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A invasão de traficantes rivais à quadrilha que comanda o tráfico de drogas na Rocinha, na noite de quarta-feira, deixou pelo menos seis mortos e outros seis feridos na favela. Além do adolescente Diego Antônio Lima, de 14 anos, que tinha acabado de voltar da escola e morreu com um tiro no peito, foram encontrados na manhã desta quinta mais cinco corpos.

A polícia conseguiu prender 14 pessoas e apreender, entre outras coisas, seis fuzis, carregadores, munição e camisas pretas que teriam sido usadas pelos invasores. Cinco dos presos foram localizados na Ladeira Saint Roman, na subida do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, no início da tarde desta quinta-feira. No local foram apreendidos dois carros utilizados pelos bandidos na fuga da Rocinha, celulares, dinheiro e CDs. Há informações de que a invasão da Rocinha foi feita por grupos de traficantes daquela comunidade.

Nove suspeitos

Outros nove suspeitos foram detidos na noite de quarta e na manhã desta quinta. Cinco deles na Rua Timóteo da Costa, no Alto Leblon. Depois de sair da favela, os bandidos invadiram o Edifício Caliandra, no número 399, e tomaram o síndico e funcionários como reféns. Na fuga, foram surpreendidos pela PM e presos sem que houvesse troca de tiros, segundo informou o comandante do 23º Batalhão (Leblon), major Carlos Norberto Mendes. Uma mulher que tentou subornar policiais para que liberassem os presos também foi detida. Um outro suspeito foi preso no Hospital Miguel Couto. Identificado como Cláudio José da Silva, de 28 anos, ele consta como um dos feridos no ataque, com um tiro no pé. Outros dois homens, um deles baleado na perna (foto acima), já tinham sido detidos na noite de quarta-feira na mesma Rua Timóteo da Costa. A polícia cointinua a procurar os bandidos que participaram da invasão.

Maioria dos mortos seria da comunidade

Dos seis mortos, cinco seriam moradores da comunidade e outro um invasor cujo corpo foi encontrado dentro de um valão nesta quinta. Três cadáveres foram identificados: o do adolescente Diego e mais dois, de Ivanilson Henrique Aguiar, 23 anos, e de Evaristo Alfredo da Silva, 30 anos. Ambos morreram na localidade da favela conhecida como Beco 99 e, segundo vizinhos, eram moradores da Rocinha e não tinham envolvimento com o tráfico.

O policiamento na Rocinha está reforçado, mas o comandante do 23º BPM não soube precisar quantos homens estão atuando. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) usaram o carro blindado, conhecido como Caveirão. Um helicóptero da PM também sobrevoou a comunidade. Policiais do Batalhão Florestal fazem buscas na mata para tentar localizar mais traficantes envolvidos na invasão, que teria contado com a participação de 40 bandidos (clique aqui e veja imagens feitas durante a invasão) .

O major Norberto Mendes negou que a Rocinha estivesse sem policiamento antes da ação dos bandidos. Ao sair do prédio na Timóteo da Costa com os quatro bandidos presos, o capitão Bastos, do 23º BPM, foi aplaudido por moradores, junto com outros policiais de sua equipe.

A invasão, na noite de quarta, foi executada por traficantes de uma facção rival à que comanda a venda de drogas na Rocinha. Segundo a polícia, os invasores seriam dos morros do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, entre outros. A ação seria retaliação à morte do porteiro Marcos Costa, o Macaxeira. Ele trabalhava para a G. G. Produções, do ministro da Cultura, Gilberto Gil, e está desaparecido desde segunda-feira. Segundo Marina Maggessi, diretora da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Macaxeira pode ter sido morto juntamente com outro homem, conhecido como MC, na localidade do Valão, na Rocinha, por passar informações sobre a favela à quadrilha da Providência.

Bandidos vestidos de preto

O tiroteio entre as duas quadrilhas começou por volta das 18h, quando pelo menos 40 bandidos, todos vestidos de preto, com uniformes semelhantes ao do Bope, chegaram à Rocinha, divididos em quatro vans. Eles entraram pela Via Ápia, pela Marquês de São Vicente e pela mata.

Os bandidos jogaram quatro granadas, dispararam contra os transformadores de energia e deram início a uma troca de tiros que durou, com pequenos intervalos, pelo menos três horas. Moradores da favela e da Gávea entraram em pânico. Ruas ficaram às escuras. Estudantes que voltavam da escola e trabalhadores não conseguiram chegar em casa. Pelo menos 200 pessoas, entre elas muitas crianças com uniforme escolar, ficaram na Estrada da Gávea, na esquina da Rua Cedro, um dos acessos ao morro, esperando a situação acalmar. Técnicos da Light não puderam entrar na favela para fazer os reparos nos transformadores depredados.

No início do confronto, motociclistas chegaram a voltar pela contra-mão na Auto-Estrada Lagoa-Barra, mas o tráfego não foi interrompido porque os tiros estavam concentrados na parte alta do morro.

Desde o início da semana a Subsecretaria de Inteligência tinha informações de que até o carnaval poderia ocorrer uma invasão na Rocinha, onde não havia confronto parecido desde 2004 (saiba mais sobre a guerra do tráfico na Rocinha) .

'Brasil pode se tornar uma Colômbia'

O secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, repetiu, em entrevista à Rádio CBN na manhã desta quinta, o que já havia afirmado em nota na noite anterior: a invasão na Rocinha é ''reflexo de uma briga de quadrilhas pelos pontos de venda drogas na cidade''. Segundo ele, falta uma política nacional de segurança e se a sociedade não se unir ao Estado para combater as drogas o país ''se tornará refém das drogas e poderá se tornar uma Colômbia''. Itagiba defendeu a construção de um batalhão comunitário na Rocinha.

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