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Apesar de o virtual governo Temer já contar aparentemente com uma ampla base de apoio na Câmara dos Deputados, o peemedebista precisaria trabalhar constantemente para mantê-la | ASCOM/VPR
Apesar de o virtual governo Temer já contar aparentemente com uma ampla base de apoio na Câmara dos Deputados, o peemedebista precisaria trabalhar constantemente para mantê-la| Foto: ASCOM/VPR

O vice-presidente da República Michel Temer (PMDB), caso assuma a cadeira máxima do Executivo daqui uma semana, vai iniciar sua gestão com uma base de apoio confortável na Câmara dos Deputados. Na conta básica, feita a partir do resultado da votação do impeachment na Casa no último dia 17, Temer já teria o apoio de ao menos 367 dos 513 deputados federais. Aliados próximos de Temer asseguram que o número agora é maior. Parte da ala derrotada na votação sobre o futuro do governo Dilma já abriu diálogo com o vice.

O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) alerta, contudo, que o número de apoiadores do impeachment não pode ser naturalmente transferido a Temer. Por outro lado, já é possível calcular com segurança o tamanho da possível bancada de oposição, formada pelo PT, PCdoB, PDT, Psol e Rede Sustentabilidade, e que estaria sólida contra o vice. Juntas, as cinco siglas sustentam cerca de 100 deputados federais.

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Há ainda outro critério para se especular sobre o tamanho da base de sustentação de Temer. Até aqui, lembra o analista político do Diap Antônio Augusto de Queiroz, Temer tenta reunir cerca de 350 parlamentares com as nomeações que já articula para a Esplanada dos Ministérios, a partir de indicações de partidos políticos. “Estes 350 representariam o chamado “apoio consistente”. Outros 60 parlamentares mais ou menos devem integrar o “apoio condicional”, ou seja, são políticos que eventualmente podem dar apoio a Temer dependendo do conteúdo político da matéria em votação, do acolhimento de emendas, de nomeação a cargos de segundo ou terceiro escalão. Ou seja, se houver dissidentes na sua base formal, ele ainda tem uma margem de manobra”, explica ele.

Historicamente, o apoio consistente de Temer seria expressivo. Estudo do Diap aponta que, desde o governo Collor, o peemedebista pode ter a mais numerosa base de apoio, só semelhante ao quadro do início do primeiro mandato da presidente Dilma, em 2010. Naquele ano, a petista registrava 351 apoios consistentes, 51 apoios condicionais e 111 opositores. “Mas há uma diferença nas duas bases, de Dilma e Temer. A presidente Dilma era sustentada por uma base com divergências ideológicas extremas. Temer teria uma base mais homogênea, mais uniforme”, pontua o analista político.

Todos os outros presidentes da República iniciaram seus mandatos com uma base de apoio consistente menor: Collor tinha 160 deputados federais ao seu lado; Itamar, 250; FHC, 290 no primeiro mandato e 260 no segundo mandato; e Lula, 207 no primeiro mandato e 291 no segundo mandato.

Embora tenha iniciado seu primeiro mandato com 351 apoios consistentes, a presidente Dilma começou o ano de 2015, já no seu segundo mandato, ao lado de 304 deputados federais, além de 33 apoios condicionais e 176 opositores. Desde então, a base foi se desmantelando. Na votação do impeachment na Câmara dos Deputados, Dilma contou com o apoio de praticamente a metade da sua base original: foram 137 votos contra o impeachment, além de sete abstenções e duas ausências.

Agenda complexa

Apesar de o virtual governo Temer já contar aparentemente com uma ampla base de apoio na Câmara dos Deputados, o peemedebista precisaria trabalhar constantemente para mantê-la, diante de uma agenda complexa de matérias que pretende levar para a Casa. No documento “Uma Ponte para o Futuro”, lançado no ano passado pelo PMDB de Temer e considerado hoje como uma espécie de “plano de governo”, há uma proposta de ajuste fiscal ainda mais severa do que aquela que a presidente Dilma tentou emplacar no ano passado, sem sucesso.

A necessidade de uma “ampla maioria” é reconhecida no próprio documento. “Nosso desajuste fiscal chegou a um ponto crítico. Sua solução será muito dura para o conjunto da população, terá que conter medidas de emergência, mas principalmente reformas estruturais. É, portanto, uma tarefa da política, dos partidos, do Congresso Nacional e da cidadania. Não será nunca obra de especialistas financeiros”, diz trecho.

Para Antônio Augusto de Queiroz, analista político do Diap, Temer tem “mais compreensão sobre a necessidade de dialogar com o Legislativo” e deve dar autonomia aos políticos que farão a ponte com o Executivo. “A presidente Dilma não deu autonomia e ela tem um certo preconceito com um pessoal que ela acha que não tem compromissos republicanos”, comenta ele, ao ser questionado sobre a capacidade do peemedebista para viabilizar uma pauta complexa.

Do outro lado

O currículo de Temer no Legislativo é extenso. Ele já foi eleito para cumprir seis mandatos como deputado federal e, em três ocasiões, ocupou a cadeira máxima da Câmara dos Deputados. No final de 1996, para se eleger presidente da Casa, Temer concordou em trabalhar a favor da emenda que garantiu a reeleição do chefe do Executivo, beneficiando o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

Temer terá 10 mil cargos ocupados por petistas para oferecer a aliados

Filiados ao PT ocupam cerca de 10% dos cargos comissionados do governo federal. Estimativa feita pelo Núcleo de Dados do jornal O Globo aponta que há em torno de 10 mil petistas entre os 107.121 funcionários que ocupam cargos comissionados no Executivo federal. Caso a presidente Dilma Rousseff seja afastada pelo Senado nesta semana, parte desses cargos de segundo e terceiro escalões entrará na partilha feita pela equipe do vice-presidente Michel Temer para partidos aliados.

A estimativa foi feita a partir do cruzamento de nomes de filiados ao PT, disponível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a lista de servidores comissionados do Portal da Transparência do governo federal. O levantamento inclui servidores concursados que também ocupam cargos de confiança. Por conta de disparidades entre dados do TSE e do Executivo, a lista pode conter homônimos. Ainda assim, os números encontrados podem estar abaixo do real tamanho da fatia petista na administração federal, pois não estão contemplados cargos de confiança de indicados pelo PT que não são filiados.

A maior concentração de petistas está no Ministério do Desenvolvimento Agrário (25% do total de cargos comissionados). A pasta responsável por políticas fundiárias e agricultura familiar é comandada pelo partido desde 2003, quando Lula assumiu a Presidência. Quadros do PT integram também a presidência e parte da direção do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que concentra 75% do orçamento do ministério.

Na última reunião do seu Diretório Nacional, em 19 de abril, o partido decidiu não reconhecer a legitimidade de um possível governo Temer. A tendência, segundo dirigentes, é que filiados e apoiadores deixem cargos comissionados caso Dilma seja afastada.

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