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A obsessão pelo concreto, o crescimento desordenado e o descaso com a vegetação fazem São Paulo sofrer. O calor aumentou, a umidade do ar baixou, os ventos mudaram de direção, os temporais estão mais fortes, as rajadas sopram com mais rigor. É na Grande São Paulo que cai o maior número de raios do país. É o troco da natureza à cidade.

São Paulo era a terra da garoa. Agora, é da tempestade. De janeiro até agora, foram 32 dias de alagamentos e estado de atenção por conta da chuva. Só em março o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) colocou a cidade em atenção em 9 dos 14 dias já passados. A cidade está ganhando um radar que vai detectar as áreas onde vai chover mais forte com 30 minutos de antecedência. O Aeroporto de Congonhas fecha, as ruas alagam. Mais do que atolar os carros, as águas invadem casas. A erosão desliza encostas. Apenas na região do Campo Limpo e M'Boi Mirim, na zona sul, ocorrem mais de 100 deslizamentos em cada período de chuva, de janeiro a abril.

Estão mapeados na cidade 500 pontos que alagam. Nem todos ao mesmo tempo, graças a Deus. A maioria dos alagamentos não é mais por conta de córregos, como ocorre na região do Pirajussara, do Ribeirão dos Couros, do Tamanduateí ou do Aricanduva. É por insuficiência de drenagem. A Defesa Civil do município tem 400 núcleos espalhados pela cidade com voluntários que dão o alarme quando há risco de deslizamentos ou enchentes. Pelo menos 80% dos 1.500 km2 da cidade estão impermeabilizados, estimam os especialistas. Sem terra no chão, a água corre mais forte para os bueiros. Chega mais rápido e com mais intensidadade. As galerias lotam. Transbordam.

Os registros da Estação Meteorológica da USP, feitos há 75 anos (primeiro na Avenida Paulista, depois, e até agora, dentro do Parque do Estado, na zona sul) mostram que a temperatura média subiu 2,1 graus no período. A umidade relativa do ar caiu 7%. O vento que soprava do leste, com a brisa do oceano, vem mais do oeste. O vento que soprava do sul, trazendo mais frio, agora sopra mais do norte. Chove 30% a mais do que chovia antes.

- O aumento da temperatura está bem acima das mudanças globais. A urbanização, a queima de combustíveis fósseis e a poluição alteram a química da atmosfera. O sistema é altamente reativo. Procura manter o equilíbrio. Reage. Gera mais chuva. Aumenta a intensidade dos ventos. A chuva sobre a Região Metropolitana de São Paulo é cinco vezes maior do que em outras áreas, com núcleo na zona leste - diz o professor Augusto José Pereira Filho, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Na periferia tem menos verde. As casas se apinham. A alvenaria fica exposta. Faz mais calor. Na zona leste, o sujeito morre de calor pela manhã e afogado à tarde. Na área nobre, os prédios de 15, 20, 30 andares despejam suas águas e dejetos nas mesmas galerias pluviais que antes absorviam a água e o dejeto de três ou quatro casas.

- É preciso um plano de governo, ampliar as áreas verdes, usar técnicas modernas de engenharia para aumentar a drenagem. E é preciso articular tudo isso com os outros 38 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, que estão se impermeabilizando numa velocidade alucinada - defende Randolpho Marques Lobato, da Associação Brasileira de Ecologia e de Prevenção à Poluição das Águas e do Ar (Abeppolar), que organiza um seminário, dias 20 e 21, na Escola Politécnica da USP, justamente para discutir como preparar a cidade para um futuro de clima incerto.

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