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Rio de Janeiro - Especialista no tema da proliferação de armas atômicas, a norte-americana Sarah Diehl avalia que a decisão do Brasil de construir um submarino a propulsão nuclear, em parceria com a França, gera desconfiança internacional. A pesquisadora do James Martin Center for Nonproliferation Studies de Monterrey, Califórnia (EUA), afirma que, se o governo brasileiro quisesse apenas defender suas reservas de petróleo no mar, como alega oficialmente, o país poderia recorrer a modelos convencionais. Para Sarah, o projeto brasileiro suscita perguntas sobre se o país não quer "projetar poder muito além da sua região costeira".

O que significa para o Brasil ter um submarino a propulsão nuclear?

O governo brasileiro e os oficiais da Marinha do Brasil têm argumentado repetidamente que o submarino nuclear é necessário para proteger as reservas de petróleo do país. Surge, porém, em discursos públicos, a impressão de que o Brasil também acredita que um submarino nuclear vai aumentar o prestígio do país. Uma opção mais barata e mais eficiente para proteger os campos de petróleo no mar seria construir ou comprar submarinos a diesel, com propulsão independente do ar, que permite um tempo adicional de cruzeiro submerso. Muitos submarinos desse tipo poderiam ser comprados pelo custo de um submarino nuclear.

O Brasil é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Não participa de guerras desde 1945 e é integrante de operações de paz das Nações Unidas. Por tudo isso, é visto como um país pacífico, sem intenções bélicas. Essa percepção mundial poderia mudar, por causa do submarino nuclear?

Construir um submarino nuclear não vai, por si só, gerar um conflito. Mas realmente suscita perguntas sobre as intenções do país, sugerindo que está procurando projetar poder muito além da sua região costeira, dentro do Oceano Atlântico ou algum outro ponto além.

A construção do submarino nuclear brasileiro poderia causar uma corrida nuclear na América do Sul?

Nesse ponto, há muito poucos países sul-americanos capazes de construir um submarino nuclear ou querendo gastar tantos recursos. Mas poderia estimular outros a comprar silenciosos (e menos caros) submarinos a diesel, como contramedida.

A produção de urânio enriquecido como combustível para o novo submarino poderia causar problemas para o Brasil?

Poderia aumentar o risco de o Brasil sofrer um ataque terrorista ou um roubo de material nuclear. Também poderia suscitar preocupações entre países maiores, de fora da região, sobre se o Brasil está procurando ter um artefato nuclear, o que poderia abalar sua reputação como nação pacífica e afetar suas relações comerciais.

Tantos tratados e garantias não serão mais suficientes como prova do comportamento pacífico brasileiro, se o país construir seu submarino nuclear?

Construir um submarino nuclear não viola nenhum dos atuais tratados, mas realmente trabalha contra os esforços internacionais para reduzir a disseminação de urânio altamente enriquecido e para convencer países como o Irã a não perseguir o enriquecimento de urânio.

O Brasil não assinou o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação, que permite inspeções nucleares mais intrusivas. Se o Brasil tiver um submarino nuclear e fabricar seu próprio combustível, isso poderia causar pressão internacional para que assine esse protocolo?

Vão certamente aumentar essas pressões, embora seja possível atender a essas preocupações com um programa regional de inspeções, por meio da Agência Brasil-Argentina de Contabilidade e Controle de Material Nuclear.

As preocupações internacionais com o submarino nuclear brasileiro já estão crescendo ou isso é para o futuro?

Serão necessários tempo e consideráveis gastos para construir esse submarino. Então as preocupações são relativamente pequenas agora. Elas vão provavelmente crescer no futuro, à medida que o programa avançar.

Como os EUA podem reagir à existência de outro país nas Américas com submarinos a propulsão nuclear?

Até agora, os Estados Unidos não se opuseram aos esforços do Brasil. Mas o governo americano provavelmente acredita que o Brasil poderia estar usando essas verbas para propósitos melhores.

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