São Paulo - Após manifestar a intenção de divulgar os salários dos integrantes do Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, esclareceu ontem que a lista vai preservar o nome dos servidores. O ministro anunciou na quinta-feira na capital paulista que tornará públicos gastos com pessoal e com contratos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que também preside. A portaria com a determinação será assinada na próxima semana em Brasília. A intenção é, paulatinamente, reproduzir a experiência em órgãos do Judiciário.
"Nós vamos resguardar os nomes das pessoas, mas vamos dar os referenciais do salário", disse Mendes em São Paulo após participar de evento da Fundação Bunge, no Palácio da Justiça. "Muitas pessoas fazem reparos quanto ao problema da intimidade e da segurança. Estamos levando em conta essas ponderações." O ministro deu um tom "experimental" à publicação dos dados e disse que pretende incluir na lista gastos com diárias de viagem, passagens e gratificações.
O ministro defendeu a publicação dos salários dos integrantes do CNJ e posteriormente do Judiciário como uma forma de controle dos gastos públicos. "O modelo de atos sigilosos acaba permitindo a falta de controle", disse. "Detectamos problemas graves no que concerne a recursos públicos no âmbito do Judiciário. Parte disso se deve a essa falta de publicidade, que leva à falta de controle."
Apesar de evitar tomar partido em relação à polêmica dos atos secretos no Senado, que colocou o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), à beira da renúncia, o ministro fez um paralelo entre a situação no Legislativo e a tentativa de dar transparência ao Judiciário. "A regra é a publicidade. O ato secreto gera essas discussões que os senhores conhecem", disse aos jornalistas.
Salário
Mendes se disse à vontade para tornar público seu próprio salário. "É o teto", respondeu, em referência ao valor máximo que, a rigor, pode receber um funcionário público, de R$ 24,5 mil. Há servidores, porém, que ultrapassam esse limite por meio de liminares ou de benefícios extras ao salário. É o caso do vice-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o desembargador Antonio Carlos Munhoz Soares.
Questionado ontem sobre seu vencimento, Munhoz Soares disse, após algumas justificativas, receber R$ 21,3 mil líquido e R$ 28 mil bruto. "De certa forma passa (o teto)", admitiu. Em seguida, ponderou: "Uma retificação: eu não ultrapasso esse teto preconizado. Nem cheguei a R$ 24 mil."
Verbas
O vice-presidente do TJ de São Paulo defendeu em conversa com Gilmar Mendes mais verbas para o estado, para projetos de informatização dos tribunais e para "pagar melhor" os servidores da área. O desembargador citou o exemplo do orçamento anual do Poder Judiciário de São Paulo, de R$ 4,9 bilhões, aprovado pelo governador José Serra (PSDB) para 2009. "No entanto, o pedido foi de R$ 8,3 bilhões."
De acordo com Munhoz Soares, a visita de Mendes a São Paulo foi útil para que se aparasse "arestas". "Quando duas pessoas têm um problema, a melhor coisa para resolver é fazer o chamado tête-à-tête", disse o vice-presidente do TJ paulista. "São arestas de caráter funcional, como a necessidade de verbas maiores para o Judiciário."
Na contramão, Mendes criticou os gastos do Poder com a folha de pagamento. "O Judiciário gasta muito com pessoal. Não sobra para investimento. Alguns tribunais estão numa faixa de desespero, 99% (do orçamento) é gasto com pessoal."
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