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Costa (esq.) e o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo: depoimento foi considerado  “satisfatório” pela comissão governista | Geraldo Magela/Agência Senado
Costa (esq.) e o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo: depoimento foi considerado “satisfatório” pela comissão governista| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Costa nega ser "homem-bomba" e sai em defesa da Petrobras

Em depoimento de quase cinco horas na CPI da Petro­bras do Senado, o ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa negou ser um "homem-bomba" prestes a explodir e a revelar supostas irregularidades na empresa. "Não me considero homem-bomba de maneira alguma. Não existe homem-bomba nenhum", disse. Costa, investigado pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, saiu ainda em defesa da Petrobras, dizendo que não há nada de ilegal na empresa.

"Não existe lavagem de dinheiro da Petrobras para Alberto Youssef [doleiro investigado pela Lava Jato]. Eu acho que a PF ou quem quer que seja deveria aprofundar as análises", disse Costa. "A Petrobras é uma empresa que orgulha o povo brasileiro e não tem isso o que estão dizendo [corrupção]." Segundo ele, se for feita uma auditoria por "50 anos", não será encontrado nada ilegal na Petrobras.

Costa é acusado de participar de esquema comandado por doleiros que movimentou, de forma suspeita, R$ 10 bilhões. A Polícia Federal afirma que o esquema pode ter desviado R$ 400 milhões.

Nos bastidores, as declarações de Costa foram interpretadas como tranquilizadoras para o Planalto. O ex-diretor – o único dos presos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato que conseguiu ser libertado – não estaria disposto a complicar o governo e a Petrobras.

A oposição boicota a CPI exclusiva do Senado por considerá-la "chapa-branca" e criou outra, com a participação de deputados e senadores, para também investigar os negócios da Petrobras. Os cinco governistas presentes evitaram fazer perguntas mais difíceis ao ex-diretor. No final do depoimento, o senador Humberto Costa (PT-PE) considerou o depoimento satisfatório.

Massacre

No depoimento, Costa ainda defendeu-se da acusação de que participou de um esquema de lavagem de dinheiro em contratos em parceria com o doleiro Alberto Youssef. Afirmou ter sido "massacrado" durante os 59 dias em que ficou preso. Segundo ele, as acusações da Polícia Federal, divulgadas pela imprensa, "irão [prejudicá-lo] pelo resto da vida".

O ex-diretor disse que a história de "organização criminosa" na Petrobras "é inventada" e acusou a imprensa de destruir o seu nome "baseado em falsas premissas".

Apesar de negar o seu envolvimento no caso, o ex-diretor admitiu que conhecia o doleiro Youssef e que prestou consultoria para ele. Costa afirmou que havia um interesse de Youssef pela compra de uma empresa ambiental chamada Eco Global, prestadora de serviços para a Petrobras. O negócio, segundo ele, não foi concluído. Ele negou também que tenha feito contato na estatal para tratar da Eco Global, mas admitiu ter recebido um Land Rover, no valor de R$ 300 mil, pela consultoria prestada para Youssef.

Das agências

A segunda turma do Supre­mo Tribunal Federal (STF) validou ontem as provas da Ope­ração Lava Jato, da Polícia Federal (PF), e determinou que oito ações penais decorrentes da investigação voltem para a Justiça Federal no Paraná. Agora, as apurações da PF serão retomadas. A segunda turma do Supremo também referendou todos os atos praticados pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo desde sua fase inicial.

Com a decisão, ficará no STF somente a parte da investigação que trata da ligação entre o deputado federal paranaense André Vargas (sem partido) e o doleiro Alberto Youssef, acusado de liderar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. Já as acusações contra o próprio doleiro e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa vão voltar para a 13.ª Vara Federal de Curitiba. Youssef e outros 11 acusados estão presos desde março. Costa é o único dos principais personagens do caso que está solto – e ontem ele depôs na CPI da Petrobras.

Sem foro

Os ministros do STF julgaram uma questão de ordem apresentada pelo ministro Teori Zavascki, que havia determinado a suspensão das investigações há três semanas. Apesar de anteriormente ter sustado a apuração, Zavascki agora opinou que somente parlamentares citados nos processos respondam às acusações no STF. Por unanimidade, o voto foi seguido pelos ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Eles entenderam que, com exceção dos trechos relativos a André Vargas, os processos que resultaram na prisão de 13 pessoas não têm relação direta com autoridades que detêm o foro privilegiado, como deputados e senadores.

Além do reenvio do material à Justiça do Paraná, os ministros do STF ressaltaram que, no curso dos processos, caso existam indícios de que outras autoridades estejam envolvidas no esquema, os trechos relativos aos delitos terão de ser imediatamente enviados ao Supremo. Também são citados na investigação os deputados Luiz Argôlo (SDD-BA) e Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Retomada

Oito ações penais e toda a investigação da Polícia Fe­deral foram paralisadas, em maio, por determinação de Za­vascki, relator do processo no Supremo. Na ocasião, o ministro entendeu que, em função da presença de parlamentares, que são citados nas investigações, o juizado de 1.ª instância não poderia continuar com a relatoria dos processos. Por isso, deveria enviar todos os casos ao Supremo, para que os ministros decidissem quem seria investigado pelo STF.

A decisão de Zavascki foi tomada após o juiz Sérgio Moro enviar ao ministro parte da investigação da Lava Jato, na qual Vargas é citado. Moro remeteu as investigações ao STF por entender que cabia ao Su­premo apurar a relação entre Vargas e o doleiro Yous­sef em função do foro privilegiado.

A relação entre Vargas e o doleiro tornou-se conhecida por meio de uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, publicada em abril, que mostrou que o parlamentar paranaense viajou de férias, do Paraná à Paraíba, em um avião fretado pelo doleiro.

3 deputados federais são citados nas investigações da Lava Jato: André Vargas (sem partido-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA) e Cândido Vaccarezza (PT-SP).

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