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O ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da empresa de serviços financeiros Rio Bravo Gustavo Franco disse nesta sexta-feira (02) que a condução "irresponsável" da política fiscal poderá pressionar o Banco Central a subir os juros nos próximos meses. Antes que isso ocorra, Franco acredita que quem deve ser pressionado a reduzir os gastos é o governo.

"No momento em que a atividade privada voltar para perto de onde estava antes da crise nos atingir, nós teremos superaquecimento, vamos acordar a inflação e o BC vai ter de cumprir o seu dever. (...) Se os juros subirem daqui a seis meses, o culpado é o ministro. É a política fiscal, não é o Banco Central. Como é que ele faz política fiscal inconsistente com a meta (de inflação)?", indagou Franco, em debate na Associação de ex-alunos do MBA da Universidade da Califórnia, Berkeley (Hass School of Business).

Segundo Franco, o mercado de juros já mostra preocupação com a situação fiscal. Para Franco, em meio ao otimismo recente, o evento mais relevante do último mês foi o "fortalecimento da expectativa de que o Banco Central vai ter de subir os juros porque a política fiscal só dá sinais ruins". "O mercado agora compôs uma expectativa de aumento de juros, que é basicamente traduzir o que o ministro da Fazenda está nos transmitindo sobre política fiscal", disse. "Quando o DI futuro sobe, sobe o juro, sem que o BC faça nada. O banco que empresta a 180 dias aumenta os juros. Esse juro já subiu por causa do ministro", acrescentou

Franco disse que a redução da meta de superávit primário "é truque bobo". "É coisa do Delfim nos anos 80, que não engana mais ninguém. O País já está maduro nesse assunto." Ele se referia ao relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas do Ministério do Planejamento, divulgado em meados de setembro, que informou a possibilidade de reduzir da meta fiscal até 0,94% do PIB em investimentos, e não só 0,5% como previsto até o terceiro trimestre.

O ex-presidente do BC disse que é possível reduzir gastos no governo e disse que a administração federal não pode estragar as conquistas dos últimos anos por causa da preocupação com as eleições. "Depois de sete anos em Brasília, aprendi que dá pra para cortar tudo. Tem jeito de fazer tudo. Não tem nada engessado. A ideia de que precisa ser irresponsável e populista para ganhar eleição, essa sim é obsoleta."

DÓLAR - Gustavo Franco acredita que o fluxo de dólares para o Brasil deve aumentar nos próximos meses, refletindo as melhores perspectivas para o País. Segundo ele, o movimento "grande de entrada de recursos" deve ficar mais claro a partir da abertura de capital do Banco Santander, prevista para este mês.

Franco evitou, no entanto, estimar até onde o dólar pode cair ante o real no curto prazo. "Mas a tendência de longo prazo é de apreciação do real. É o que esperaria de um país que transita da condição de emergente para uma coisa melhor."

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