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Porto Alegre e São Paulo (AE) – Vencido pelo deputado federal José Dirceu, que não retirou seu nome da chapa do Campo Majoritário, o presidente interino do PT, Tarso Genro, não vai disputar a eleição para a presidência do diretório nacional do PT em 18 de setembro. O novo candidato será o deputado Ricardo Berzoini, atual secretário-geral do partido.

A decisão de desistir da candidatura foi anunciada ontem, em Porto Alegre, numa entrevista em que Tarso evitou falar diretamente de seu descontentamento, mas não deixou de demonstrá-lo nas entrelinhas. Ele considerou a opção de Dirceu e da chapa do Campo Majoritário como legítima, mas não coincidente com a ruptura que pregava para um novo pacto dirigente que renovasse as relações internas do partido, com respeito às minorias e com líderes capazes de convencer pela persuasão e não somente por maioria quantitativa. "Essas condições não são implementadas com a manutenção da chapa como estava", justificou.

Sempre ressalvando que não fazia juízo moral de companheiros – leia-se Dirceu e seus aliados –, Tarso deu a entender que a crise do governo e do PT exige mais do que a formalidade dos processos em andamento nas CPIs e comissões de ética do Parlamento. "A situação que gera esse processo não pode ser superada se não tivermos responsabilidades políticas também", afirmou. Chegou até a comparar as reações físicas e químicas do processo natural, sobre as quais o homem não tem controle, com a política, atividade em que os atos têm sujeitos.

Ao falar de seus planos futuros, fez um discurso que pode ser interpretado como mais uma crítica aos adversários que arranjou na presidência do partido. "Estamos tratando do destino coletivo do país e do partido e não do nosso futuro pessoal", comentou. "Seria muito pequeno nesse momento que nós estivéssemos usando determinados mecanismos do partido para nos proteger pessoalmente".

No único momento em que falou diretamente de Dirceu, Tarso disse que a declaração do deputado, de que preferia morrer a deixar a chapa do Campo Majoritário, sinaliza "o tipo de relação que ele tinha com o sistema de poder (do governo) e ainda mantém com o sistema de poder do partido". E emendou: "São reações emocionais que no fundo sinalizam uma posição política". Destacou, no entanto, que o conflito com Dirceu é expressivo, mas limitado a posições políticas. "Não chegamos a isso e nem pretendemos chegar".

Nova chapa

Ricardo Berzoini começou a sua campanha com um discurso de renovação do partido em tom bem mais baixo e moderado do que o antecessor. Em entrevista na sede nacional do PT, em São Paulo, Berzoini disse que não vai exigir o afastamento do deputado José Dirceu (SP) da chapa que disputará o Diretório Nacional, embora considere isso "desejável", e descartou a hipótese de "ruptura" com a linha política seguida até agora pela legenda.

Em vez de "refundação do PT", como pregava Tarso, Berzoini limitou-se a propor mudanças de "práticas e procedimentos’ errados, que ele concentrou na figura do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. "Não pode haver ruptura com um projeto coletivo de massas que foi fundamental para a democracia brasileira’, disse. "Pode haver ruptura com o comportamento que tiveram o ex-tesoureiro e outros dirigentes."

Sobre a permanência de Dirceu na chapa, motivo da renúncia de Tarso, Berzoini tentou reduzir a importância do episódio. "A presença do deputado não é desejável, mas não é uma questão central. Não coloco como condição para ser candidato porque a construção da chapa é projeto político coletivo."

A decisão sobre a continuação de Dirceu como candidato ao Diretório será tomada por voto secreto nesta sexta-feira, em reunião dos 105 integrantes da chapa do Campo Majoritário, grupo dominante no partido.

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