Os pontos no lábio superior não impedem a menina Laís Gonçalves da Silva Mello, de 11 anos, de contar com detalhes os momentos de pânico que passou na queda do Learjet da empresa Reali Táxi Aéreo neste domingo. Oito pessoas morreram no acidente . A aeronave destruiu completamente a casa onde ela estava brincando com a amiga Claudia de Lima Fernandes, de 16 anos, que perdeu os pais, a avó, a irmã e um sobrinho de 10 meses. Claudia foi a única sobrevivente de quatro gerações de uma mesma família e seu destino ainda é incerto.
- Foram segundos depois que eu deitei na cama para conversar com a Claudia (de Lima Fernandes, de 16 anos). Explodiu tudo. O armário e os tijolos voaram em cima de mim. Minha pernas ficaram presas por tijolos. Eu pensava que não queria morrer. Sentia dor e tristeza - conta a adolescente.
Em meio a poeira e aos escombros, ela conta que ouvia a amiga gritar e chorar. Ela também chegou a ouvir o avô gritando por ela. Segundo Laís, o alívio só veio com a chegada dos bombeiros.
- Lembro que ele me mandava respirar fundo, mas eu não conseguia ver nada, só poeira - diz. A visão do olho direito de Laís ainda está embaçada, por causa da poeira e de estilhaços de vidro que a atingiram. O ferimento está sendo tratado com colírios recomendados por médicos do Hospital do Mandaqui, na zona norte da capital, onde a adolescente passou a noite internada.
Laís teve alta na tarde desta segunda-feira e já está na casa em que mora com a avó, a mãe, dois irmãos, tios e primos.
- Mas ainda tenho dor nas costas e nas pernas - conta Laís, mostrando os hematomas.
Mas a maior preocupação dela no momento é com a amiga. Laís diz que queria visitar Claudia no hospital, mas que não consegue autorização. A amiga dela está com 30% do corpo queimado, especialmente os braços e a face.
- O fogo não me pegou porque tinha muito tijolo e o armário em cima de mim - diz Laís, que não sabe como a amiga vai lidar com a notícia da morte dos pais, da irmã, do sobrinho e da avó.
Laís e Claudia estudavam no mesmo colégio e faziam trabalhos escolares e a lição de casa juntas. Laís afirma que foi até a casa de Claudia, que fica a uma quadra da dela, para conversar sobre as matérias que a amiga perdeu no colégio e sobre coisas de "menina, de adolescente".
- Sobre namoradinhos e essas coisas, sabe? A Claudia sabe que pode me contar todos os segredos dela que eu não conto para ninguém - vangloria-se.
A garota diz que a amiga tinha perdido algumas aulas na escola porque a mãe, dona Rosa, vítima do acidente, estava com uma operação marcada. Segundo vizinhos, Claudia teria algum tipo de necessidade especial, como síndrome de Down, autismo ou retardamento mental. A Secretaria de Saúde diz que ainda não tem este tipo de informação, pois a menina permaneceu boa parte do tempo sedada.
- Ela queria ficar com a mãe - conta Laís, lembrando que brigou com o avô para poder ir à casa de Claudia.
- Eu estava sentindo alguma coisa e não queria que ela fosse - diz Nelson Gonçalves da Silva, de 61 anos, avô de Laís.
De acordo com ele, quando saiu da sala, Laís desobedeceu e correu para casa da amiga.
- Eu saí para ir atrás dela e já vi o avião caindo e o fogo. Corri e só perguntava onde tinha caído para o pessoal que saía correndo. Quando falaram que era a casa da Claudia, me desesperei. Comecei a gritar - lembra Silva.
Ao chegar ao local da tragédia, ele viu a amiga da neta sendo retirada com muitos ferimentos e queimaduras e afirma que logo depois os bombeiros encontraram Laís. Ele seguiu com as duas para o hospital do Mandaqui. Claudia foi transferida de madrugada para a unidade de queimados do Hospital do Servidor Público Estadual. Ela está consciente, respira sem aparelhos, mas ainda corre risco de morrer.
Laís passou a noite no hospital e acordou, segundo o avô, por volta das 2h reclamando de dor de cabeça, por causa da prancha usada para sustentar o pescoço dela até o momento. Como não havia danos neurológicos, o suporte foi retirado.
- Ela reclamou da dor de cabeça e em seguida perguntou da amiga - contou o avô.
De acordo com ele, todos os medicamentos receitados à Laís foram pagos pela empresa Reali Táxi Aéreo, que ainda mandou uma psicóloga para acompanhar a família.
- Mas agora eu não consigo mais falar com ela. Ligo no 0800 da empresa e não sabem nada. Agora estou esperando o contato da empresa de novo, porque a menina (Laís) vai precisar de assistência - disse, acrescentando que todo o tratamento está sendo agendado no Hospital do Mandaqui, que pertence à rede pública de saúde.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou que a Agência Nacional de Aviação Civil terá de fiscalizar com mais rigor a manutenção das aeronaves da aviação civil, formada por táxi aéreo e aviões particulares.
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