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Uma decisão que vinha se configurando há alguns dias foi oficialmente confirmada nesta segunda-feira. Depois de lutar em vão para convencer o deputado federal José Dirceu a sair da chapa do Campo Majoritário que vai disputar as eleições do PT dia 18 de setembro, o atual presidente petista, Tarso Genro, decidiu ele mesmo abandonar a disputa. Tarso anunciou em entrevista coletiva que não será mais candidato à presidência do partido.

- A minha proposta era uma transição com ruptura, com as pessoas assumindo responsabilidades políticas. Mas optaram por uma transição negociada e para isso eu não sou adequado - explicou Tarso ao anunciar sua desistência, no diretório do PT em Porto Alegre.

Quase simultaneamente, numa prova de que o partido aguardava apenas o anúncio oficial, o secretário-geral petista, Ricardo Berzoini, foi indicado pelo diretório nacional, em São Paulo, como substituto de Tarso na chapa do Campo Majoritário. Antes mesmo de ser confirmado, Berzoini já falava como possível candidato à presidência do PT.

- Pessoalmente, prefiro que Tarso continue na disputa, mas se ele desistir, boto meu nome à disposição do Campo Majoritário para ser o candidato. Não fugirei a essa responsabilidade - disse.

Em Porto Alegre, Tarso concedeu uma longa entrevista coletiva para explicar sua decisão. E, mesmo elogiando Berzoini, não confirmou se votará no colega ou se escolherá uma das tendências de esquerda do PT na eleição do dia 18.

- Posso dizer, neste momento, que (Berzoini) é um bom quadro político e um companheiro fiel, de boa índole política e que trabalha de maneira política. Tenho extrema simpatia pelo companheiro Berzoini, mas Vou conversar com ele e mais tarde informarei minha posição - declarou Tarso, que também fez elogios às tendências de esquerda do PT.

Na coletiva, Tarso garantiu que cumprirá seu mandato na presidência até a escolha do novo mandatário do partido. Ele falou não só sobre a eleição mas também opinou a respeito da crise política por que passa o PT e o governo. Confira alguns trechos da entrevista:

FUTURO DO PT: "O PT é extremamente forte, e continuará sendo mesmo que mantenha a hegemonia anterior do Campo Majoritário. Até porque essa hegemonia não vai se manter igual ao que era antes, vai sofrer alguma instabilidade. E mesmo com o Campo Majoritário vencendo, o PT vai se recuperar e encontrar os responsáveis por seus erros."

VOTAR NO PT: "Imagina se eu, com 23 anos de luta no PT, diria que não há motivos para votar no PT, com as administrações que o partido já fez nos estados e em tantos municípios, com orçamento participativo e tantas outras políticas públicas. Tenho dezenas, senão centenas de motivos para votar no PT. Inclusive pela coragem de lavar a roupa suja, algo inédito nesse país."

TRANSIÇÃO: "A minha proposta era uma transição com ruptura, com as pessoas assumindo responsabilidades políticas. Até agora, o único responsável é o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT). Acredito que uma transição com ruptura já indicaria isso, que houve mais responsáveis. Mas optaram por uma transição negociada e para isso eu não sou adequado. Talvez o Berzoini seja mais adequado para essa negociação, até por ter sido líder sindical. Claro que eu não quero dizer com isso que eu ache o Berzoini cúmplice do que foi feito pela antiga direção."

POSIÇÃO NO PARTIDO: "Nunca me neguei a conversar com ninguém no partido. Vou buscar todos que queiram se organizar em cima de um programa mínimo de reconstrução do PT, que ajude a construir uma nova cultura política, em que as decisões não sejam feitas por hegemonia quantitativa e sim pela qualidade das propostas. Esses são os companheiros que vou buscar, independentemente da tendência dentro do PT."

PT E O MENSALÃO: "A contabilidade do PT é regular. O problema é a contabilidade paralela, que ninguém conhece. Quem conhece é o pessoal que lidava com isso. Até agora, não há nenhuma prova sobre mensalão. O problema que estamos enfrentando é com as dívidas e com a estrutura paralela de contabilidade, que foi montada às costas da comissão executiva anterior. Pelo menos, de alguns membros da executiva."

DESISTÊNCIA FOI GESTO DE TRAIÇÃO? "Quando me propuseram que eu assumisse a presidência do PT, eu disse para consultarem o presidente Lula. Ele relutou, pois me queria no Ministério da Educação até o fim do seu mandato, mas disse que, se fosse importante para o partido, abriria mão de mim no governo. Então o (senador Aloizio) Mercadante me falou: 'Tarso, você tem que estar já comprometido em ser também o candidato na eleição do PT'. E eu disse que não, que isso deveria ainda ser discutido. Portanto, não há nenhuma surpresa em relação a isso e, mesmo que houvesse, o presidente Lula não teria motivo para se sentir traído."

POLÍTICA ECONÔMICA: "Acho que o ministro (Antonio) Palocci (da Fazenda) e o governo têm uma política econômica forte, responsável e que tirou o país da crise. E é exatamente por isso que eu acho que devemos discutir agora o que fazer a partir da estabilidade macroeconômica."

LULA: "Apesar da crise, o presidente Lula representa o que de melhor nesse país se construiu para governar o Brasil. Estão aí a política de geração de empregos, o Bolsa Família, as políticas educacionais, reconhecidas até pela oposição. Mas o país precisa olhar para a fente e isso significa pensar qual é a política econômica que devemos adotar daqui para adiante."

PARTICIPAÇÃO DE LULA NA TRANSIÇÃO: "Se o presidente tentasse um movimento como esse, de tirar o José Dirceu da chapa, ele estaria equivocado. Ele pode sugerir, dar opinião, mas não pode enquadrar o PT, assim como o PT não pode enquadrar o presidente. Se o presidente Lula enquadrasse o PT, estaria transformando o partido num prolongamento do Estado."

ARREPENDIDO DE TER DEIXADO O MINISTÉRIO? "Não me arrependo de nada, nem mesmo dos erros políticos que possa ter cometido."

PUNIÇÕES NO PT: "Sou a favor de punições, de acordo com o grau de responsabilidade de cada um. Isso deve ser apurado nas instâncias internas do partido e talvez demore mais um pouco. Mas esse processo é o exigível em qualquer instância democrática."

RENOVAÇÃO DO PT: "Não acho que esquerda signifique necessariamente renovação. Mas a esquerda tem suas posições dogmáticas, que são tão sérias quanto as de qualquer outra chapa. Quando eu falo em renovação, isso tem que ser feito por qualquer corrente que venha a ser eleita."

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