que explodiu."

O prefeito de Curitiba também tocou no assunto. Segundo ele, os protestos são importantes porque têm trazido bons resultados para o país. Fruet destacou o caso dos cicloativistas que conseguiram colocar na pauta da administração municipal a questão das ciclovias na capital. "É importante renovar essa tradição [de comemoração da Independência do Brasi] e entender que é também um momento de manifestação", disse.

Veja fotos dos protestos e confrontos em Curitiba

Protesto reúne mil pessoas no Dia da Independência

Manifestantes desfilaram pela Avenida Cândido de Abreu após apresentação oficial das Forças Armadas.

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