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mensalão mineiro

Relator no STF aceita denúncia contra Azeredo por lavagem de dinheiro

Joaquim Barbosa já havia votado pela abertura de ação por peculato. Dez ministros ainda devem votar no julgamento do mensalão mineiro

O ministro Joaquim Barbosa, relator do inquérito do mensalão mineiro no Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta quinta-feira (5) pela abertura de uma ação penal contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) por lavagem de dinheiro. Na quarta (4), no começo do julgamento do inquérito, o ministro já havia aceitado denúncia contra o parlamentar pelo crime de peculato (quando o agente público se aproveita do cargo que ocupa para obter vantagem em proveito próprio ou alheio).

Em plenário, dez ministros ainda terão direito a voto. Eles deverão decidir entre aceitar ou não a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF), que acusa Azeredo de envolvimento com a suposta formação de caixa dois para sua campanha à reeleição para o governo de Minas Gerais, em 1998. Se aceita a denúncia, o tucano passará à condição de réu em ação penal a ser julgada pelo próprio Supremo.

Joaquim Barbosa destacou que o esquema de lavegem de dinheiro fica demonstrado a partir da comprovação de que empresas de Marcos Valério, apontado como o operador do caixa dois da campanha, receberam recursos públicos para a prestação do serviço de publicidade. As verbas chegaram na forma de patrocínios de eventos esportivos bancados por estatais mineiras.

Segundo a denúncia, parte da verba era repassada para uma empresa intermediária, que transferia o dinheiro público para as contas da campanha no formato de doação. No entanto, os empresários teriam tomado empréstimos fictícios para comprovarem a origem lícita do recurso que era doado ao comitê de campanha.

"Ocultaram a origem aparentemente criminosa desses recursos. [A denúncia] Confirma fartamente que o dinheiro deriva de recursos públicos destinados de companhias estatais", explicou o relator. "As empresas de Marcos Valério não tinham nenhuma participação formal na campanha. Só entram para proceder a lavagem de dinheiro", completou.

Barbosa citou o parecer do MPF, que destaca que "nenhuma empresa toma empréstimos bancários para distribuir lucros". O relator observou ainda que os laudos periciais mostram saques de até R$ 1 milhão em espécie, fato que, segundo o ministro, contraria normas do Banco Central.

Peculato

Na quarta-feira (4), quando o julgamento foi iniciado, Joaquim Barbosa já havia aceitado a denúncia contra o então governador pelo crime de peculato. Na ocasião, o relator destacou que não há dúvida sobre a existência de "indícios de que o acusado tinha conhecimento do desvio de recursos e queria praticá-lo". No total, segundo a denúncia, houve desvio de R$ 3,5 milhões dos recursos repassados pelas companhias estatais.

Segundo Joaquim, Azeredo teria recebido R$ 4,5 milhões do grupo do empresário Marcos Valério, em plena campanha, para quitar "compromissos diversos". O fato é comprovado, segundo o ministro, por um recibo assinado pelo próprio tucano.

Em entrevista coletiva nesta tarde, porém, o senador classificou como "falsas" as provas apresentadas pelo magistrado e levantou suspeita sobre o recibo citado por Barbosa. Azeredo afirmou que o documento já é objeto de processo dele contra um suposto lobista, que, segundo ele, receberia passagens de um deputado do PT mineiro para viajar a Brasília.

O ministro rebateu as declarações. "O que eu tinha a falar sobre isso eu já disse ontem [quarta]. Não há uma única palavra na defesa do acusado sobre esse recibo de R$ 4,5 milhões. Esse recibo consta da denúncia e a defesa silenciou-se completamente sobre ele", afirmou. O recibo no valor de R$ 4,5 milhões está citado na página 34 da denúncia oferecida pelo MPF.

Defesa

Na defesa de Azeredo, o ex-ministro José Gerardo Grossi desqualificou a denúncia feita pelo MPF. "Não diz onde, quando e de que maneira [os fatos ocorreram]", destacou. "A denúncia não indica um ato de Azeredo com participação de obtenção de dinheiro. Descreve muito sinuosamente, indo para lá e para cá, trazendo coisas impertinentes. O dinheiro de Minas tinha contratos devidos de licitações", acrescentou Grossi.

Outros denunciados por suposto envolvimento com o mensalão mineiro que também seriam julgados pelo STF passaram a responder o inquérito na Justiça Federal de Minas Gerais. Em maio, o inquérito acabou desmembrado por Joaquim Barbosa. Assim, acusados como o empresário Marcos Valério e o ex-ministro das Relações Institucionais Walfrido dos Mares Guia, então coordenador da campanha de Azeredo, passaram a responder ao processo em Minas.

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