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Atualizado em 16/11/2006, às 18h41

O relatório preliminar da comissão de investigação sobre o acidente entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato Legacy da empresa americana ExceAire apresenta um conjunto de problemas que podem ter provocado o choque entre os dois aviões, entre eles 26 tentativas de comunicação frustradas entre o centro de controle de tráfego aéreo de Brasília e o Legacy. Os pilotos do jatinho tentaram falar com a torre de controle de Brasília um segundo antes do choque, ocorrido às 16h56m54s do dia 29 de setembro. De acordo com o relatório, a asa esquerda de um avião tocou na asa esquerda do outro. O Boeing levou pouco mais de um minuto para chegar ao chão.

Mas a comissão informa que as análises ainda são preliminares, e que não é possível apontar com clareza a causa exata do desastre, que matou 154 pessoas, na maior tragédia da avisação comercial brasileira. O relatório apresenta informações básicas sobre os vôos e as comunicações por rádio, mas não tira conclusões a partir de detalhes das caixas-pretas de voz e dados, que ainda serão analisados durante meses.

Ao apresentar o relatório preliminar sobre o desastre, o presidente da comissão de investigação, coronel Rufino Antônio da Silva Ferreira, disse que a disposição dos destroços do Boeing "caracteriza o quanto a aeronave da Gol se desintegrou" no ar. Segundo ele, os pilotos não perceberam a aproximação da outra aeronave, e por isso não fizeram nenhuma tentativa de evitar a maior tragédia da aviação comercial brasileira.

- Ninguém viu ninguém. Não houve percepção visual e nenhuma tentativa de evasão ou manobra. Se tivesse ocorrido, estaria registrado. E não há registro.

No relatório, os investigadores descrevem a trajetória e os procedimentos adotados pelo Boeing da Gol e pelo Legacy do momento da decolagem até o choque, no norte do Mato Grosso. O documento informa que, antes da colisão, o controle de tráfego aéreo de Brasília e o Legacy tentaram se comunicar por 26 vezes. O Legacy fez 19 tentativas de contato com a torre de Brasília, sete delas entre as 16h54m16s e as 16h56m53s. Às 16h53m39s, o Legacy conseguiu ouvir a última das sete chamadas do centro de Brasília, feita às cegas, já que jato não estava mais no radar. O centro de Brasília orientava o jatinho a chamar o centro de controle da Amazônia. Como não conseguiram copiar as freqüências, os pilotos do jatinho responderam ao chamado do centro de Brasília às 16h56m53s pedindo que fossem repetidos os decimais da primeira freqüência informada. O centro de Brasília não recebeu essa mensagem.Combo mostrando os aviões acidentados da Gol e da Embraer - Reuters O relatório sugere ainda falhas na comunicação entre o radar do centro de controle de Brasília e o transponder do Legacy. O transponder mede a altitude em que o avião está voando. Também não houve comunicação do TCAS do Legacy e o do Boeing. O equipamento poderia ter impedido a colisão, mas ele só funciona se o da outra aeronave também estiver ligado.

Os investigadores de vôo também sabem que o plano de vôo proposto inicialmente para o Legacy não foi seguido. Os oficiais sustentam, no entanto, que o plano autorizado pelo centro de Brasília pode ter sido diferente do documento original, feito pelo centro de São José dos Campos. Essas mudanças podem ocorrer, dependendo da intensidade do tráfego. Para esclarecer melhor esse aspecto, a comissão de investigação deverá agora identificar o plano de vôo autorizado pelo centro de comando de Brasília e comparar as informações com a rota seguida pelo Legacy.

Rufino confirmou que o Legacy manteve a altitude de 37 mil pés entre São José dos Campos e o local do acidente. O plano de vôo previa altitude de 37 mil pés até Brasília, 36 mil de Brasília até Teres ( ponto cartográfico 480 quilômetros a noroeste de Brasília) e e de 38 mil dali até Manaus, mas disse que qualquer conclusão neste momento seria prematura.

No início de sua apresentação, o coronel frisou que o objetivo da comissão não é apontar culpados, mas sim, evitar novos acidentes.

- Não é nossa intenção o apontamento de culpa ou de responsabilidades, e sim, evitar novos acidentes - afirmou. - Até agora, não tenho uma forma de dizer com exata certeza como os aviões colidiram. Precisamos ter a mente aberta, não ter noções preconcebidas.

Os advogados dos pilotos do Legacy Joe Lepore e Jan Paladino, cujos passaportes estão retidos desde o acidente, tiveram nesta semana pedido negado pela Justiça para que seus documentos sejam devolvidos.

Parentes das vítimas do acidente entraram com processos nos Estados Unidos contra a ExcelAire e a Honeywell International, empresa que fabricou o transponder (equipamento de comunicação de dados) do Legacy. Os advogados alegam que os pilotos do Legacy voavam na altitude errada e que há indícios de o transponder não ter funcionado corretamente. A Honeywell nega que o transponder tenha motivado o acidente. A ExcelAire diz que seus pilotos serão absolvidos, pois cumpriam as instruções do controle de tráfego aéreo.

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