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Raimundo Colombo (PSD), governador de Santa Catarina chega a viajar a Brasília para, pessoalmente, pegar assinaturas para obter empréstimos | Roberto Scola/ Diario Catarinense-
Raimundo Colombo (PSD), governador de Santa Catarina chega a viajar a Brasília para, pessoalmente, pegar assinaturas para obter empréstimos| Foto: Roberto Scola/ Diario Catarinense-

Estados trocam dívidas para fugir de juros mais altos

A renegociação das dívidas com a União foi o primeiro passo do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), para abrir espaço no orçamento. No ano passado, o estado concluiu um acordo em que "trocou" os juros pagos em contratos antigos com a União (de 14% ao ano) pelos praticados pelo Bank of America (4%) e o BNDES (2%). A mudança garante um fôlego de R$ 65 milhões por mês no caixa estadual.

O Paraná começou a adotar uma estratégia semelhante. A Assembleia Legislativa aprovou em dezembro do ano passado um empréstimo de R$ 1,5 bilhão do Credit Suisse. O dinheiro será utilizado para pagar uma dívida do estado com a Copel no valor de R$ 1,37 bilhão. Na prática, o banco suíço vai comprar a dívida, que tem encargos de 13% ao ano. Os novos juros, para o Paraná, devem ficar em menos de 7%. A transação ainda não foi aprovada pela União. Mas, segundo o secretário estadual da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, segue uma recomendação do Tesouro Nacional.

Em Santa Catarina, o governador Colombo acertou o empréstimo de US$ 700 milhões (R$ 1,452 bilhão) do Bank of America e de outros R$ 3 bilhões do BNDES. Dessa última negociação, R$ 980 milhões foram utilizados para quitar uma dívida com a Celesc, companhia energética catarinense. O restante será desembolsado para obras de infraestrutura.

Para liberar o recurso, valeram os protestos do governador contra a aprovação no Senado da unificação em 4% a alíquota do ICMS nas operações interestaduais de produtos importados. A medida, que visa ao fim da "guerra dos portos", deve provocar uma queda de arrecadação de R$ 2,3 bilhões por ano para Santa Catarina. "O governo federal nos fez uma compensação por essa perda", justificou Colombo.

Em paralelo à questão das dívidas, o secretário de Fazenda de Santa Catarina, Antonio Gavazzoni, conta que o primeiro ano da atual gestão serviu para fazer um diagnóstico dos investimentos necessários. "O governador até criou um programa com nome curioso, mas que reflete bem o que foi feito", disse Gavazzoni, referindo-se ao "Governar o Governo". Depois dele, com os R$ 6,769 milhões em empréstimos engatilhados, foi lançado o "Pacto por Santa Catarina", que promete aplicar R$ 7,5 bilhões em obras de infraestrutura em todas as regiões do estado durante os próximos três anos.

O resultado é que Santa Catarina, um estado menor, tem conseguido investir em obras praticamente o mesmo que o Paraná. Em 2011 e 2012, a gestão Colombo empenhou R$ 2 bilhões em investimentos, equivalente a 6% do total de despesas do biênio (R$ 33,1 bilhões). No mesmo período, o governo paranaense empenhou R$ 2,06 bilhões em investimentos, correspondentes a 3,8% dos gastos globais, de R$ 53,1 bilhões.

