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"Essa dupla promete"

Rodrigo Rocha Loures, chefe de Relações Institucionais da vice-presidência da República (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)

Como o vice-presidente encara o trabalho que vem fazendo? Há embate com o PT?

O PMDB é governo, compartilha a presidência, então, por esta razão, não há conflito com o PT. Mas, como são os dois maiores partidos, é natural que haja um certo conflito na ocupação de espaços. Por outro lado existem muitas forças que ficam procurando identificar uma tensão entre PMDB e PT.

Como são feitos os encontros políticos no Palácio do Jaburu, residência de Temer?

Como ele é vice-presidente e presidente do PMDB, as decisões do governo são comentadas lá. Mas não tem nada de conspiração. O que está acontecendo é que o PT tem encontrado dificuldades em função de suas posições internas para conviver com outros partidos da base, e às vezes é mais fácil chamar atenção para outro partido, como o PMDB, do que para seus próprios problemas.

Na sua opinião, a liderança de Temer no Congresso tem se destacado pela falta de articulação da presidente Dilma?

Quando ele se elegeu vice, ele era presidente da Câmara, e já tinha o papel de principal articulador. Seria um problema se ele resolvesse se ocupar da mesma atividade dela, de querer ser um gestor. Ela é muito firme, comprometida em fazer avanços importantes no país, e ele é muito habilidoso e um profundo conhecedor da norma constitucional. Essa dupla promete.

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"É o vice que escolhemos"

André Vargas, deputado federal e secretário de Comunicação do PT (Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo)

Como o PT vê a atuação do vice-presidente Michel Temer? Ele ganhou destaque com as crises recentes?

Quando fizemos a aliança com o PMDB, sabíamos exatamente qual seria a dimensão da aliança, com um partido muito bem articulado. E sabíamos que Temer é um dos mais habilidosos políticos. Ele tem desempenhado esse papel com lealdade ao governo. Ele é um vice com opinião, tem peso e articulação. É o vice que escolhemos.

Mas há quem aponte o vazamento de conversa com Temer e Palocci como fator importante para a queda do ex-ministro.

O Palocci saiu porque teve uma ação empresarial incompatível com a função pública. Caiu por uma questão pessoal. O PMDB, ao contrário, agiu para mantê-lo no governo, mas era impossível. Nem sei se aconteceu o telefonema, mas ninguém se dirige ao vice-presidente da República naqueles termos. Sou do PT, mas defendo também nossa aliança.

Entre os dois partidos, o PMDB parece estar mais unido do que o PT. O que acha?

É verdade. O PMDB está muito unido. Mas o PT só teve uma votação com derrota, uma emenda do Código Florestal. O código, uma demanda da sociedade, já avançou muito. Mas compete ao PT tomar juízo e agir de forma unida. Não pode cada um votar como quer. Somos um partido, e somos governo. Podemos até divergir, mas tem que ser uma divergência unida, não pontual. (RF)

Ele está lá para apagar incêndios, mas há quem veja o risco de ele provocar alguns por conta própria. Uma das principais qualidades do vice-presidente Michel Temer (PMDB) é a habilidade política em negociar com os congressistas, justamente uma das maiores deficiências da presidente Dilma Rousseff (PT). Esse atributo, entretanto, tem sido tão acionado que surgem questionamentos sobre a atuação daquele que é o segundo na hierarquia da República.

Publicamente, nenhum pe­­tista reclama de Temer. E os peemedebistas gostam de exaltar as boas relações entre os dois maiores partidos da base aliada. Na semana passada, em um almoço com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e congressistas do PT, um grupo do PMDB serviu um bolo de casamento, para "selar" a união entre Dilma e Temer.

O evento ocorreu bem no meio da crise no Ministério dos Transportes, que atingiu em cheio o Partido da República (PR). Desta vez, o PMDB fez de tudo para não se envolver no olho do furacão. Enquanto se discutia quem assumiria a pasta, o partido fez questão de dizer que não tinha interesse, mas deu apoio à presidente. E ainda promoveu o evento com o bolo, com bonequinhos de Dilma e Temer.

Ainda é cedo para saber se o PMDB vai manter a linha de "felizes para sempre" com a presidente. De acordo com especialistas, Temer, o maior articulador peemedebista, não tem perfil para manter a lua de mel. Na crise que culminou com a queda de Antonio Palocci e a ascensão de Gleisi Hoffmann à Casa Civil, por exemplo, o vice-presidente teve um papel central. Nas declarações públicas, ele defendeu o ministro. Mas o vazamento de uma discussão áspera dos dois é tido como fundamental para a perda de sustentação política de Palocci.

Segundo informações do jornal O Globo, na noite do dia 24 de maio, Palocci telefonou para Temer e ameaçou tirar ministérios do PMDB caso os deputados do partido não acompanhassem o governo na votação do Código Florestal. O vice-presidente teria colocado a conversa no viva-voz, para que outras pessoas ou­­vissem. Posteriormente, Palocci desculpou-se com Te­­mer, ao mesmo tempo em que engolia a derrota do governo na votação. Mas a situação ficou insustentável e o petista perdeu o cargo.

Muito hábil

De acordo com o cientista político Rudá Ricci, esse acontecimento mostra bem o perfil de Temer. "Veja só a iniciativa dele de receber uma ligação e colocar no viva-voz. Ele é muito hábil, o pior dos inimigos", opina. Temer, com vasta experiência no Congresso – com cinco mandatos de deputado federal por São Paulo –, sabe como negociar em Brasília. "Politicamente, ele é mais forte que a Dilma. E esse é um grande problema para qualquer titular, tem um vice tão poderoso", avalia Ricci.

O PMDB, que tem a maior bancada do Senado (20, de um total de 81) e a segunda maior da Câmara (79, de 513) é fundamental para a governabilidade. E, apesar de fazer parte do governo federal, o apoio às causas do Planalto não é automático. E aí que Michel Temer ganha destaque: em uma frente, convencendo os correligionários sobre o caminho a ser seguido, e, em outra, batalhando por espaço, cargos e verbas para o PMDB. "Mas, na medida em que abre esse espaço, acaba criando um vácuo para outros aliados e partidos agirem, e os insatisfeitos todos pedem algo em troca para diminuir o peso político do PT", diz Ricci.

"O Temer tem perfil, tem atuação, tem prestígio no partido. Chegou à vice-presidência pela biografia dele. Por isso tudo, é natural seu protagonismo, é correspondente e era algo totalmente previsível", afirma o cientista político Octaciano Nogueira. Segundo ele, o PT já sabia de tudo isso ao oficializar a aliança com o PMDB.

Toda essa força não representa, necessariamente, um perigo à presidente Dilma Rousseff. "Ele é corresponsável pela gestão", explica Nogueira. Mesmo que a residência oficial do vice-presidente, o Palácio do Jaburu, seja palco de várias reuniões políticas, a desconfiança de que o local seja um local de conspiração é tida como um tanto exagerada. Ricci faz ressalvas, e afirma que o interesse do PMDB, assim como o do ex-presidente Lula, é para que Dilma faça um bom governo. "Mas nenhum deles quer ela tão forte", diz.

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