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O resultado das eleições deste ano detonou um processo de mudanças internas no PSDB, o maior derrotado nas urnas, ao lado do aliado PFL. Depois de ver o número de governadores reduzido de sete para seis e de encolher em quantidade de votos em todo o país, atrás de PT e PMDB, "convergência" e "regionalização" passaram a ser as palavras da vez no partido.

O governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves, defende uma reforma programática e a regionalização de suas bases. Em entrevista à Globo News, ele defendeu a formação de "um novo PSDB, mais plural nas suas decisões e nacional na sua estrutura", e que avance em determinadas regiões do país, como o Nordeste, "não apenas com propostas às vespéras da eleição".

Segundo o governador mineiro, a derrota de Geraldo Alckmin para o presidente Lula nas eleições na região Nordeste foi reflexo dessa falta de regionalização. Para Aécio, "um partido com a importância do PSDB não poderia ter tão pouca inserção e intimidade com o Nordeste". "Não considero uma derrota do Geraldo, considero uma derrota do PSDB."

O senador Alvaro Dias, do Paraná, compartilha a opinião de seu colega mineiro. Segundo ele, o partido deve reconhecer a importância política das lideranças regionais vitoriosas nas urnas. "Não há como se ter um partido nacional forte com força prevalente de apenas dois ou três estados sem se reconhecer as lideranças regionais," afirmou.

Crítica

Na prática, a declaração é uma crítica ao domínio de São Paulo e de Minas Gerais na estrutura do partido, evidenciada no processo de escolha do candidato tucano à Presidência. O nome só foi homologado depois que Aécio Neves (Minas), Fernando Henrique Cardoso (São Paulo) e Tasso Jereissati (Ceará) -- este na condição de presidente do partido -- bateram o martelo em favor de Alckmin.

"Esse modelo de colégio eleitoral não foi adequado", afirmou. A disputa pela indicação acabou deixando marcas no partido. Além do pequeno engajamento de setores do tucanato na campanha de Alckmin, como o do próprio grupo ligado a Serra, a disputa gerou uma série de rumores sobre a formação de outro partido com caciques do PSDB.

Para o deputado federal eleito José Aníbal, o partido deve ampliar o diálogo com siglas menores e definir uma pauta única para nortear suas ações durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Aníbal, as discussões internas sobre a direção do partido só devem ocorrer no ano que vem, quando termina o mandato do senador Tasso Jereissati. "O PSDB tem que balançar a roseira, com uma pauta mobilizadora e que crie convergência", disse.

O deputado afirmou que a idéia é o partido incorporar a pauta proposta pelo candidato derrotado à Presidência, Geraldo Alckmin, de crescimento econômico conjugado com equilíbrio das contas públicas. "Nós perdemos a eleição, mas ganhamos uma pauta. Temos que ter clareza sobre essa pauta", disse.

Aníbal disse que o partido deve "comunicar melhor" suas propostas, para atingir o público externo. Para ele, essa foi uma das razões para a derrota de Alckmin. O discurso do deputado reflete o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que diz que o partido deve "falar com o povo".

Além da defesa de uma melhor divulgação de suas propostas, o deputado defendeu a conversa com partidos menores, muitos dos quais correm o risco de serem extintos pela cláusula de barreira. Segundo ele, FHC deve ser o interlocutor dessas conversas.

Para o cientista político Bolivar Lamounier, a reavaliação interna pela qual o PSDB começa a passar acontece no momento apropriado. Segundo ele, a eleição de Lula para seu primeiro mandato, a eclosão de escândalos iniciados com o caso Waldomiro Diniz e as eleições deste ano acabaram impedindo que isso acontecesse antes, de forma aprofundada.

"Esse processo é normal e está sendo feito num momento importante para o país e para o partido. Vale a pena lembrar que Fernando Henrique governou de 1995 a 2002. Nesse período, houve evidentemente muitas conversas informais, mas poucas de caráter formal, na esfera partidária", disse Lamounier.

Política de aliançasOutro ponto que deve ser mantido nas discussões internas do partido é a manutenção da aliança estratégica com o PFL. Membros do partido já tinham manifestado a possibilidade de pôr fim à aliança, mas segundo o senador José Agripino (PFL-PI), isso não vai acontecer. "É uma questão de sobrevivência dos dois partidos", disse.

Porém, para o deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP), vice-governador eleito na chapa de José Serra, "ainda é cedo" para se discutir o impacto eleitoral e os caminhos que o partido deve tomar a partir do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ainda não sentamos para discutir. Nem temos data para isso", afirmou.

Goldman disse que as articulações do governo para garantir maioria na Câmara e no Senado, principalmente a partir de uma aliança com o PMDB, eram uma "iniciativa legítima". "Deixa ele (o governo) buscar sua maioria. Mais para a frente a gente vê o que vai fazer, depois de assentar a poeira."

O deputado não quis comentar as relações entre o seu partido e o PFL no segundo mandato de Lula. "Ainda é muito cedo para falar disso", declarou.

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