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Em 2014, Dilma e Lula faziam graça durante carreata em São Bernardo do Campo: relação entre a presidente e o partido se deteriorou desde então | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Em 2014, Dilma e Lula faziam graça durante carreata em São Bernardo do Campo: relação entre a presidente e o partido se deteriorou desde então| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

A saída de José Eduardo Cardozo do ministério da Justiça pode ser encarada como uma espécie de “trégua” entre a presidente Dilma Rousseff e o PT, seu partido. Apesar de filiado à legenda, o ex-ministro estava sob fogo constante do partido por causa de sua suposta falta de atuação em relação à Operação Lava Jato. Ele pediu exoneração do ministério nesta segunda-feira (29), sendo substituído pelo procurador Wellington Cesar, aliado do ministro-Chefe da Casa Civil Jacques Wagner (PT).

Apesar da “trégua”, a perspectiva é de que a relação entre a presidente e o partido continue difícil. Para o cientista político da UnB David Fleischer, a saída de Cardozo pode apaziguar momentaneamente a relação entre Dilma, Lula e PT. “As pressões do PT pela saída de Cardozo eram muito fortes”, diz. No partido há um entendimento que Cardozo não teve “pulso firme” para “controlar” a Polícia Federal (PF) durante a Operação Lava Jato.

Entretanto, sua saída não deve ter o resultado esperado pelo partido. “A Dilma não vai deixar ocorrer uma intervenção na PF, ainda que isso seja demandado pelo PT. Uma medida dessas poderia abrir mais um caminho para o impeachment”, afirma.

Outras divergências

Além disso, as divergências entre a presidente e seu partido vão muito além da Lava Jato. Apesar de ser filiada ao PT desde 2001, egressa do PDT, as políticas públicas implementadas por Dilma em seu segundo mandato enfrentam críticas severas por parte da militância do partido – a começar pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, seu principal padrinho político.

No entendimento do partido, a escolha por cortar despesas e investimentos como resposta à crise econômica prejudica os trabalhadores. Antes de Cardozo, o ministro da Fazenda Joaquim Levy já havia sido “fritado” pelo PT e pedido demissão por defender políticas de austeridade. Seu sucessor, Nelson Barbosa, também é alvo de críticas.

A tensão chegou a um pico na semana passada. No Senado, projeto que retira da Petrobras a exclusividade na exploração do petróleo na camada pré-sal foi aprovado com anuência do governo, mas com voto contrário de todos os senadores petistas. Enquanto isso, a 23ª fase da Operação Lava Jato prendeu João Santana, responsável pelas campanhas presidenciais de Lula e Dilma.

Neste cenário, a presidente sequer compareceu à festa de 36 anos de fundação do PT – apenas mandou uma carta, criticando “ataques” ao partido e declarando solidariedade a Lula. Durante as celebrações, militantes manifestaram sua insatisfação com o ajuste fiscal proposto pelo governo.

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