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Assista à reportagem em vídeo| Foto: TV Globo

O empresário Zuleido Soares Veras, dono da Construtora Gautama e principal beneficiário de um suposto esquema de desvio de recursos públicos através de licitações investigado pela Polícia Federal (PF), prestará depoimento à ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon neste sábado (26).

Ele chegou ao STJ algemado e será interrogado após o fim do depoimento da diretora comercial da empresa, Maria de Fátima Palmeira, que foi interrompido por volta das 22h40 desta sexta-feira, depois de mais de 4 horas e meia, e foi retomado às 9h25 da manhã deste sábado.

Os dois serão os únicos ouvidos pela ministra neste sábado. Outros depoimentos de envolvidos devem acontecer na segunda-feira (28).

O empresário foi preso na quinta-feira (17) durante a Operação Navalha, junto com outros 15 funcionários da Gautama e mais 32 pessoas, entre elas políticos, ex-políticos e servidores suspeitos de fazerem parte do esquema de desvio de dinheiro público.

Das 47 pessoas presas na operação, apenas 10 continuam presas na sede da PF em Brasília, entre elas Zuleido e a diretora da empresa, Maria de Fátima, que seria encarregada de entregar as supostas propinas.

A fraude

De acordo com a Polícia Federal, a Gautama, empresa de Zuleido, atuaria infiltrada no governo federal e em governos estaduais e municipais mediante pagamento de propina a servidores, políticos e ex-políticos.

A PF apresentou gravações telefônicas em que o empresário estaria negociando supostas propinas com políticos e servidores públicos. Em uma das ligações, Zuleido estaria combinando o pagamento de propina com o deputado distrital Pedro Passos (PMDB), que consegiu a liberação de um crédito suplementar no valor de R$ 3,5 milhões destinado à Secretaria de Agricultura para pagamento da Gautama.

A advogada Sonia Rao, que faz a defesa de Zuleido, nega que ele tenha comandado o esquema, dizendo que "há um certo folclore de que o poder público não pode entrar em contato com os empresários". Ela alega que as conversas gravadas pela Polícia Federal são "técnicas" e que é "normal o empresário pressionar para receber porque o governo geralmente demora a pagar".

"Charles Bronson do Nordeste"

Popular nos corredores do Congresso Nacional, o empresário Zuleido Veras ganhou o apelido de "Charles Bronson do Nordeste" por causa de seu bigode, parecido com o do ator norte-americano.

Nos anos 80, Zuleido já circulava por Brasília como um dos principais executivos da empreiteira OAS, se aproximando de políticos e integrantes do governo da época. Em 1995, após ser dispensado pela OAS, o empresário paraibano abriu seu próprio negócio, uma construtora que recebeu um dos nomes do líder budista Sidarta Gautama.

Desde o início de sua vida profissional, o empresário sempre teve uma relação muito próxima com o poder público. Com a Gautama não foi diferente. A empresa realizou diversas obras com recursos generosos do Estado. Entre as obras realizadas pela Gautama está a construção da sede da PF em São Paulo, em 1997, com orçamento de R$ 41,6 milhões.

Das obras feitas pela Gautama, pelo menos nove delas, construídas em seis estados, estão sendo auditadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Os contratos somam cerca de R$ 500 milhões. O grupo que fraudava licitações de obras públicas pode ter desviado mais de R$ 100 milhões de recursos públicos em um ano, segundo informações divulgadas pela Agência Estado.

Generosos também são os valores que a empresa doou para campanhas eleitorais de diversos políticos, nos mais diferentes cargos. Só em 2006, estes valores chegaram a R$ 500 mil, segundo a agência.

Depoimentos

Após interromper o depoimento de mais de 4 horas da diretora comercial da Gautama nesta sexta-feira, a ministra Eliana Calmon resolver fazer um remanejamento na agenda das pessoas que serão ouvidas.

Neste sábado, além do fim do depoimento de Maria de Fátima, apenas o empresário Zuleido Veras será ouvido. Outros sete depoimentos marcados foram transferidos.

Deverão ser ouvidos na segunda Abelardo Sampaio Lopes Filho, engenheiro e diretor da Gautama, Gil Jacó Carvalho Santos, diretor financeiro da construtora, que providenciaria dinheiro para o pagamento de propinas oferecidas a servidores públicos e políticos, e o irmão de Zuleido Veras, Dimas Soares de Veras, que atuaria para o grupo no Piauí. Todos deveriam ter prestado depoimento nesta sexta-feira.

No mesmo dia também deve ser interrogado o filho de Zuleido Veras, Rodolpho de Albuquerque Soares de Veras, dono de uma empresa que seria utilizada para transferir dinheiro para pagamento de propinas. A funcionária da Gautama, Tereza Freire Lima, que supostamente providenciava dinheiro para as propinas, também vai prestar depoimento.

Também será interrogado Henrique Garcia de Araújo. Administrador de uma fazenda do Grupo Gautama, ele transportaria, segundo a PF, dinheiro para as propinas. E teria exercido papel relevante na lavagem de dinheiro obtido pelo grupo. Por meio de compra e venda de gado, a propriedade seria usada para legalizar os recursos obtidos ilicitamente pelos envolvidos no esquema. Completa a lista o funcionário da Gautama João Manoel Soares Barros.

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