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COMPORTAMENTO

Santa Cândida, o pacato “bairro da Lava Jato”

Marlene e Genival de Santana reclamam um pouco do barulho, mas não da Lava Jato. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Marlene e Genival de Santana reclamam um pouco do barulho, mas não da Lava Jato. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

O cobrador no tubo do ônibus lá no bairro Cabral, quase Boa Vista, já não se pergunta para onde vão os carros da Polícia Federal que aproveitam as canaletas exclusivas do transporte coletivo de Curitiba. “Faz tempo que aqui passa mais preso da Lava Jato do que ônibus”, brinca ele, cujo posto fica no caminho entre dois prédios robustos, a sede da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, para onde são levados os presos em um primeiro momento, e o esverdeado edifício da Justiça Federal, no Ahú, onde Sergio Moro, o “juiz da Lava Jato”, colhe os depoimentos.

E “faz tempo” que a Lava Jato está aí, quase um ano e meio, desde a primeira operação da Polícia Federal, quando ainda não se sabia em quantos capítulos ela se desdobraria. “Já virou uma novela isso aí”, resmunga um senhor atravessando a rua no Santa Cândida, sem parar para conversar. Há também quem prefira a novela da ficção, como a dona de casa Marlene dos Passos de Santana, de 67 anos. “Quando tem movimento aqui na PF, sempre vem um carrinho de som lá por cinco e meia, seis horas, e o cara fica gritando ‘vem Dilma, vem Lula, vem tomar banho no chuveiro da Polícia Federal’. Atrapalha porque é a hora de jantar, ver uma reportagem, uma novela”, explica ela, vizinha do “prédio da Lava Jato”. Mas Marlene e o marido, o aposentado Genival Costa de Santana, de 61 anos, moram há 13 anos por lá e gostam de reforçar: ninguém ali está reclamando da Lava Jato. Fora da ficção, a dona de casa lembra que as sentenças contra os crimes de colarinho branco são raras. “Antes a gente só via ladrão de galinha preso”, comemora Marlene.

A gente está acompanhando aqui na televisão, não precisa nem sair na frente de casa

Genival Costa de Santana, vizinho da PF que acompanha a Lava Jato pela televisão

O carrinho de som vem só “nos dias de movimento”, o que significa vai e vem de carros, helicóptero, muito repórter, e alguns curiosos. De vez em quando, também tem a manifestação dos motoqueiros, em apoio às operações da PF. “Quando anunciam que estão trazendo eles, que vão sair tal hora do Rio, de São Paulo, aí vem um monte de gente aqui. Como o último que chegou, não me lembro o nome, tinha mais de 50 pessoas ali na frente. Pessoal aplaude, põe cartaz, grita aquelas ofensas. Mas eu não conheço essas pessoas. Sei que não é gente aqui da vizinhança”, comenta a dona de casa.

Quem mora por perto, contudo, costuma observar “de longe” mesmo. “Tudo que está passando ali, a gente está acompanhando aqui na televisão, não precisa nem sair na frente de casa. De vez em quando, a gente só dá uma olhada. É bom porque é uma diversão também. Aqui no bairro não tem nada, é bem parado ”, completa Genival.

O fim de semana, contudo, continua absolutamente tranquilo, garantem os moradores. Saem de cena os advogados e a imprensa e sobram apenas as faixas com as cores da bandeira do Brasil amarradas nas árvores. Tem também uma faixa grande deixada nos portões do prédio – “Orgulho da Polícia Federal” –, que não saiu nem com o vendaval da última quinta-feira.

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