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Dias antes de morrer ao lado do namorado Paulo César Farias, Suzana Marcolino comprou um revólver - o mesmo que teria sido utilizado no crime - e praticou tiro ao alvo em um sítio localizado próximo à sua residência, localizada na periferia de Maceió. A revelação foi feita pela prima dela, Zélia Maria Maciel de Souza na manhã desta quarta-feira, 8, em depoimento durante o terceiro dia de julgamento dos quatro policiais acusados de participação na morte do casal. Bastante nervosa, Zélia Maria Maciel afirmou que intermediou a compra do revólver para Suzana, com a empresária Mônica Aparecida Calheiros, que já havia confirmado a venda, por R$ 350, no depoimento prestado nessa terça, 7. "Suzana alegou que queria a arma para se defender, por morava num lugar esquisito e porque costumava chegar tarde da noite em casa", disse a prima.

Segundo ela, antes de fechar negócio, Suzana Marcolino quis testar a arma, fato que se repetiria mesmo depois de efetuada a compra. "Ela foi praticar tiro nuns coqueiros, em um sítio localizado próximo a casa dela", contou Zélia Maria. A prima contou também que só intermediou a compra da arma porque, dias antes, Suzana Marcolino tentou comprar um revólver numa loja, mas não conseguiu, porque o vendedor exigiu uma série de documentos.

Zélia Maria lembrou ainda que Suzana ligou a ela pelo menos duas vezes no mês em que morreria, em junho de 1996. Uma delas, no dia 12 de junho, para dizer que ganhou um joia de ouro e diamantes e um veículo de Paulo César Farias. "Mas ela revelou que estava muito triste, porque tinha acontecido algo que ela precisava contar", disse a prima. Mas Suzana não chegou a revelar. A segunda ligação ocorreu na véspera do crime. Depois de retornar de São Paulo, onde fora fazer um tratamento dentário Suzana Marcolino ligou ainda do aeroporto, para a prima, dizendo que havia chegado e iria para a casa de praia de PC Farias. "Depois eu só soube da morte pela televisão", ressaltou.

Testemunhas

O juiz Maurício Brêda, que preside o Tribunal de Júri, deve ouvir ainda nesta quarta o depoimento dos delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessam, que investigaram a morte do casal na época. Eles foram convocados como testemunhas de juízo, intimadas a depor a critério do próprio magistrado, após o irmão de PC Farias, o ex-deputado federal Augusto Farias, afirmar em seu depoimento nessa terça, que os dois haviam lhe feito a proposta de entregar os quatro seguranças para se livrar do indiciamento.

O crime. PC Farias e Suzana Marcolino foram encontrados mortos a tiros no dia 23 de junho de 1996, na casa de praia do empresário em Guaxuma, no litoral Norte de Alagoas. A tese sustentada pela defesa é a mesma da polícia alagoana, de que Suzana matou PC Farias e depois cometeu suicídio.

Já o Ministério Público acredita em duplo homicídio e acusa os quatro réus de coautoria do crime e omissão, já que faziam a segurança do local onde o casal morreu. São acusados os policiais Reinaldo Correia de Lima Filho, Adeildo Costa dos Santos, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva. Para a promotoria, a morte de PC Farias foi "queima de arquivo". O empresário foi tesoureiro da campanha de Fernando Collor (PTB) era réu em processos por crimes financeiros e foi o centro das denúncias de corrupção que resultaram no impeachment de Collor.

Delegados negam acordo com irmão de PC Farias

Os delegados acusados pelo irmão de Paulo César Farias de tentar "negociar" o indiciamento dos ex-seguranças do empresário negaram nesta quarta-feira (8) qualquer acordo e afirmaram que um jornalista tentou suborná-los em nome da família. O ex-deputado federal Augusto Farias, irmão de PC Farias, disse ontem no julgamento que os delegados Alcides Andrade de Alencar e Antônio Carlos Azevedo Lessa propuseram a ele um acordo para indiciar apenas os ex-seguranças do empresário.

Alencar e Lessa foram os últimos dos quatro delegados que conduziram o inquérito que apurou a morte de PC Farias, 50, e de Suzana Marcolino, 28, em 23 de junho de 1996.

Coube a eles indiciar, em 1999, Augusto Farias e os quatro seguranças de PC, que estão sendo julgados desde segunda-feira, em Maceió. As conclusões deles rebateram o resultado da primeira investigação da Polícia Civil alagoana, de 1996, que apontou a tese de crime passional -a de que Suzana matou PC e se suicidou.O inquérito contra Augusto foi arquivado no STF (Supremo Tribunal Federal) por falta de provas, segundo conclusão do procurador-geral da República à época, Geraldo Brindeiro.

Lessa havia dito à reportagem, na segunda-feira, quando Augusto fez a denúncia à imprensa pela primeira vez sobre o suposto acordo, que havia um "pacto" entre os dois delegados para não falar mais sobre o assunto, a não ser diante da Justiça. "Em nenhum momento ocorreu esse fato", afirmou Alcides Alencar, primeiro a ser ouvido.

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