Fazenda estadual

Equipe do PR é modelo para o país, diz Hauly

O secretário de Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly, diz que a equipe do governo que trata dos empréstimos serve de "modelo para o restante do país". "O que estamos enfrentando são algumas travas, que vamos conseguir remover", afirma. As travas, segundo ele, são pendências deixadas pelos governos anteriores que dificultam a obtenção dos empréstimos. "O Paraná não conseguia fazer empréstimos há muitos anos. O governo Requião estava impedido por causa da questão da multa do Banestado", relembra o secretário. Em 2004, o ex-governador Roberto Requião decidiu não honrar um contrato de compra e venda de títulos relacionado à venda do Banestado para o Itaú, em 2000. A decisão gerou uma multa mensal cobrada pela União, que impossibilitou legalmente, até 2010, a formalização de empréstimos. Hauly diz que os empréstimos negociados pelo Paraná são todos "bem pensados" e não comprometem as contas. Ele ainda afirma que o estado é bom pagador: na atual gestão, pagou R$ 3 bilhões em dívidas. Hauly, porém, levanta dúvidas sobre os critérios usados na liberação dos pedidos feitos pelo estado. "Nós temos crédito, devemos pouco, somos responsáveis, bem avaliados pelas agências de risco e pelo próprio Tesouro Nacional. Por que não ter o empréstimo?" Sobre a possibilidade de interferência política, o secretário diz que "não sabe". "O que eu espero é que não tenha."

Na noite de 17 de dezembro do ano passado, faltava apenas uma assinatura para que dois empréstimos internacionais que somam R$ 2 bilhões para o estado de Santa Catarina pudessem ser apreciados pelo Senado. Para driblar a burocracia, o governador Raimundo Colombo (PSD) foi pessoalmente à casa do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, em Brasília, e conseguiu o autógrafo que validou o documento. No dia seguinte, com apoio do antecessor e agora senador, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), a proposta foi colocada em votação e aprovada.

INFOGRÁFICO: Veja como estão os investimentos e os pedidos de empréstimos feitos por PR e SC a partir de 2011

Na mesma sessão, estava em pauta um empréstimo de R$ 700 milhões do Banco Mundial para o Paraná. Acabou não sendo votado devido a uma intervenção do senador e também ex-governador, Roberto Requião (PMDB). O aval do Senado só saiu três meses depois, quando Requião viajava pela Europa.

Os dois episódios ilustram a trajetória recente dos governos do Paraná e de Santa Catarina em busca de recursos em Brasília. Espremidos por orçamentos engessados, altamente comprometidos com despesas de pessoal e custeio, ambos apostam em empréstimos bilionários para viabilizar investimentos. Os catarinenses têm conseguido resultados mais cedo.

Desde 2011, o governador Beto Richa (PSDB) começou a negociar nove empréstimos com organismos nacionais e internacionais que totalizam R$ 3,88 bilhões. Até agora, conseguiu a liberação de um acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 131 milhões, e ainda espera pelos últimos detalhes da negociação de R$ 700 milhões com o Banco Mundial. O empréstimo que envolve os valores mais altos, de R$ 817 milhões do Banco do Brasil, está emperrado na Secretaria do Tesouro Nacional (STN) desde dezembro – segundo ofício do órgão, porque o governo estadual não comprovou o cumprimento dos limites de despesa com pessoal previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Até a última segunda-feira, o Paraná também era a unidade da federação com mais pendências no Cadastro Único de Convênios (Cauc), espécie de "serviço de proteção ao crédito (SPC)" do governo federal. Dos 14 itens aferidos pelo sistema, o estado não comprovava seis. O secretário da Casa Civil, Reinhold Stephanes, pediu um prazo de 30 dias para resolver os problemas, que, segundo ele, foram herdados da gestão Requião.

O mesmo levantamento, publicado pela Gazeta do Povo na quarta-feira, apontou que apenas cinco estados não tinham pendências no Cauc. Um deles era Santa Catarina, que desenvolveu em 2009 um sistema eletrônico para evitar problemas com o cadastro. Desde 2011, o estado tenta arrecadar R$ 6,769 bilhões por meio de sete empréstimos – e já viabilizou R$ 2,603 bilhões (38%).

Porta a porta

"Tem que botar a papelada embaixo do braço e ir de lugar em lugar, de porta em porta. Não pode desanimar", descreveu Raimundo Colombo, em entrevista à Gazeta do Povo. Em 2012, ele viajou 23 vezes a Brasília e conheceu os meandros da máquina federal.

Assim como Richa, Colombo fez carreira na oposição às gestões federais do PT. Em 2010, foi eleito pelo DEM e no ano seguinte migrou para o PSD – partido da base aliada de Dilma Rousseff. Hoje, diz não ver interferência política na liberação dos empréstimos.

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