
O país já tem um pré-candidato a presidente que cogita pegar a onda de rejeição aos políticos tradicionais: o empresário, publicitário e apresentador de televisão Roberto Justus. Por ter conduzido o programa O Aprendiz no Brasil, tal como o também “outsider” da política Donald Trump nos EUA, as comparações são inevitáveis. Mas, se há semelhanças de um lado, os dois também têm diferenças.
Justus e Trump são homens de negócios, celebridades da televisão e, como nunca haviam disputado eleições, encarnam a ideia do “antipolítico”. Trump passou toda a campanha eleitoral em conflito com o establishment americano e prometeu “limpar” Washington dos corruptos.
Justus, que diz ainda não estar decidido se será mesmo candidato, em suas primeiras declarações também criticou a classe política. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, disse que os brasileiros estão cansados da corrupção e da ineficiência nos serviços públicos. “O Brasil precisa sair das mãos deles [dos políticos]”, afirmou. Apesar disso, ele mantém uma certa proximidade com a cúpula de Brasília: aceitou participar do Conselhão do governo Temer – grupo de 96 integrantes da sociedade civil que se reúnem para discutir assuntos de interesse do país.
Liberal e não radical
Na mesma entrevista, Justus também deu indicativos do programa para o país que pode vir a apresentar aos eleitores. Defendeu ideias liberais: economia de mercado, redução e desburocratização do Estado e criação de um ambiente mais favorável aos negócios. E também falou em privatizações: “Adoraria ver o Brasil privatizando Petrobras, Banco do Brasil, Caixa. (...) Se a gente tivesse a Petrobras na mão da iniciativa privada, não ia ter corrupção lá dentro”.
A posição de Justus, por sinal, é bem mais liberal do que a de Trump – que defende, por exemplo, medidas que na prática vão levar ao fechamento da economia dos EUA em nome da proteção dos empregos no país.
O “aprendiz” de político brasileiro também já busca se afastar do “aprendiz” de presidente americano em outros aspectos – sobretudo no radicalismo. Logo após Trump ter sido eleito, Justus criticou em entrevista ao jornal Extra, do Rio de Janeiro, as posições xenófobas do republicano. “Não votaria nele por causa dessas condições radicais, que eu não concordo, mas também não me entusiasmaria com a Hillary Clinton”.
Racismo, por sinal, é algo condenado publicamente por Justus antes mesmo de anunciar sua intenção de se candidatar à Presidência. Em um programa televisivo em que conversava com o comediante Danilo Gentilli, o empresário criticou piadas com negros e com o holocausto dos judeus. Justus é de origem judaica.
Precedente nacional
As eleições municipais deste ano produziram um precedente de sucesso para os “aprendizes” de político. Empresário como Justus, João Doria (PSDB) se elegeu prefeito de São Paulo no primeiro turno. Doria também comandou o programa O Aprendiz – em menos edições do que Justus.



