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De férias no exterior, de onde só deve retornar no início da próxima semana, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), terá de administrar a primeira crise do ano no partido, provocada pelo apoio declarado pela bancada tucana da Câmara à candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP). Ao que tudo indica, esse é apenas um dos muitos dilemas que o PSDB terá de resolver ao longo do ano - e que foram elencados pelo senador numa entrevista exclusiva ao GLOBO, antes de se seu embarque para a Europa - para continuar competitivo nos próximos embates eleitorais.

Depois de assistir à segunda derrota consecutiva do partido pelo comando do Palácio do Planalto, Tasso considera fundamental que a legenda mude sua linguagem elitista por uma mais popular, ganhe uma cara nacional e amplie o espaço de lideranças fora de São Paulo.

O GLOBO. A oposição esperava esse resultado ruim das urnas depois de tantos escândalos enfrentados pelo governo Lula?

TASSO JEREISSATI. Durante este ano tivemos vários momentos diferentes. Uns que pareciam que o governo estava politicamente e eleitoralmente arrasado e outros em que ele parecia absolutamente imbatível. Na nossa avaliação, qualquer governo que tivesse enfrentado o número de escândalos que esse enfrentou, não teria tido sequer condição de tentar a reeleição. Mas é preciso fazer uma reflexão mais profunda do que aconteceu. Essa sensação que há de que se banalizou o escândalo diante da repetição de tantas denúncias. É muito mais um fenômeno de comunicação do que qualquer outra coisa. Com a massificação quase de uma denúncia nova por semana, a corrupção e o escândalo deixaram de ter valor do ponto de vista de julgamento da opinião pública que teria em circunstâncias normais.

. Será que prevaleceu aquela máxima que dizia ‘rouba, mas faz’?

TASSO. Não propriamente o rouba, mas faz. Mas sim a de que todo mundo rouba. O Lula conseguiu, a meu ver, aproveitar a técnica do judô, de usar a força do outro como arma, e usar a massa de denúncias para generalizar, passando para a opinião pública que todo mundo faz. Isso é péssimo, porque passou para os brasileiros a idéia de que todos nós somos corruptos. Igualou todo mundo. A corrupção não teve força como elemento de julgamento na hora do voto do eleitor.

. A oposição cometeu um erro ao não ter proposto o impeachment quando teve nas mãos elementos para embasar esse processo?

TASSO. Eu até hoje acho que não. Considero que fomos responsáveis quando não quisemos o impeachment. Embora tívessemos elementos jurídicos, não havia condições políticas para isso. Nós poderíamos jogar o país num momento de desequilíbrio e desordem. E isso não era o que queríamos.

. E neste segundo mandato do presidente Lula, como a oposição vai se posicionar?

TASSO. Ao contrário da percepção geral, a oposição vai ser mais rigorosa. Na primeira metade do mandato do presidente Lula havia uma expectativa no Brasil de que seu governo significasse um governo de mudanças e trouxesse para o poder um setor diferente da população, com mais ética e mais próximo dos valores que eles pregaram quando eram oposição. Até nós da oposição enxergávamos Lula como alguém que deveria ser respeitado pela sua história e pelo que representava naquele momento. Ninguém imaginava que o PT no governo fosse capaz de cometer os descalabros que cometeu. Agora não, temos um governo inteiramente desacreditado e o próprio presidente sem credibilidade.

. Mesmo depois de ter recebido mais de 58 milhões de votos?

TASSO. Com voto, mas sem credibilidade. Se ele pregava que era diferente dos outros, agora admite que é igual aos outros.

. O senhor acha que o governo de coalizão que ele está propondo não vai dar certo?

TASSO. Não vai funcionar porque não é em torno de um programa, mas é a continuação do fisiologismo explícito, em troca de cargos, de interesses e isso não se segura num governo que já começa com a metade de sua força. Toda base do governo é fisiológica, porque o presidente vai entrar no seu segundo governo sem ter um programa a propor.

. Há espaço para a oposição conversar com o governo?

TASSO. Para conversar, nós estamos sempre prontos. Sobre qualquer assunto ou projeto de interesse nacional. Agora, mais do que nunca, com este governo cheio de escândalos, o país precisa de uma oposição forte e rigorosa. O país continuará à deriva, sobretudo em relação aos dois principais sustentáculos de um governo, que é a competência e a moral, um perigo para as instituições democráticas.

. A aliança que o PSDB manteve até agora com o PFL deve continuar?

TASSO. Nós só vamos fazer uma oposição forte se continuarmos unidos. PSDB e PFL unidos têm, especialmente aqui no Senado, uma força enorme. Se nos separarmos, vamos nos enfraquecer e vai ser um erro grave que vamos cometer diante da nossa responsabilidade. Não vejo essa possibilidade. O que pode acontecer é daqui a quatro anos cada um tomar o seu rumo e ter seu próprio candidato à Presidência.

. Com o PMDB unido apoiando o governo, não dificultará a ação da oposição?

TASSO. O PMDB é um partido que tem se caracterizado por ter o poder, sem ganhar a Presidência da República. É uma estratégia que vem usando e tem dado certo. No Congresso, preocupa-se em fazer maioria e lá se torna interlocutor das grandes cooptações e dessa maneira vai sempre tendo um papel fundamental seja qual for o governo. Esse tem sido o papel do PMDB desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

. Quais são os planos do PSDB para 2010? O partido corre o risco de se dividir mais uma vez entre dois candidatos?

TASSO. Ter mais de um candidato não é problema. Problema é não ter nenhum candidato.

. Mas isso tem dividido o partido internamente...

TASSO. Isso acontece com todos os grandes partidos no mundo. O PSDB é um dos partidos que mais têm aprendido a conviver com a disputa interna. Acredito que em 2010 vamos ter uma nova disputa interna, porque temos quadros, mas vamos estar melhor do que em 2006.

. O senhor acha que o PSDB ainda é um partido muito paulista?

TASSO. O problema é que todos os candidatos a presidente do PSDB desde sua fundação foram paulistas. Mas é bom se fazer justiça ao meu Ceará, que já foi 35% da bancada federal, o único governo, 70% dos prefeitos e assim vai. O PSDB veio a crescer depois da candidatura do Fernando Henrique em 1994 e passou a ter uma percepção de ser um partido muito paulista. E isso precisa ser corrigido, porque o partido precisa ter uma cara mais nacional.

. Para isso, o senhor acha que o próximo candidato do partido à Presidência não teria de ser fora de São Paulo?

TASSO. O PSDB não tem só dois nomes (referência a José Serra e Aécio Neves), mas tem lideranças que estão despontando no país inteiro como Yeda Crusius. Mas é bom que a gente coloque na discussão não só os nomes de São Paulo. Precisamos falar mais a linguagem nacional, mais popular.

. A idéia de se rediscutir o programa partidário do PSDB, que deverá ser coordenado pelo ex-presidente Fernando Henrique, acabou abrindo também a discussão sobre a sua sucessão no comando do partido...

TASSO. É evidente que o olho de sucessão no partido é decorrente da pré-disputa para a sucessão à Presidência da República. Porque acham que, se alguém tomar o comando do partido, vai controlar a escolha da sucessão. Mas essa é uma percepção rasteira de alguns. Não me parece que a percepção da grande maioria, porque se o partido não sair unido, com idéia de consenso, não vai ser a imposição de um ou outro comando é que vai fazer que o PSDB venha a ganhar as eleições. Acho que não é hora de ter tanta sede para ir ao pote.

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