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Gravação

Trecho da gravação de uma conversa de Protógenes com o delegado da PF Roberto Ciciliati Troncon Filho, então diretor de Combate ao Crime Organizado, confirma a participação da Abin na Satiagraha.

Troncon – Tinha agentes da Abin trabalhando conosco?

Protógenes – Não! Os agentes da Abin trocaram informações conosco. Isso eu faço há dez anos dentro da Divisão de Inteligência (da PF). A requisição de agentes da Abin, para coletar dados, informações, é normal.

Troncon – Teve requisição de agentes da Abin para trabalhar (no inquérito sobre Daniel Dantas)?

Protógenes – Não. A requisição não é expressa. A requisição é informal.

Troncon – Como assim? Eu não entendi.

Protógenes – Para confirmação de endereço. Confirmação de endereço de "a" e "b", coisas que a gente não tinha tempo de fazer. Pedíamos a confirmação e eles nos informavam. Apenas isso.

Troncon – (Agentes da Abin) trabalharam no caso específico?

Protógenes – Na análise específica, não. Agora, possivelmente, nós pretendemos instrumentalizar (sic), haja vista que existe o chefe, o secretário do presidente da República (Gilberto Carvalho), e isso já é uma questão de Estado. Isso vai ser instrumentalizado (sic) com a colaboração ou não, para a Abin tomar providências... (e ver) se houve ou não ameaça efetiva ao gabinete do presidente da República.

Novas revelações do teor da conversa do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz com a cúpula da PF podem complicar ainda mais a vida do responsável pela Operação Satiagraha. Segundo reportagem do jornal O Globo, publicada neste fim de semana, naquela reunião, no dia 14 de julho, em São Paulo, Protógenes informou aos seus chefes sobre um "trabalho de inteligência", aparentemente em andamento naquele dia, no qual um dos alvos era o Supremo Tribunal Federal (STF).

Na reunião, Protógenes ainda explicou porque não revelou a seus superiores na PF a decisão judicial que levou à prisão dos suspeitos, incluindo o banqueiro Daniel Dantas, mais tarde solto graças a um habeas corpus dado pelo presidente do STF, Gilmar Mendes. Ele teria recebido ordens do juiz Fausto De Sanctis, responsável pelo caso, para não informar nada, porque "era temerário" e havia risco "de não execução das prisões". Além de Dantas, foram presos o ex-prefeito paulistano Celso Pitta e o empresário Naji Nahas.

"Se fôssemos surpreendidos com HC (habeas corpus a favor dos acusados) no dia seguinte (dia da operação), com cópia da decisão, acredito que o Departamento de Polícia Federal ficaria em maus lençóis. E o juiz nunca iria acreditar que não fomos nós que tínhamos repassado a cópia. Foi para preservar o Departamento de Polícia Federal", afirmou Protógenes, durante encontro com seus superiores.

A reunião de três horas, cuja gravação, na íntegra, foi obtida pelo O Globo, expõe a irritação da cúpula da Polícia Federal com os procedimentos da equipe de Protógenes e a indignação do delegado da Satiagraha com as críticas aos métodos usados na investigação. O responsável pela Operação Satiagraha chega, inclusive, a insinuar que, se o inquérito fosse adiante, teria revelações a fazer sobre os bastidores do caso. "Houve óbices para que a operação não saísse", afirmou o delegado. Até então, a Polícia Federal só havia divulgado trechos mais amenos da conversa, entre os quais elogios de Protógenes ao suposto apoio recebido dos superiores e explicações sobre o seu afastamento do caso.

Abin

Na conversa com seus chefes, Protógenes deixa claro ainda que o então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, ex-dirigente da Polícia Federal e ex- chefe do próprio delegado, teve participação direta e ativa na condução do inquérito até a etapa final, a fase de prisões de suspeitos. No dia das prisões, por exemplo, Lacerda trabalhou na sede paulista da Polícia Federal. Ele orientou o delegado até em detalhes como não comparecer ao prédio da polícia na véspera das prisões, para evitar suspeitas e eventual vazamento de informações.

A reportagem do jornal O Globo também mostra que Nery Kluwe, presidente da Associação dos Servidores da Abin (Asbin), é um dos suspeitos de produzir e divulgar o grampo ilegal de telefonema entre o presidente do Supremo Tribunal Federal e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O STF, por meio de sua Secretaria de Comunicação, informou que a gravação da conversa entre o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz com seus chefes reafirma "o que já se sabia e já havia sido denunciado: que o gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal foi vítima de espionagem ilegal".

A Polícia Federal não quis se manifestar por considerar que o teor da reunião interna de trabalho da PF é reservado. A gravação foi fornecida apenas ao grupo de controle externo da polícia no Ministério Público Federal, à CPI do Grampo e à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.

Em nota, a Abin reiterou a informação de que a sindicância do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que investiga a atuação da agência não foi concluída e que "carece totalmente de fundamento" apontar suspeitos ou indícios referentes ao grampo ilegal da conversa entre Mendes e Demóstenes.

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