Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Administração portuária

Relatório aponta 57 irregularidades na gestão dos portos

Inspetoria do TC recomenda desaprovação das contas de 2004 da Appa, que na época era comandada por Eduardo Requião. Julgamento ocorrerá hoje

Eduardo Requião: risco de inelegibilidade se as contas forem reprovadas | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Eduardo Requião: risco de inelegibilidade se as contas forem reprovadas (Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo)

Relatório da inspetoria-geral de controle do Tribunal de Contas do Paraná (TC) revela que a Ad­­­­ministração dos Portos de Para­­naguá e Antonina (Appa) cometeu 57 irregularidades em 2004, Na época, os dois portos eram comandados por Eduardo Requião – irmão do senador e ex-governador Roberto Requião (PMDB). Com base nesse relatório, ao qual a Gazeta do Povo teve acesso, a inspetoria e o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas (MPjTC) emitiram um parecer recomendando a reprovação das contas do ex-superintendente. O julgamento das contas de 2004 da Appa está marcado para hoje à tarde no TC. Se elas forem reprovadas, o ex-superintendente pode sofrer punições como a inelegibilidade – desde que a não aprovação seja confirmada em votação da Assembleia Legislativa.

O relatório da inspetoria-geral foi elaborado em 2005, embora só agora o caso tenha entrado na pauta de julgamento. O documento, assinado pelo oficial de controle Onivaldo Ferreira dos Santos e pela chefe de serviço Danielle Moraes Sella, informa que "não foi possível constatar a regularidade das contas da Appa, sob os aspectos técnico-contábeis, assim considerada a execução orçamentária, financeira e patrimonial".

O relatório aponta ainda a existência de 57 irregularidades, tais como falhas de fiscalização, problemas de gestão, falta de investimentos e erros em licitações. Outras deficiências apontadas são a falta de dragagem de aprofundamento do canal de acesso e da bacia de evolução do Porto de Paranaguá, falha na fiscalização dos contratos de limpeza do cais e erros no contrato de dragagem firmado com a empresa Bandeirantes.

O parecer do procurador do MP junto ao TC, Laerzio Chiesorin Junior, também pede a desaprovação das contas de Eduardo Requião. "(...) A gestão apresentou-se deficitária com relação ao atingimento dos objetivos de interesse público que justificam o porto público, e falha em atender às variadas normas que governam a atividade estatal; como por exemplo a legislação licitatória e financeira", afirma ele.

No documento, o procurador pede para que o Porto de Paranaguá seja oficiado a resolver algumas das deficiências e aconselha a Appa "realizar as devidas contratações para garantir a limpeza das áreas portuárias, bem como investir os recursos financeiros necessários para tais serviços, (...) melhorar as condições de manutenção rotineira do pavimento, (...) manter contrato de manutenção corretiva e preventiva da sinalização náutica, evitando as contratações por emergência".

Defesa

O ex-superintendente da Appa Eduardo Requião foi procurado ontem pela reportagem, mas preferiu não se manifestar sobre o relatório

No processo que será julgado hoje pelo TC, o ex-superintendente Daniel Lúcio Oliveira de Souza – investigado na Operação Dallas da Polícia Federal (leia mais no quadro) – defende vários dos procedimentos adotados pela administração de Eduardo Requião e pede a aprovação das contas do antecessor. A defesa da antiga gestão foi apresentada por Daniel Lúcio em março de 2010, quando ele ainda exercia o comando da Appa.

Eduardo Requião será defendido hoje durante o julgamento no TC por Pedro Henrique Xavier, advogado particular do ex-superintendente. A defesa apresentada pelo advogado no processo dá uma indicação da argumentação que será usada: ele procurará tentar eximir Eduardo Requião de culpa por acreditar que os erros de gestão apontados são de responsabilidade dos funcionários do porto.

"Os deveres supostamente descumpridos compõem o plexo de atribuições de outros agentes que não o administrador da autarquia [a Appa]. (...) Como se sabe, tais competências são intransferíveis e de exercício obrigatório. Assim, não há como simplesmente desprezar a distribuição normativa dos deveres-poderes entre os diversos órgãos da entidade para o fim de atribuí-los todos unicamente ao seu superintendente", escreveu Xavier em janeiro deste ano.

Problemas

Confira algumas das 57 irregularidades de gestão na Appa referentes a 2004:

Falta de investimentos

O relatório do TC critica a gestão da Appa por não ter realizado investimentos, como o aprofundamento do canal de acesso ao porto, e ampliações, apesar de ter dinheiro em caixa. O Porto de Paranaguá teve um superávit de R$ 13,2 milhões em 2004. Documento apresentado em março de 2010 pelo ex-superintendente Daniel Lúcio Oliveira de Souza afirma que não havia como realizar o serviço de aprofundamento por falta de licenciamento ambiental.

Contrato de dragagem

O parecer do TC critica a retomada do contrato de dragagem com a empresa Bandeirantes. Em janeiro de 2003, o contrato com a empresa foi rompido e iniciou-se uma batalha judicial entre a Bandeirantes e a Appa. Porém, em 2004, com a necessidade de realizar dragagem, o contrato com a empresa foi retomado. Segundo o documento, a Appa pagou R$ 6,2 milhões entre fevereiro e outubro de 2003 (quando o contrato estava vigente) e R$ 5 milhões correspondente ao período em que o contrato não estava vigente, entre outubro de 2003 e maio de 2004. "A atitude da Appa em aceitar a retomada do contrato, nestas condições, é no mínimo estranha, já que considerava a empresa inadimplente por não realizar os serviços de dragagem", diz o relatório. A Appa defendeu a medida, dizendo que todas as outras empresas procuradas cobraram em média quase 150% mais caro que a Bandeirantes.

Arrendamentos

O TC aponta que o porto não tem controle das áreas que arrendou a terceiros.

Contrações de emergência

O relatório da inspetoria do TC afirma que as constantes contratações por emergência no Porto de Paranaguá comprovam a falta de planejamento da superintendência. O relatório cita o exemplo da empresa Seahorse Serviços Subaquáticos que recebeu R$ 25,8 mil para realizar serviços de reparo e relocação de bóias de sinalização. O TC diz que a Appa deveria ter a formalizado o processo de dispensa de licitação autorizada pelo governador. Outro exemplo é o de acompanhamento batimétrico (medição de profundidade), que também é contratado sempre em caráter de emergência. "Recomendamos que a Appa mantenha um contrato com empresa especializada, para executar o monitoramento periódico da profundidade do canal de acesso e bacia de evolução, informando à Autoridade Marítima a respeito do calado máximo de operação dos navios".

Fonte: Processo 178.807/05 do TC-PR

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.