• Carregando...
 |
| Foto:

Outros casos

Corregedoria da Câmara apresenta pareceres sobre três deputados

No mesmo dia em que Demóstenes Torres (sem partido-GO) será julgado no Senado, a corregedoria da Câmara dos Deputados deve apresentar os pareceres sobre os casos de três deputados federais suspeitos de envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Se forem constatadas práticas que caracterizem quebra de decoro, os processos contra os goianos Carlos Alberto Leréia (PSDB), Sandes Júnior (PP) e Rubens Otoni (PT) seguem para o Conselho de Ética.

Assim como Demóstenes, Leréia foi acusado de utilizar um celular habilitado nos Estados Unidos, supostamente antigrampo, para conversar com Cachoeira. Segundo a Polícia Federal, o tucano também teria recebido uma série de depósitos bancários do bicheiro, com quem seria sócio em um terreno no valor de R$ 800 mil. Ele nega as acusações.

Otoni aparece em filmagem da operação Monte Carlo na qual recebe uma oferta de R$ 100 mil de Cachoeira. No vídeo, o bicheiro insinua que já teria dado dinheiro a ele outras vezes, "como toda campanha". Otoni pede para que ele não declare a doação. Segundo o deputado federal, a conversa teria ocorrido em 2004, quando ele foi candidato a prefeito de Anápolis (GO).

Já Sandes Júnior foi flagrado em conversa telefônica tratando do recebimento de cheques com Cachoeira. Segundo o parlamentar, o dinheiro era referente ao pagamento de salários de quando ele trabalhava como radialista para uma rádio de Cachoeira em Goiás.

De combatente implacável da corrupção a pivô de um dos maiores escândalos recentes da política nacional, Demóstenes Torres (sem partido-GO) descambou pela ladeira da impopularidade do Senado. Após quatro meses e meio de revelações quase diárias sobre suas relações com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador goiano será julgado hoje em plenário sem, até agora, qualquer manifestação aberta de apoio. Pelos prognósticos, apenas o voto secreto pode evitar a perda de mandato.

Enquete publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo com 76 dos 81 senadores em exercício mostrou que 52 deles são favoráveis à cassação. Outros 24 não quiseram se manifestar. Nenhum dos entrevistados disse que votaria pela absolvição.

Há duas semanas, a Gazeta do Povo ouviu os três senadores paranaenses sobre o caso. Alvaro Dias (PSDB), Sérgio Souza (PMDB) e Roberto Requião (PMDB) declararam que iriam votar pela cassação. "Em que pese sua atuação na oposição, ele lastimavelmente se transformou em um serviçal de uma organização criminosa", justificou Alvaro, parceiro de Demóstenes nos ataques à gestão petista durante a última década.

As declarações foram feitas dez dias antes de o minis­­­tro do Supremo Tribunal Fede­­ral (STF) Celso de Mello decidir que, de acordo com a Constituição, os votos de processos de cassação de mandato parlamentar não podem ser revelados. O entendimento partiu de uma petição feita ao Supremo pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que reivindicava o direito de abrir o seu voto.

Em 2007, quando encampou a luta pela cassação de Renan Calheiros (PMDB-AL), foi Demóstenes quem abriu o voto. Na época, Renan havia sido alvo de dois processos de cassação, originários de denúncias de que um lobista supostamente pagava a pensão de uma filha que ele teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Na tribuna, Demóstenes disse que votou as duas vezes pela perda de mandato do colega.

Em geral, o comportamento dos parlamentares em sessões secretas costuma ser favorável aos acusados. No primeiro julgamento de Renan, 43 senadores (dois a mais que os 41 necessários) responderam que votariam pela cassação em uma enquete similar da Folha de S.Paulo às vésperas da decisão. Ao final, o total de votos registrados pela perda de mandato foi de 35.

No ano passado, 265 dos 513 deputados federais votaram pela absolvição de Jaqueline Roriz (PMN-DF). Ela foi filmada recebendo dinheiro vivo do pivô do mensalão de Brasília, Durval Barbosa, durante a campanha eleitoral de 2006.

Nas últimas semanas, Demóstenes recorreu ao contato direto com os colegas para tentar reverter a impopularidade. "Ele usou muito a emoção", disse Sérgio Souza, um dos que receberam o colega. Ontem, em um último discurso antes da defesa de somente 30 minutos, Demóstenes ampliou o tom e se disse vítima de um "massacre".

Segundo Souza, foi possível perceber uma movimentação de parlamentares que, na névoa dos bastidores das últimas semanas, passou a defender o goiano. Ainda não se sabe, contudo, o peso real desse apoio. Por enquanto, nas duas votações abertas realizadas sobre o processo, Demóstenes não escapou da unanimidade. Foram 15 votos a zero no Conselho de Ética e 22 a zero na Comissão de Constituição e Justiça. O tira-teima, sob o segredo referendado pelo STF, será definitivo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]